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Quem é a direita que está fazendo manifestações sem Bolsonaro

Quem é a direita que está fazendo manifestações sem Bolsonaro

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Juntando milhares de manifestantes na Avenida Paulista (SP), no último domingo (14), um movimento que prega a liberdade e questiona os abusos do Supremo Tribunal Federal (STF), deu sequência a um outro tipo de manifestação de direita: atos sem a Presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Devido às ações judiciais movidas contra o ex-mandatário, a avaliação dos apoiadores é que a direita deve continuar com as críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF), apesar da cautela de Bolsonaro sobre esse tema.

A primeira manifestação ocorreu em 9 de junho e, assim como esta última, focou em pedir o impeachment do ministro Alexandre de Moraes por conta das prisões dos manifestantes de 8 de janeiro. Eles também criticaram a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Bolsonaro não se manifestou publicamente apoio nem repúdio às manifestações.

O movimento foi iniciado pelo empresário Guilherme Sampaio e pelo advogado e jornalista Marco Antônio Costa. Também participaram os influenciadores digitais Keven Rodrigues e Samantha Pozzer, do canal Space Liberdade (leia, abaixo, como o movimento surgiu).

Questionado sobre a ausência de Bolsonaro nas manifestações, Marco Antônio afirmou que os problemas jurídicos enfrentados pelo ex-presidente impossibilitam a participação dele nesse tipo de ato. No entanto, defende que uma sociedade civil precisa de se organizar para protestar contra as decisões do Supremo que, na sua visão, limitam a liberdade de expressão.

De acordo com ele, as manifestações nas ruas são uma ferramenta para discutir os poderes do STF, as restrições à liberdade de expressão e também o regimento do Senado, o órgão que tem atribuição de julgar e julgar os ministros do Supremo.

Ele cita como pontos que merecem debate a competência exclusiva do presidente do Senado para pautar processos de impeachment de ministros do Supremo e a “falta de base jurídica” de algumas das decisões do STF.

“A prisão de Daniel Silveira não tem o mínimo de fundamentação jurídica. Vemos nesse caso que é a utilização do aparelho estatal do Judiciário para colocar medo nas pessoas. As pessoas hoje têm medo de Alexandre de Moraes e a sociedade civil precisa se organizar”, disse Antônio.

Ele também afirmou que é necessária maior participação de políticos nos debates. Já manifestaram apoio a pelo menos uma das manifestações à deputada Carla Zambelli (PL-SP), ao senador Eduardo Girão (Novo-CE), ao deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), entre outros.

“A nossa classe política precisa acordar para isso. Não adianta concordar comigo só no gabinete. Eles precisam usar a população na rua e mostrar que existe uma união”, disse Marco Antônio.

Indagada sobre a manifestação, a deputada Carla Zambelli (PL-SP), que participou da convocação do último ato, classificou como positiva a mobilização popular e lembrou que muitos dos parlamentares atuais também eram ativistas antes de serem eleitos.

“Acho que é positivo porque surge gente nova, já que hoje todos os antigos ativistas são políticos. Precisamos de uma nova leva de ativistas, que nos ajude a refletir fora o que fazemos ou devemos fazer lá dentro. Como foi o impeachment de Dilma, que não teria acontecido sem os movimentos de rua”, disse o parlamentar.

Como o movimento surgiu e foi organizado?

O advogado e jornalista Marco Antônio Costa, comentarista do programa Sem Rodeios, da Gazeta do Povo, é uma das principais lideranças do movimento. Além do Sem Rodeios, ele também participou de muitos programas de opinião na TV Jovem Pan News, onde se popularizou o apelido de “Superman”. Marco Antônio também mantém um canal pessoal no YouTube que tem quase 100 mil seguidores.

Outra liderança do movimento é o empresário paulista da área do agronegócio Guilherme Sampaio. A Gazeta do Povoele contou que participa de manifestações contra o governo Lula desde 2005, primeiro mandato do petista, e que, por conta da reeleição em 2022, decidiu voltar a organizar protestos.

