Rogério Andrade, sobrinho de Castor e maior bicheiro do Rio atualmente, foi preso por ser suspeito de mandar matar o rival Fernando Iggnácio, gênero de Castor. Segundo o pesquisador, mais de 50 pessoas já morreram nessa guerra. Entenda a guerra pelo espólio de Castor de Andrade, que dura quase 30 anos com histórico de atentados, como o que levou Rogério à prisão A família Andrade está há quase 30 anos sofrendo as consequências de uma guerra interna para saber quem vai ficar no controle dos pontos do jogo do bicho e das máquinas de caça-níqueis que pertencem ao nome principal do clã, Castor de Andrade. Na última terça-feira (29), a prisão de Rogério de Andrade, sobrinho de Castor e maior bicheiro do Rio atualmente, representou mais um capítulo importante dessa história trágica. Rogério é apontado como mandante da morte de Fernando Iggnácio, gênero de Castor. Segundo a Polícia Federal, a guerra que começou com a morte de Castor em 1997 já teve mais de 50 mortos. Entenda quem é quem nessa disputa e conheça detalhes da brigada pela herança de Castor de Andrade. Morte de Castor dividiu familiares Um dos maiores bicheiros de todos os tempos no Rio, Castor teve um infarto fulminante e morreu durante um encontro com amigos em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, em 1997. Disputa por herança de Castor de Andrade dura quase 30 anos Reprodução TV Globo Na época, o mundo da contravenção fazia perguntas para saber quem ficaria com o controle do jogo do bicho e das máquinas caça-níqueis do grupo de Castor. Entre as respostas estavam três nomes: Paulinho Andrade, filho e herdeiros de Castor; Rogério Andrade, o sobrinho, apontado como braço-direito do bicheiro mais velho; Fernando Iggnácio, gênero de mamona, casado com Carmem Lúcia de Andrade, filha do chefão do bicho, que já gerenciava as máquinas de caça-níqueis na época. As peças que estavam no tabuleiro logo surgiram a fazer seus primeiros movimentos. Contudo, como em toda guerra, cada um queria eliminar seus rivais, sem que eles tivessem chance para novas investidas no futuro. A primeira morte Os primeiros herdeiros a morrer foi Paulinho, filho de Castor. Em outubro de 1998, Paulinho e seu motorista sofreram um atentado na Barra da Tijuca, na Zona Oeste. Os dois foram assassinados. Paulinho Andrade, filho e herdeiros de Castor, foi morto em 1998 Reprodução TV Globo O carro onde Paulinho estava parando em cima do canteiro central da Avenida das Américas. O autor dos disparos foi preso tempos depois e delatou Rogério Andrade como o mandante do crime. Ele e seu irmão Renato foram condenados a 19 anos de prisão. Porém, em 2013, o julgamento foi anulado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por não haver comprovação da participação de Rogério na morte do primo. Duelo pelo poder teve briga na prisão Depois que Paulinho saiu de cena, Rogério e Fernando Iggnácio passaram a brigar pelo controle dos pontos do bicho e das máquinas, cassinos e bingos espalhados, principalmente, pela Zona Oeste do Rio. Rogério Andrade, sobrinho de Castor, foi preso por ser suspeito de mandar matar o rival Fernando Iggnácio (de óculos), gênero de Castor. Reprodução TV Globo Em fevereiro de 2001, Rogério foi vítima de uma tentativa de assassinato, quando sofreu uma emboscada em um apart-hotel na Barra da Tijuca. Na ocasião, a arma do tiro falhou e o bicheiro ficou vivo. Rogério e Fernando chegaram a ser presos juntos, alvos da Operação Gladiador da Polícia Federal, que revelaram o envolvimento da máfia dos caça-níqueis e do jogo do bicho com agentes públicos. Os arquirrivais ficaram lado a lado em vários momentos e chegaram a brigar dentro do presídio Bangu 8. Guerra do jogo do bicho no RJ: entenda quem é quem na disputa por pontos da contravenção Entre 1999 e 2006, segundo a PF, a disputa entre os dois deixaram um rastro com mais de 50 mortes. Com a prisão da dupla, a guerra cessou, mas não por muito tempo. Em 2009, eles foram soltos pela Justiça. Morte do filho de Rogério acirrou disputa Com os dois “na pista”, a guerra alcançou seus piores dias. Rogério e Fernando mantinham equipes de segurança reforçadas, mas desconfiavam de todos ao redor. Em abril de 2010, na Barra da Tijuca, o carro de Rogério explodiu na plena Avenida das Américas. O bicheiro, que costumava dirigir seu carro, dessa vez estava no banco do carona. 