O secretário nacional de Política Agrícola, Neri Geller, pediu demissão nesta terça (11) após uma polêmica envolvendo o leilão para a compra de arroz pelo governo federal, que foi anulado no final da manhã em meio a suspeitas de irregularidades. O pedido foi anunciado pelo ministro Carlos Fávaro, da Agricultura.
O filho de Geller, Marcello Geller, é sócio de Robson Almeida de França, dono da Foco Corretora de Grãos, uma das principais corretoras participantes do leilão.
Fávaro disse que Geller comunicou a intenção de deixar a carga pela manhã, e que fez uma ponderação sobre a ligação do secretário com o proprietário da corretora.
“Quando o filho dele distribuiu a sociedade com essa corretora do Mato Grosso do Sul, ele não era secretário. E, portanto, não tinha conflito. Essa empresa não está operando, não está participando do leilão, não fez nenhuma operação e isso é fato também. Nenhum fato que gere qualquer tipo de suspeita. Mas que, de fato, gerou um transtorno e por isso ele colocou hoje de manhã a carga à disposição. Ele pediu demissão e eu aceitei”, afirmou o ministro.
Neri Geller foi ministro da Agricultura no governo Dilma Rousseff (PT) e ex-deputado federal, além de ter sido um dos principais articuladores para aproximar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do agronegócio durante a campanha eleitoral de 2022. Ele chegou a ser cotado para o ministério, em um setor que majoritariamente apoiou a reeleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A missão de Geller ocorreu em meio a suspeitas de irregularidades na compra de 263 mil toneladas de arroz pelo governo Lula. O certo foi anulado após questionamentos sobre a capacidade das empresas vencedoras de cumprirem a operação.
O presidente da Conab, Edegar Pretto, anunciou que um novo procedimento será realizado para garantir a contratação de empresas com capacidade técnica e financeira adequadas. “Pretendemos fazer um novo leilão, quem sabe em outros modelos, para que as pessoas possam ter garantia de que vamos contratar empresa com capacidade técnica e financeira. A decisão é anular este leilão e proceder a um novo mais ajustado”, declarou.
A decisão de importar arroz foi tomada após as enchentes no Rio Grande do Sul, sendo responsável por 70% da produção nacional do grão. Embora 80% da colheita já tenha sido realizada antes das chuvas, as enchentes impactaram significativamente a logística e o transporte do cereal para o restante do país.
No último final de semana, a Conab determinou que as quatro empresas vencedoras do leilão deveriam comprovar capacidade técnica e financeira para intermediar a compra, que custou R$ 1,3 bilhão ao governo. “A transparência e a segurança jurídica são princípios inegociáveis e a Conab está atenta para garantir a segurança jurídica e solidez nessa grande operação”, destacou Pretto.