“Em 2005, eu fazia parte do Movimento Reforma Brasil. Na época, consegui levar de 30 mil a 50 pessoas nas ruas pelo impeachment de Lula por conta do mensalão”, lembrou. “Sempre gostei de ativismo político e em 2023, quando o Lula voltou ao governo, tive vontade de reativar os movimentos de rua. No Twitter, surgiu na sala do Espaço Liberdade o encontro com Marco Antônio e ele topou fazer novas manifestações”, disse Sampaio .

Ele acrescentou que a manifestação contornou com organização e recursos próprios. Ele disse ter dado R$ 10 mil de seus recursos pessoais para custear cada manifestação deste ano – até o momento foram duas. Marco Antônio disse que investiu cerca de R$ 7 mil para despesas como contratação de carro de som e graus de proteção.

Outras duas lideranças do movimento que participaram da organização das duas primeiras manifestações são o influenciador digital Keven Rodrigues e a advogada Samantha Pozzer. Os dois realizam um canal de vidas em áudio no aplicativo Space, da rede social X e também publicam conteúdo em um canal no YouTube chamado Space Liberdade, que possui mais de um milhão de seguidores. Em 2023, a dupla teve sua página no “X” derrubada no inquérito das Fake News (IQ 4781), presidido pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. Hoje eles moram na Argentina.

Contudo, Marco Antônio e Guilherme Sampaio romperam parceria com Keven Rodrigues e Samantha Pozzer, alegando divergências. O advogado e o empresário dizem que pretendem organizar novos atos em diversas cidades no dia 7 de setembro deste ano.

Sob pressão da Justiça, Bolsonaro adota cautela nas críticas ao STF

Mas o que explica a ausência do ex-presidente nessas manifestações? A avaliação dos aliados é que, apesar de haver interesse do presidente nas diretrizes tratadas nos atos, a presença do ex-mandatário poderia acentuar o atrito com a Suprema Corte, principalmente após o indiciamento no caso das joias sauditas.

Nos bastidores do PL, a orientação é não elevar a temperatura e responder às acusações à medida em que elas sejam divulgadas. Nesse contexto, a sigla apostaria mais na defesa feita por aliados políticos do ex-presidente, como a bancada na Câmara dos Deputados.

O posicionamento não é novo. Na manifestação de 21 de abril, no Rio de Janeiro, o presidente se conteve em tecer críticas ao Judiciário e deixou que o pastor Silas Malafaia, um dos organizadores da manifestação, criticasse Moraes. Na época, especialistas ouvidos pela reportagem avaliaram que seria uma forma de o ex-mandatário fazer ecoar seu discurso contra o magistrado.

Ao defensor Bolsonaro das acusações feitas pela investigação Tempus Veritatis, que apura suposta tentativa de golpe de Estado, Malafaia classificou Moraes como “ditador da toga” e disse que iria provar com leis que o ministro seria uma “ameaça à democracia”.

Atos sem Bolsonaro dependem de maior mobilização

Para especialistas ouvidos pela reportagem, manifestações sem presença física ou apoio declarado de Bolsonaro só terão que conseguir estimular a participação popular sem depender de uma figura política central. Na avaliação do professor Elton Gomes, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), os movimentos organizados pelo ex-presidente e por ativistas independentes estão conectados.

“Movimentos sem o ex-presidente podem virar tendência, mas dependem muito da capacidade de mobilização extra-Bolsonaro. A dificuldade de consolidação desse tipo de manifestação é a falta de uma figura de projeção nacional que dê corpo político para as diretrizes que estão sendo defendidas”, disse Elton.

Para o cientista político Adriano Cerqueira, do Ibmec de Belo Horizonte, a realização de manifestações sem o ex-presidente indicou uma tentativa de despolitizar o 8 de janeiro.

“Me parece que não envolver o Bolsonaro diretamente é uma tentativa de voltar claro que estão defendendo os presos do 8 de janeiro, de manifestantes, e não de simplesmente apoiadores do Bolsonaro. É uma tentativa de despolitizar a questão e atrair a atenção das pessoas no geral, independente se apoiam ou não o Bolsonaro”, disse Cerqueira.

Os organizadores dizem que o tema principal dos atos é o STF e não Bolsonaro ou o 8 de janeiro, necessariamente.

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