A Polícia Federal (PF) reuniu o envolvimento direto do general Braga Netto, ex-ministro da Defesa de Jair Bolsonaro (PL), em reuniões e ações relacionadas a uma suposta tentativa de golpe de Estado articulada após a derrota nas eleições presidenciais de 2022. Braga Netto ainda não se pronunciou publicamente sobre os apontamentos da PF.
As investigações, que culminaram com a operação Contragolpe, nesta terça-feira (19), levando à prisão cinco pessoas, quatro oficiais do Exército e um policial federal, indicam que Braga Netto teria liderança, em sua residência em novembro de 2022, um encontro estratégico com militares para planejar a execução de operações clandestinas, incluindo assassinatos de figuras-chave do governo eleito, como Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que na época era o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
De acordo com a PF, a reunião ocorreu em 12 de novembro de 2022 e contou com a presença de oficiais especializados em operações de alta complexidade. No encontro, Braga Netto teria aprovado o “planejamento operacional” da unidade conhecida como “kids pretos”. Esses militares, formados em Forças Especiais, tinham a missão de executar ações como o monitoramento e eventual eliminação de Alexandre de Moraes, em uma operação designada “Copa 2022”. O plano também incluía a execução de Lula e Alckmin, batizado da “Operação Punhal Verde e Amarelo”.
A Polícia Federal afirma que Braga Netto seria o chefe de um hipotético “Gabinete Institucional de Gestão da Crise”, que coordenaria ações para consolidar um caso de ruptura institucional ou golpe fosse consumado.
Segundo o despacho assinado pelo ministro Alexandre de Moraes, “a Polícia Federal logrou conseguir identificar uma minuta de instituição de um Gabinete de Crise, que seria criada no dia 16/12/2022, após o golpe de Estado, composto em sua maioria por militares, sob o comando dos generais Augusto Heleno e Braga Netto, contando ainda com a participação dos generais Mário Fernandes e de Filipe Martins”. O documento descreve ainda uma série de outros nomes que comporiam esse gabinete provisório.
O general Braga Netto, segundo o inquérito, foi um dos principais articuladores do plano, que incluía até o uso de viaturas oficiais e o emprego de técnicas avançadas de espionagem e infiltração. Documentos indicados no inquérito revelaram, segundo a PF, que os militares discutiram os custos operacionais das missões, estimados em cerca de R$ 100 mil, cobrindo despesas com transporte, hospedagem e materiais.
Para dificultar o rastreamento das operações, os envolvidos utilizaram técnicas como habilitação de linhas telefônicas em nome de terceiros e adoção de codinomes baseados em países participantes da Copa do Mundo de 2022, como “Gana”, “Japão” e “Brasil”. As mensagens trocadas entre os militares revelaram que o monitoramento de Alexandre de Moraes se intensificou em dezembro de 2022.
Em um dos diálogos, um dos militares relatados estaria próximo à residência de Moraes, enquanto outro mencionava detalhes sobre as deslocações do ministro. No contexto do planejamento, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, e outros militares trocaram informações sobre a operação, diminuíram o uso de tecnologia e estratégia militar para garantir o sucesso do plano.
As informações reunidas pela operação Contragolpe, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, destacam haver um papel central de Braga Netto na suposta articulação de golpe, sendo descrito como um dos líderes mais influentes nas tratativas para uma ruptura institucional. A reunião em sua residência, além de ter contado com outros oficiais de alta patente, foi descrita como um marco na aprovação das diretrizes para as ações que colocariam em risco a democracia brasileira.
Enquanto as investigações avançam, a PF continua a analisar diálogos e documentos que reforçam a ligação entre Braga Netto e os outros envolvidos, incluindo militares presos durante a deflagração da operação.
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