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No meio do caminho  – Prisma

No meio do caminho  – Prisma

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Não por acaso, eles são a “pedra no sapato” dos motoristas de São Paulo. Quem passa pela avenida Rio Branco, no centro da maior metrópole do País, corre o risco de ficar pelo caminho. São usuários de drogas, sim, mas podemos chamá-los de criminosos. O que eles fazem não tem outro nome. É crime.

O centro da capital paulista virou terra de ninguém. Eles nem ficam mais escondidos. Pelo contrário, estão por toda parte e em pontos estratégicos. As câmeras de segurança da região flagram o desespero das vítimas todo santo dia. Com uma pedra – ou qualquer outro objeto que adquire a função – eles atacam motoristas no meio da rua. Quebram os vidros e, sorrateiramente, pegam o celular das pessoas, muitas vezes, posicionados no suporte fixado ao para-brisa.

Bastam pouquíssimos segundos. Quando o motorista percebe, não há tempo pra mais nada. O que resta é levar o carro pro consertar e comprar um aparelho novo pra seguir na vida tecnológica a qual todos nós estamos mergulhados.

Aquela era a segunda reportagem que fazia em menos de duas semanas para o Balanço Geral. Novos vídeos mostrando a ação da quadrilha vivida um dia depois de uma megaoperação da polícia pra tentar desmantelar uma parte do grupo.

Na primeira vez, o repórter cinematográfico Gilberto Cotobelo e eu flagramos uma tentativa de roubo na nossa frente. gerado dentro do carro da Record numa rua onde o fluxo de usuários da cracolândia é enorme. Paramos no semáforo e, de repente, um homem saiu da multidão e foi em direção a um veículo posicionado a poucos metros de nós. Como os vidros estavam abertos, o ladrão só teve o “trabalho” de se jogar pra dentro do carro pra furtar o celular. Felizmente, não consegui.




Dessa vez, nós fomos as vítimas. Dessa vez, fomos atacados. chamado com um carro descaracterizado pra não chamar atenção. Novamente, nosso trabalho era investigar a ação desse grupo criminoso. Naquele dia, a região central estava sendo monitorada pela polícia militar e por agentes da guarda civil metropolitana. O contingente de equipes era maior, possivelmente, por conta da operação do dia anterior e dos dois roubos registrados naquela mesma manhã.

Isso, no entanto, não impede a ação dos usuários de drogas sedentários por aparelhos celulares. Paramos num semáforo. Policiais militares estavam a menos de cem metros da gente. De repente, olho pro lado e vejo um homem, vestindo uma camiseta de time, se aproximando do nosso carro, tomando distância e atirando um objeto. Só tive tempo de chamar a atenção do Cotobelo, que já estava com uma câmera conectada, para o que estava acontecendo.

Rápido como é, o nosso repórter cinematográfico conseguiu flagrar o momento em que o nosso carro foi apedrejado. Por Deus, o vidro não quebrou nem, sequer, trincou. Do contrário, os estilhaços alcançaram o meu rosto em cheio. Provavelmente, a própria pedra teria me acertado.

É uma sensação horrível. Uma mistura de medo, insegurança, raiva, indignação. São sentimentos variados que, naquele momento, preciso conciliar com o meu trabalho de repórter. Narrei o que tinha acabado de acontecer. Sentimos na pele o que o motorista passa, diariamente, no centro de São Paulo. O pior é que não há ninguém capaz de resolver ou, pelo menos, amenizar esse problema.

Por vezes, o jornalismo se torna arriscado. Está longe do glamour que muitos pensam que há por trás das câmeras. Evidentemente, o ataque à equipe foi a cena que abriu uma reportagem. Era o nosso flagrante mais forte. Mais do que isso, era a realidade contada por quem passou por essa experiência de medo e constrangimento. Escrevi com mais facilidade e, naquele momento, com conhecimento de causa.

No fim do dia, antes de dormir, agradeci pelo grande livramento. É como entendo toda situação de perigo que me cerca, mas não me envolve. Quando fui assaltado, pela primeira vez, em São Paulo, durante o trabalho, fiquei em choque a ponto de querer voltar pro interior na mesma semana. Perdi meu celular, mas não perdi a minha vida no momento em que o ladrão me mostrou a arma dele. Dessa vez, a pedra acertou o vidro do carro em que eu estava, garantindou a mensagem que a matéria queria transmitir, mas ela não me consumia, não me feriu nem machucou nenhum companheiro da equipe.

Ao mesmo tempo em que agradeço pela proteção, pergunto: quando Deus terá de agir em questões que o ser humano deveria dar conta? Até quando as autoridades puderam enxugando gelo? Até quando as leis desse País não serão capazes de garantir paz, proteção e livramento aos cidadãos? Até quando todas essas perguntas vão ficar sem respostas? Até quando vamos nos perguntar: até quando?


Veja, na reportagem, o momento em que a equipe do Balanço Geral é atacada pela ganga da pedrada



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