O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), teve seu acordo de delação premiada completamente suspenso pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Ele prestou novo depoimento por cerca de três horas na sede do STF na tarde desta quinta-feira (21). A informação foi obtida pela reportagem com interlocutores que acompanham as investigações.
Cid falou a Moraes após uma nova convocação. Na terça-feira (19), ele já havia prestado depoimento à Polícia Federal (PF) em Brasília (DF). Sua reconvocação ocorreu após a localização da PF, em seus dispositivos eletrônicos, conversas e informações que apontaram para o planejamento de um suposto de Estado no fim de 2022, após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Essas informações não foram relatadas por Cid em seu acordo de delação – o que poderia render a cassação do acordo, tirando dele benefícios como o de responder ao processo em liberdade com o uso de tornozeleira eletrônica. Interlocutores informaram, no entanto, que Moraes ficou “satisfeito” com o que pegou o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro nesta quinta.
Em nota, o STF informou que Moraes “confirmou a validade” da colaboração premiada de Cid. “O ministro considerou que o colaborador esclareceu as omissões e contradições apontadas pela Polícia Federal. As informações do colaborador seguem sob apuração das autoridades competentes”, disse a Corte.
Segundo a PF, informações recuperadas de aparelhos de Cid e cruzadas com as de aparelhos apreendidos de outros investigados, indicando a existência de um plano para sequestrar e até assassinar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que na época era presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Novo depoimento a Moraes
A defesa de Cid negou, na terça, a ligação dele com os fatos relatados pela PF na Operação Contragolpe e disse, na ocasião, que ele não tinha qualquer conhecimento sobre o planejamento de ações violentas.
Em depoimento a Moraes nesta quinta, porém, Cid deu novos detalhes, incluindo o que o ex-ministro da Defesa Braga Netto, que foi vice na disputa presidencial na chapa com Bolsonaro em 2022, teve participação no planejamento do golpe suposto.
Na manhã de terça-feira (19), horas antes do depoimento de Mauro Cid, a Polícia Federal deflagrou a operação Contragolpe, na qual cinco foram presos preventivamente suspeitos de participar do esquema de golpe de Estado planejado para o fim de 2022.
Para a PF, Bolsonaro teria participação na elaboração da suposta minuta do golpe de Estado e estaria no Palácio do Planalto quando o documento relatou a ação violenta contra Moraes, Lula e Alckmin foi impresso.
Na tarde desta quinta-feira, Bolsonaro e outras 36 pessoas foram indicadas pela PF no inquérito que aponta o suposto planejamento do golpe e os atos de 8 de janeiro.
Defesa de Braga Netto repudia vazamento de investigação após indiciamento
A defesa do general Walter Braga Netto repudiou “veementemente” o vazamento de informações de inquéritos à imprensa “em detrimento do devido acesso às partes diretamente envolvidas e interessadas”. O ex-ministro da Defesa, Braga Netto foi indiciado pela Polícia Federal nesta quinta-feira (19) por suposta tentativa de golpe de Estado.
“A defesa técnica do General Walter Souza Braga Netto destaca e repudia veementemente, e desde logo, a difusão indevida de informações relativas aos inquéritos,
concedidos 'em primeira mão' a determinados veículos de imprensa em detrimento do
acesso às partes devido diretamente envolvidas e interessadas”, diz a nota assinada pelos advogados Luís Henrique Prata, Gabriella Venâncio e Francisco de Lima.
A defesa do general ressaltou que “aguardará a captação oficial dos elementos informativos para adotar um posicionamento formal e fundamentado”. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também foi indiciado no inquérito.
Veja a relação dos indicados:
- Ailton Gonçalves Moraes Barros
- Alexandre Castilho Bitencourt da Silva
- Alexandre Rodrigues Ramagem
- Almir Garnier
- Amauri Feres Saad
- Anderson Gustavo Torres
- Anderson Lima
- Angelo Martins Denicoli
- Augusto Heleno Ribeiro Pereira
- Bernardo Romão Correa Netto
- Carlos César Moretzsohn Rocha
- Carlos Giovani Delevati Pasini
- Cleverson Ney Magalhães
- Estevam Cals Teófilo Gaspar De Oliveira
- Fabrício Moreira De Bastos
- Filipe Garcia
- Fernando Cerimedo
- Giancarlo Gomes Rodrigues
- Guilherme Marques de Almeida
- Hélio Ferreira
- Jair Messias
- José Eduardo De Oliveira E Silva
- Laércio Vergílio
- Marcelo Bormevet
- Marcelo Costa Câmara
- Mário Fernandes
- Mauro César Barbosa Cid
- Nilton Diniz Rodrigues
- Paulo Renato De Oliveira Figueiredo Filho
- Paulo Sérgio Nogueira De Oliveira
- Rafael Martins de Oliveira
- Ronald Ferreira De Araújo Júnior
- Sergio Ricardo Cavaliere De Medeiros
- Tércio Arnaud Tomaz
- Valdemar Costa Neto
- Walter Souza Braga Netto
- Vladimir Matos Soares
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