operação foi “ínfima” para o CV, mas demonstrou presença do Estado

O subsecretário de Inteligência da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PM-RJ), Daniel Ferreira de Souza, afirmou que a megaoperação realizada na semana passada nos Complexos da Penha e do Alemão teve um grande impacto simbólico sobre o crime organizado, mas um efeito prático “ínfimo” no enfraquecimento do Comando Vermelho. A ação resultou na prisão de 113 pessoas e na morte de 121, a maioria deles ligada à facção, segundo as autoridades do estado.

Souza afirmou que a operação foi fundamental para demonstrar a presença do Estado em áreas dominadas pelo crime, mas não chegou a desestruturar o poder do Comando Vermelho.

“Aquela grande operação teve um resultado impressionante à vista dos números, mas que ainda assim foi algo ínfimo dentro do poder do Comando Vermelho e das outras facções na estrutura do Rio de Janeiro. Então, isso não resolveu”, afirmou o subsecretário nesta quarta (5) em uma sessão da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI) no Senado.

O oficial ressaltou que o objetivo principal da ação era mais simbólico do que efetivamente prático, ou de reafirmar que o Estado ainda tem o controle territorial sobre comunidades dominadas pelo tráfico. Isso porque, de acordo com ele, havia uma falsa crença de que a “ADPF das favelas”, uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que limitava o uso da força policial nas comunidades, teria sido criada em locais onde o poder público não poderia entrar.

O Comando Vermelho, de acordo com Souza, utilizou essa narrativa para se expandir e cooptar criminosos de outras regiões do país. Segundo ele, entre os alvos da operação havia tráfego vindo do Pará, Bahia, Ceará e Amazonas.

Para o governo fluminense, a demonstração de força das forças de segurança serviu para reverter o discurso de que o Estado não teria condições de atuar em determinadas áreas. O oficial defendeu a continuidade das operações e a ampliação da integração entre forças estaduais e federais para enfrentar o crime organizado.

“Se essa operação não vai resolver o problema, nós sabemos que não vai, ao mesmo mostrou que a retórica que o Comando Vermelho usava para conseguir converter e atrair lideranças do Brasil foi subvertida e o Estado entra em qualquer lugar de fato”, enfatizou Daniel Ferreira.

Ele ainda frisou que o Rio de Janeiro já tem o apoio do governo federal na segurança pública do estado, mas é preciso aumentar a integração das forças.

“Se o Brasil não se ver como um país que possui países e Estados dentro do próprio Estado, talvez fiquemos fadados a muitos problemas e talvez mortes de brasileiros”, alertou o subsecretário.

Um dia depois da megaoperação, os governos do Rio e federal realizaram um “escritório extraordinário” para o compartilhamento de informações e desburocratização de rotinas para dar uma resposta à população sobre o combate ao crime organizado. Ao mesmo tempo, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, cobrou explicou sobre a legalidade da ação.