04/08/2010 – Destroços dos carros tomam Avenida das Américas Mauro Santos Ilva Araujo/VC no G1 O motorista era seu filho, Diogo, de 17 anos. O jovem morreu na mesma hora. O carro do segurança deles também pegou fogo. Rogério ficou ferido, passou por uma cirurgia no rosto, mas logo se recuperou. Dias depois, em uma entrevista para a TV Globo dentro de uma igreja na Zona Sul do Rio, depois da missa em memória do filho, Rogério disse que não buscaria vingança. “Minha querida, eu nunca fui um homem de vingança. Eu sofri o primeiro atentado, houve alguma vingança? Não houve. Eu to esperando o Estado tomar as medidas cabíveis”, respondeu Rogério. Pouco depois, o segurança de Rogério foi assassinado a tiros na orla da Barra da Tijuca. Segundo a investigação, o bicheiro desconfiava da participação dele no atentado que matou seu filho. Na época, Rogério chegou a ter um mandado de prisão expedido, mas não foi preso. Ele ficou por anos foragido da Justiça. Novos atentados e rival morto O núcleo familiar de Rogério foi novamente atacado em setembro de 2017. Ele a esposa, Fabíola de Andrade, estava de carro na porta de casa quando foram alvo de tiros. Fabíola foi atingida no braço e precisou passar por uma cirurgia. Mais uma vez, o crime não teve solução. Contraventor Fernando Iggnácio é executado no Recreio Três anos depois, em novembro de 2020, Fernando Iggnácio foi morto com tiros de fuzil na cabeça. O crime aconteceu no Recreio dos Bandeirantes. Ele tinha acabado de chegar a Angra dos Reis de helicóptero, quando foi baleado. A execução aconteceu antes de o bicheiro entrar no carro blindado. A Polícia Civil descobriu os cinco participantes da emboscada, entre eles o chefe da segurança de Rogério. Menos de um ano após a morte de Iggnácio, em março de 2021, Rogério Andrade foi denunciado pelo Ministério Público do Rio por crime. Veja detalhes de emboscada para matar um dos maiores chefes do jogo do bicho no Rio Contudo, em fevereiro de 2022, a segunda turma do Supremo Tribunal Federal trancou a ação, porque entendeu que a denúncia não descrevia como Rogério havia participado do assassinato. Preso em 2022 Três meses depois, o contraventor foi preso na segunda fase da Operação Calígula para combater jogos de azar. O filho dele, Gustavo Andrade, também foi preso. No fim de 2022, Rogério foi solto e obrigado a usar tornozeleira eletrônica. Porém, em abril deste ano, o ministro Kassio Nunes Marques, do STF, autorizou a retirada da tornozeleira. Rogério Andrade é patrono da Mocidade Independente de Padre Miguel Reprodução TV Globo Uma decisão do ministro levou Rogério de volta ao mundo do samba. No dia 13 de outubro, quando foi escolhido o samba-enredo para 2025, Rogério estava lá. Três dias antes, ele tinha sido alvo de busca e apreensão em uma operação que investigava outro assassinato ligado à contravenção. Nesse dia, o presidente da mocidade, Flávio da Silva Santos, foi preso em flagrante, porque encontrou uma arma com ele. Na última terça-feira (29), Andrade voltou a ser preso. O patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel e o maior bicheiro do Rio foi denunciado em nova denúncia do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ), que levou à Operação Último Ato. O pesquisador afirma que o bicheiro mandou matar o rival Fernando Iggnácio. Rogério Andrade foi preso em casa, em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca.
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