Analisamos como a pressão das redes sociais e a cultura da perfeição levam à descaracterização individual.
Por Dr. Marco Flávio Mastrandonakis – Médico Cirurgião Plástico
A busca pela beleza e pela aceitação social é uma constante na história humana, mas a era digital impôs uma nova e perigosa dinâmica a essa jornada.
O que antes era um desejo por aprimoramento pessoal transformou-se, em muitos casos, em uma busca frenética pela padronização, impulsionada pelo que chamo de “Efeito Manada da Estética“.
Este fenômeno é catalisado pelas redes sociais, onde a figura do influenciador digital atua como um molde de beleza inatingível e, paradoxalmente, replicável. Vemos uma proliferação de rostos e corpos que, após uma série de procedimentos estéticos, se tornam indistinguíveis. O objetivo deixa de ser realçar a beleza única de cada indivíduo e passa a ser a despersonalização, a anulação das características que definem a identidade.
A Tirania do Algoritmo e a Perda da Individualidade
A despersonalização estética é o resultado direto da cultura da perfeição alimentada pelos algoritmos. As imagens de “antes e depois” e os corpos “ideais” são constantemente reforçados, criando uma pressão psicológica avassaladora.
Pacientes chegam aos consultórios não com o desejo de corrigir uma imperfeição ou melhorar a autoestima, mas sim com a foto de um influenciador, pedindo para serem transformados naquela imagem.
A consequência mais grave desse movimento é a perda da individualidade. O nariz que era único, o contorno facial que contava uma história, a assimetria que conferia charme: tudo é sacrificado em nome de um ideal de beleza genérico, muitas vezes exagerado e artificial.
A “harmonização facial”, por exemplo, quando levada ao extremo, resulta em faces com traços hipertrofiados, que parecem ter saído de uma mesma linha de produção.
O Exagero Estético e a Ética Médica
Como cirurgião plástico, a minha responsabilidade vai além da técnica. Ela reside na ética e na preservação da saúde mental do paciente. O exagero estético não é apenas uma questão de mau gosto; é um sintoma de uma insatisfação profunda e, muitas vezes, de um transtorno dismórfico corporal (TDC), onde a percepção da própria imagem está distorcida.
É nosso dever, como profissionais de saúde, atuar como um freio ético. Devemos questionar a motivação do paciente, educá-lo sobre os limites da transformação e, acima de tudo, recusar procedimentos que levem à descaracterização ou que sejam prejudiciais à sua saúde. A beleza real reside na autenticidade e na valorização das características pessoais.
A verdadeira arte da cirurgia plástica e da medicina estética é a de realçar a essência, e não a de apagá-la. É fundamental que a sociedade e, principalmente, os jovens, compreendam que a busca pela identidade não se encontra na cópia de um padrão digital, mas sim na aceitação e celebração da sua própria singularidade.
Referências
1. TAL (s.d.). Como as redes sociais moldam os ideais de beleza. Disponível em: https://nossotal.com.br/como-as-redes-sociais-moldam-os-ideais-de-beleza/.
2. MENDES, I. T. (2024). As influências das redes sociais na construção de padrões estéticos acerca do corpo feminino. Repositório Institucional da Universidade Estadual de Goiás. Disponível em: https://repositorio.ueg.br/jspui/handle/riueg/5101.
3. KATAOKA, A. et al. (2024). A influência das mídias sociais na decisão pela cirurgia plástica. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, 39(1). Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbcp/a/6m9vjSCQJZ4jDYx8RpLd7Qq/?lang=pt.
4. BURGARELLI, G. (s.d.). Cirurgia Plástica na Era Digital: como as mídias sociais influenciam as expectativas e decisões dos pacientes. Disponível em: https://giselleburgarelli.com/cirurgia-plastica-na-era-digital-como-as-midias-sociais-influenciam-as-expectativas-e-decisoes-dos-pacientes/.
5. PINHO, C. e PRUDENTE, R. (2022). “ESPELHO, ESPELHO MEU?”: OS IMPACTOS DAS REDES SOCIAIS NA CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE FEMININA. Cadernos de Psicologia, 4(1), pp. 115-130. Disponível em: https://seer.uniacademia.edu.br/index.php/cadernospsicologia/article/view/3177.
6. TRIBUNA DO NORTE (2025). Redes sociais e padrões estéticos irreais impulsionam transtornos de imagem. Disponível em: https://tribunadonorte.com.br/saude/redes-sociais-e-padroes-esteticos-irreais-impulsionam-transtornos-de-imagem/.
7. STACHECHEM, S. K. et al. (2024). Procedimentos cirúrgicos estéticos em pacientes com transtorno dismórfico corporal. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, 39(1). Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbcp/a/RbSyjnc4FxJTFg6ysFx9R6L/.
Artigo escrito pelo Dr. Marco Flávio Mastrandonakis, Médico Cirurgião Plástico CREMESP 69321 RQE 1420.

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