Ela sempre se posicionou politicamente. Nesta semana, recebeu ataques após declarar que quem apoia Jair Bolsonaro em 2022 é ‘ou escroto ou burro’. Militantes propuseram boicote aos restaurantes da chef, mas movimento segue normal. A chef de cozinha argentina, Paola Carosella, dona de um restaurante na Zona Oeste de SP.
Acervo pessoal
A chef Paola Carosella sofreu ataques virtuais nesta semana após afirmar que quem apoia o governo de Jair Bolsonaro (PL) em 2022 é “escroto” ou “burro”. Militantes bolsonaristas propuseram um boicote aos restaurantes dela em São Paulo, que acabou fracassado.
Esta não é a primeira vez que a chef nascida na Argentina e naturalizada brasileira se posiciona politicamente. Em suas redes sociais, são comuns os comentários críticos à alta do preço dos alimentos provocada pela inflação e ao uso indiscriminado de agrotóxicos. Carosella é também ativista na defesa da democratização do acesso à alimentação saudável e de outras pautas relacionadas aos diretos humanos (leia mais abaixo).
O restaurante Arturito também foi alvo dos ataques após as declarações mais recentes de sua proprietária. Detentor de uma estrela Michelin (conceituado guia gastronômico), o restaurante despencou para avaliação de apenas 1,7 estrela no Google após uma enxurrada de comentários negativos de bolsonaristas.
Nesta quinta-feira (26), a classificação voltou ao patamar anterior, com 4,6 estrelas do máximo de 5. Em nota, o Google afirmou que tomou medidas imediatas para remover conteúdos “que violam suas regras”. Uma das ações é analisar a localização do usuário que escreveu a avaliação para saber se esteve, de fato, no restaurante.
“Temos políticas claras que proíbem conteúdo falso e fraudulento e nossos sistemas automatizados e equipe de pessoas treinadas trabalham contra o relógio para monitorar o Google Maps com o objetivo de identificar comportamento suspeito. Encorajamos nossos usuários a denunciar locais e recomendações que suspeitem ser falsas, o que nos ajuda a manter as informações no Google Maps autênticas e confiáveis”, diz o texto.
Restaurante Arturito, da chef Paola Carosella, em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo.
Marina Pinhoni/g1
O g1 esteve no Arturito nesta quinta-feira e constatou que o movimento estava normal. Devido à grande procura, a próxima data disponível para uma reserva é para daqui a um mês. Segundo funcionários, algumas mesas são disponibilizadas diariamente para quem não tem reserva, mas é preciso chegar cedo para não enfrentar filas.
Unidade da La Guapa em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo.
Marina Pinhoni/g1
O g1 também foi a unidades da La Guapa, rede de cafés que serve empanadas e doces latinos artesanais e também pertence a Carosella. O movimento de clientes também era normal nesta quinta. Uma funcionária, que preferiu não se identificar, afirmou que não houve queda na procura, mas relatou que houve algumas ligações para a loja com xingamentos de bolsonaristas insatisfeitos com a chef.
Biografia
Paola Carosella tem 49 anos. Ela nasceu na Argentina em 1972, em uma família de imigrantes italianos. “Cresci na horta, no pomar, rodeada de galinhas e coelhos. A cozinha sempre foi e continua sendo o meu lugar preferido da casa, do mundo inteiro”, diz em perfil em seu site oficial.
Ela começou a trabalhar em cozinhas profissionais em Buenos Aires em 1992, logo após terminar o ensino médio. Mudou-se para São Paulo em 2001, para abrir e dirigir a cozinha do Figueira Rubaiyat junto a Francis Mallmann e Belarmino Fernandes Iglesias.
Em 2008, abriu o Arturito, especializado em comida mediterrânea. Em 2014, abriu junto com seu sócio Benny Goldenberg o La Guapa, que hoje possui 27 unidades na capital paulista e em algumas cidades do interior de São Paulo.
Foi também jurada do programa Masterchef Brasil, na Band, entre 2013 e 2020. Em 2020, apareceu em lista da revista Forbes entre as 20 mulheres mais poderosas do Brasil.
No ano passado, Carosella, que já era residente permanente há anos no país, afirmou em entrevistas que decidiu se naturalizar brasileira para poder exercer o direito de voto.
Ativismo
Paola Carosella durante ato no Congresso Nacional.
Reprodução/Instagram
Em março deste ano, Paola Carosella participou de uma manifestação convocada por Caetano Veloso em Brasília, em frente ao Congresso Nacional, contra projetos de lei que ameaçam o meio ambiente.
“Democracia não é palavra, é ato. Se não exercido, morre. Plantar comida tem que ser semente para um mundo sadio e não semente da destruição”, disse no Instagram na ocasião.
Também é assunto recorrente nas suas publicações nas redes sociais o preço dos alimentos, que dispararam com a alta da inflação neste ano.
“Amores, não adianta ficarem bravos comigo porque ensino uma receita de bolo de cenoura e a cenoura está cara. Lembra que eu te falei que tudo é política? Se você quer comida de verdade acessível pro povo, reclama nas urnas”, disse a chef.
Paola Carosella faz post com críticas ao governo Bolsonaro e à inflação.
Reprodução/Instagram
Em 2021, Paola também participou da inauguração de uma cozinha solidária do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), ao lado do líder do movimento e ex-candidato à prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL). O projeto distribui refeições gratuitas em periferias de vários estados do país.
Em 2015, quando estudantes secundaristas ocuparam escolas em São Paulo em protesto contra o fechamento de unidades, a chef cozinhou para alunos na Escola Estadual Fernão Dias Paes.
Além da questão alimentar, Paola também já se posicionou em mensagens que tratam outros temas de defesa dos direitos humanos, como terras indígenas, combate à exploração sexual infantil e defesa da vacina contra a Covid-19 no auge da pandemia.
Paola Carosella cozinha para estudantes que ocuparam a Escola Estadual Fernão Dias Paes em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, em 2015
Leonardo Benassatto/Futura Press/Estadão Conteúdo
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