Em uma semana, foram registrados 18 assaltos violentos pela equipe da TV Globo na praça de acesso à CPTM pelo Largo da Concórdia. Além de roubarem as vítimas, os criminosos imobilizam as vítimas e batem nelas. Flagrantes mostram ação de gangue que aplica ‘mata-leão’ para roubar pedestres no Brás
TV Globo
Flagrantes exclusivos registrados pelo Bom Dia São Paulo, da TV Globo, ao longo da última semana mostram que, durante a noite e a madrugada, uma quadrilha – que conta com homens e mulheres – assalta diversas pessoas no entorno da estação Brás da CPTM, no Centro de São Paulo.
Nas imagens, é possível ver o clima de terror que vivem os trabalhadores da região. Além de roubarem todos os pertences das vítimas, os criminosos imobilizam as vítimas pelo pescoço – numa espécie de ‘mata-leão’ – e, depois, batem nelas.
Todos os crimes no Brás ocorreram na praça do Largo da Concórdia que dá acesso à estação da Linha 12-Safira. Em seis dias foram flagrados dezoito assaltos violentos, sem falar nos roubos que não foram registrados pelas câmeras.
O produtor da TV Globo presenciou pelo menos dez crimes por noite no mesmo local.
Uma das vítimas da quadrilha conta que foi assaltada e agredida no primeiro dia de emprego novo na região e que, após as agressões, tem dificuldades de fazer coisas básicas como comer, tomar banho e enxergar.
“Não posso sorrir, não enxergo. Tenho dificuldade para comer, tenho dificuldade para tomar banho, tenho dificuldade para andar, meus braços doem muito, minhas costas doem muito, meu peito dói muito. E tenho dificuldade pra dormir também”, disse o homem, que tem medo de se identificar.
O rapaz é o que aparece no vídeo de jaqueta preta e mochila, voltando pra casa, por volta da meia noite. Nas imagens é possível ver que uma mulher da gangue sinaliza para os comparsas, indicando que ele será a vítima.
Rapidamente a quadrilha entra em ação. Os ladrões então seguem o rapaz. Ele é enforcado e jogado no chão.
“Aí eles começaram a me chutar me chutar me chutar . E pegaram meu celular, pegaram minha carteira, pegaram tudo. Eu comecei a chutar a perna deles enquanto estava no chão e aí eles começaram a me bater mais. Na hora que foram puxar a bolsa, eu segurei e puxei e não queria deixar de jeito nenhum. E eles me chutaram mais. Rasgou a alça da bolsa e eles levaram. Ainda falaram pra mim: ‘não vem atrás’”, contou a vítima.
Vítima precisou sair de cadeira de rodas após agressões em assalto no Brás
TV Globo
Presença da PM e aumento da violência
Mesmo machucado, o rapaz conseguiu andar até uma base da polícia, que fica a 200 metros do local do assalto. No local, ele esperava ter ajuda. Mas ficou duas horas deitado na calçada, esperando uma ambulância.
Segundo a vítima, os policiais disseram que não podiam sair da base e ainda perguntaram se ele estava bêbado.
Vítima da gangue do Brás aguarda chegada da ambulância por duas horas em frente à cabine da Polícia Militar na região, sem receber ajuda dos policiais.
Reprodução/TV Globo
O homem foi apenas mais uma vítima da violência em São Paulo. Em junho, os roubos aumentaram seis por cento, na comparação com o ano passado. Foram mais de 20 mil casos registrados em todo o estado.
Na capital, aumento ainda maior: 15%.
Em outra imagem flagrada pela reportagem, um grupo de homens parecem só conversar. Segundo a polícia, todos fazem parte de uma mesma quadrilha.
Um casal é surpreendido por esses criminosos. Enquanto um deles dá socos e chutes na cabeça do rapaz, outros três pegam celular e carteira. Em seguida, o trio foge.
Outra vítima trabalha em uma lanchonete do bairro. ele estava chegando ao serviço quando foi surpreendido. O bandido, vestindo roupa branca, dá um soco no rapaz. Levaram o celular e o uniforme do trabalho.
“[Roubaram] só a minha roupa de trabalho e o meu celular. Ainda bem que não levaram o bilhete, porque é a única coisa que eu tenho. Na hora, ele deu três socos. Eu nem acreditei”, contou.
Bancas de comida como esconderijo
As banquinhas de comida, que durante o dia ficam cheias de gente, ganham outro uso quando escurece. Os chefes da gangue se escondem do patrulhamento da polícia atrás dessas barracas de comida, como o homem que aparece em quase todos os flagrantes de violência.
As vítimas relatam que diante de tanta brutalidade, o maior prejuízo não é financeiro.
“Estou sem dignidade. Roubaram todos os meus documentos, roubaram meus celulares, roubaram minha bolsa, roubaram minha dignidade. Roubaram tudo”, disse.
Homem que aparece em quase todos os flagrantes de violência no Brás
TV Globo
O que dizem as autoridades
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) diz que o policiamento e as ações de investigação na região do Largo da Concórdia foram intensificados para identificar e prender assaltantes na região.
A pasta afirmou ainda que, em 2022, ao menos 325 suspeitos foram presos por praticarem roubos na região central da cidade. Cinco deles na região da delegacia responsável pelo Largo da Concórdia.
A Polícia Militar afirmou que não há registros de roubos como os mostrados na reportagem no período entre 17 e 24 de julho no Largo da Concórdia, mas, para evitar práticas delituosas nessa região, são realizadas ações policiais todos os dias, inclusive com efetivo da diária especial por jornada extraordinária de trabalho.
Segundo a PM, são realizadas buscas pessoais com revistas e apreensões de armas.
A corporação diz ainda que bastante gente foi presa em flagrante no 1o semestre na região da reportagem: 46 pessoas por furtos, 40 por roubos, 18 por receptação, 54 por lesão corporal e 2 por tentativa de homicídio.
Tanto a SSP quanto a PM destacam que é essencial registrar os casos de roubo, furto ou violência na delegacia. As vítimas podem fazer isso pela delegacia eletrônica, registrando boletim de ocorrência ou pelo telefone 190.
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