Na última eleição para deputado federal, em 2018, códigos de urna mais usados repetiam o número do partido, ficando com quatro dígitos iguais, como 1111, ou duas duplas, como 1818. Números assim facilitam a memorização pelo eleitor, afirma especialista. O deputado federal Tiririca (PR-SP)
Alexandra Martins/Câmara dos Deputados
Se você pudesse escolher um número para lembrar de 4 em 4 anos, escolheria um com todos os números iguais, como 8888, ou com os dígitos diferentes, como 8259? E você preferiria que o número permanecesse o mesmo ou que mudasse ao longo do tempo?
A disputa entre Tiririca e Eduardo Bolsonaro pelo código 2222 é justamente sobre isso: um número simples é mais fácil de ser lembrado na hora em que o eleitor chega na urna. Além disso, um código que o eleitor tem familiaridade facilita a lembrança dele em eleições seguintes.
Os dados da eleição de 2018, última para deputado federal, ajudam a entender melhor essa concorrência. Naquele ano, os 15 números de urna com mais candidatos a uma vaga na Câmara simplesmente repetiam o número do partido. Com isso, ficavam com quatro dígitos iguais, como 2222, ou duas duplas, como 1818.
Cada partido pode usar o mesmo número de urna 27 vezes em uma eleição para deputado federal – uma vez em cada estado.
Os mais populares foram adotados em 25 a 27 estados na disputa eleitoral de 2018. Veja no gráfico.
Os números que apenas repetem o código do partido foram usados em média em 23 estados na última eleição. Já os outros números foram adotados, em média, em apenas 3 estados. Ou seja, os números mais “fáceis” são usados 7 vezes mais.
Outros códigos que atraem muito interesse são os com três números repetidos (1777), os que terminam com dois zeros (2800) e os que têm uma sequência simples (1234). Somente dois dos 53 números com mais candidatos em 2018 fugiram dessa regra: 5051 e 5123.
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‘Gravado na memória’
Presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel) e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Helcimara Telles afirma que o número de um candidato é “uma das coisas mais disputadas” em uma eleição. Um código bom, segundo ela, é aquele que facilita a vida do eleitor, de fácil memorização.
Telles afirma também que a memória é “um dos atalhos cognitivos para o voto”. “As pessoas buscam aqueles números que já estão gravados na memória do eleitor, número que já foram usados por outras pessoas”, comenta.
No caso específico do Tiririca, que ameaça desistir da candidatura caso perca o número 2222 para Eduardo Bolsonaro, a professora acredita que a mudança de número poderia beneficiar o filho do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ela lembra que o comediante cearense teve bons resultados nas últimas eleições e diz que é possível que nem todos os eleitores dele recebam a informação de que ele mudou de número. Com isso, parte do eleitorado de Tiririca poderia ir para Eduardo.
O cientista político e diretor da Quaest Pesquisas, Felipe Nunes, afirma que a disputa pelos números mais simples ocorre porque os candidatos querem códigos fáceis de serem decorados, principalmente pelo eleitor de baixa renda e baixa escolaridade.
Ele ressalta que o sistema político brasileiro é muito individualizado em pessoas e que os eleitores não votam em partido político, mas em candidatos. “O que os deputados federais apostam, acredito eu, é que dado esse sistema eleitoral tão personalista, números mais simples podem ser mais fáceis de ser decorados”, afirma.
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