O Brasil recebeu na noite desta sexta-feira (14) uma unidade de caça F-39 Gripen, uma nova aeronave de um projeto de 36 unidades que é marcado por atrasos nas entregas gerados por falta de orçamento. O Gripen recém-chegado tem matrícula FAB 4111 e faz parte do programa de renovação da frota da Força Aérea Brasileira (FAB), cuja execução tem enfrentado atrasos e dificuldades de financiamento ao longo dos últimos 11 anos.
A aeronave, fabricada em Linköping, na Suécia, pela Saad, percorreu mais de dez mil quilômetros até chegar ao país, sendo transportada por via marítima a partir de Norrköping. O desembarque ocorreu no porto de Navegantes (SC), após cerca de 20 dias de travessia do Atlântico, em uma operação logística complexa coordenada pela Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (Copac), com apoio de diversas áreas da FAB e do Centro de Transporte Logístico da Aeronáutica.
Depois da remoção do navio, a caça foi levada por três quilômetros até o aeroporto de Navegantes, em um trajeto que mobilizou equipes de segurança, controle de tráfego e apoio aéreo. Nos próximos dias, o Gripen passará por procedimentos técnicos do fabricante Saab, incluindo instalação do assento ejetável, abastecimento e preparação final para voo. Concluída essa etapa, a aeronave seguirá para a Base Aérea de Anápolis (GO), onde será integrante do 1º Grupo de Defesa Aérea. Trata-se de uma caça multimissão equipada com sistemas considerados modernos e adequados a cenários de alta complexidade.
Mais de dez anos desde a assinatura do contrato para renovação da frota de caça brasileira, o programa F-39 Gripen é marcado por atrasos, entraves financeiros e indefinições que colocam em xeque o cronograma original. Firmado em 2014, ainda no governo Dilma Rousseff (PT) o acordo de US$ 4,5 bilhões (R$ 26 bilhões) prevê a entrega de 36 aeronaves, além de cooperação industrial e um programa de transferência de tecnologia entre Brasil e Suécia. No entanto, até ao momento, com a nova aeronave, apenas novas unidades foram recebidas e nenhuma está plenamente operacional para missões de combate.
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Programa avança lentamente, com sistemas incompletos
Segundo informações repassadas pela Força Aérea Brasileira (FAB), os Gripen já entregues anteriormente se encontram na operação inicial, mas com capacidade limitada. Os sistemas essenciais para o emprego militar — mísseis, canhões internos e lançadores de bombas — ainda não foram plenamente integrados, o que impedem seu uso real em situações reais de defesa aérea ou ataque. O processo de certificação e testes, que deve avançar paralelamente à coleta das vítimas, vem sofrendo atrasos sucessivos.
A situação da versão biposto, o Gripen F, destinada ao treinamento avançado e missões de maior complexidade, também ilustra o atraso acumulado. O modelo, que acaba de chegar, tem seu primeiro voo previsto apenas para 2026. O cronograma atualizado prevê que as 27 aeronaves restantes — somando versões E e F — serão entregues até 2032, cinco anos além da previsão inicial.
A execução do programa foi afetada, desde o início, por restrições orçamentárias recorrentes. Mesmo sendo considerado um dos projetos estratégicos do país, o Gripen envolveu contingenciamento de recursos durante diversos períodos, o que impactou diretamente nas fases de produção, testes, pagamentos à Saab e treinamento tecnológico.
Mais recentemente, o programa passou a enfrentar um novo ponto de tensão: o impacto geopolítico da aproximação do governo brasileiro com a Rússia. A participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na parada militar de Moscou, a convite de Vladimir Putin, foi interpretada pelos países ocidentais como um gesto político alinhado ao Kremlin — justamente no momento em que a Suécia ingressou na Aliança Militar do Atlântico Norte (Otan) para se proteger do expansionismo russo.
Essa mudança de cenário gerou apreensão entre militares e especialistas brasileiros. A preocupação é que o vínculo diplomático com Moscou possa comprometer a confiança de Estocolmo na transferência de tecnologia sensível, elemento vital do programa Gripen. As autoridades suecas têm em que os sistemas estratégicos ou códigos proprietários podem ser, mesmo que indiretamente, acessados pela Rússia — principal antagonista militar da aliança atlântica.
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Saad diz que “confia no Brasil como parceiro”
Embora a Saab não comente questões políticas e reforce que mantém “confiança no Brasil como parceiro”, a preocupação é considerada realista por analistas internacionais. Os países da Otan já aplicaram restrições semelhantes no passado, como no caso da Turquia, que analisaram avaliações após comprar sistemas antiaéreos russos.
A Força Aérea afirmou em maio deste ano à Gazeta do Povo que não há até o momento qualquer impedimento formal ao andamento do acordo com a Saab e que treinos de pilotos, capacitação de equipes e fases técnicas de integração continuam em curso. Segundo a FAB, “não existem impedimentos identificados à plena execução do contrato”.
A corporação detalhou que pilotos brasileiros foram treinados na Suécia, realizando instruções teóricas, práticas, voos em simuladores e testes. Profissionais brasileiros também participam do desenvolvimento da versão Gripen F, com milhares de horas dedicadas ao projeto em áreas como aviônica e integração de armamentos.
Apesar do esforço cooperativo, o Brasil ainda não teve acesso integral ao código-fonte do sistema central do Gripen, fundamental para reprogramação, personalização e evolução dos sistemas de missão da nave. Essa limitação é recorrente em acordos de defesa, mas passa a ser mais sensível no atual contexto geopolítico, principalmente para um avião projetado para desempenhar papel estratégico na defesa aérea brasileira.
A incorporação das caças Gripen ao 1º Grupo de Defesa Aérea (1º GDA), em Anápolis (GO), é vista pela FAB como essencial para modernizar o poder aéreo do país. Porém, a combinação de atrasos tecnológicos, restrições financeiras e turbulências diplomáticas gera dúvidas sobre quando e como o Brasil terá, de fato, uma frota completa e plenamente operacional.
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