'Talvez Justiça fosse que o hoje o dia jamais tivesse acontecido, talvez Justiça fosse Anderson e Marielle vivos', acrescentou. Juíza lê a sentença do julgamento dos dois condenados por matar Marielle Franco Ao ler a sentença da reportagem de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, a juíza Lúcia Glioche chamou a atenção para os anos de dor que os familiares de Marielle Franco e Anderson Gomes passaram e disse que a decisão dos jurados não acaba com o sofrimento (leia, no fim da reportagem, a íntegra da sentença). A dupla foi condenada no início da noite desta quinta-feira (1). “Talvez Justiça fosse que o hoje o dia jamais tivesse acontecido, talvez Justiça fosse Anderson e Marielle vivos”, disse. A magistrada lembrou que durante muito tempo os condenados negaram a participação no crime, apesar das provas já terem sido coletadas. Mas reafirmou que ainda assim a Justiça chegou. “A Justiça por vezes é lenta, é cega, é burra, é injusta, é errada, é torta, mas ela chega. A Justiça chega mesmo para aqueles que como os acusados acham que jamais serão atingidos pela Justiça”, acrescentou. Exatos 6 anos, 7 meses e 17 dias após o crime, o 4º Tribunal do Júri do Rio condenou nesta quarta-feira (30) os assassinos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. O crime chocou o país e – até hoje – gera repercussão em todo o mundo. O ex-policial militar Ronnie Lessa, autor dos disparos na noite de 14 de março de 2018, recebeu pena de 78 anos e 9 meses de prisão. O também ex-PM Élcio Queiroz, que já havia usado Cobalto não atentado, foi condenado a 59 anos e 8 meses de prisão. LEIA TAMBÉM Parentes desabam no choro após vítimas dos assassinos de Marielle Franco e Anderson Gomes Caso Marielle: Acusados de serem mandantes serão julgados no STF; entenda A sentença “O júri é uma democracia. Democracia é que Marielle Franco defende. Aqui prevalece a vontade do povo em maioria. Aqueles que atuam como os jurados nada recebem; prestam um serviço voluntário, gratuito, representando a vontade do povo no ato de Julguem o semelhante, que é acusado de ter praticado um crime tão grave que é querer tirar a vida de outra pessoa. Portanto, senhores jurados, obrigado em nome do Poder Judiciário. Obrigado em nome da população da cidade do Rio de Janeiro. que será lida, agora, talvez não traga aquilo que se espera da Justiça. Talvez justiça que tanto se falou aqui fosse que o dia de hoje jamais tivesse acontecido. morto de volta. Então dizemos que vítimas do crime de homicídio são aqueles que ficam vivos, precisando sobreviver no esgoto que é o vazio de permanecer vivo sem a vida daquela que foi arrancada do seu cotidiano. são Marinete, mãe de Marielle; Anielle, irmã de Marielle; Mônica, esposa de Marielle; Luyara, filha de Marielle; Ágatha, esposa de Anderson, e Arthur, filho de Anderson. Homicídio é um crime traumatizante — finca no peito uma dor que sangra todo dia, uns dias mais, uns dias menos, mas todos os dias. Uma pessoa assassinada deixa uma falta, uma carência, um aspirador. Que palavra não descreve. Toda a minha solidariedade e do Poder Judiciário às vítimas. A sentença que será dada agora talvez também não responda à pergunta que ecoou pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro, do Brasil e do mundo: Quem matou Marielle e Anderson? Talvez ela não tenha respondido aos questionamentos dos 46.502 eleitores cariocas que fizeram de Marielle Franco a 5ª vereadora mais votada na cidade do Rio de Janeiro nas eleições municipais de 2016 — e que tiveram seu direito de representação ceifado no dia 14 de março de 2018. Contudo, a sentença que será lida agora se dirige aos acusados aqui presentes. E mais: ela se dirige a vários Ronnies e vários Élcios que existem na cidade do Rio de Janeiro — livres por aí. Eu digo sempre que nesses 31 anos que eu sirvo ao sistema de Justiça, nenhum de nós do povo nunca saberá o que se passou no dia de um crime. Quem não esteve na cena do crime, não participou dele, nunca sabe o que aconteceu. Mesmo assim, o Poder Judiciário e hoje os jurados precisam julgar o crime com as provas que o processo apresenta, e trazer às provas para o processo, para os jurados é árduo. Porém, com todas as dificuldades e todas as mazelas de investigar um crime, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro denunciou os acusados. Eles foram processados e tiveram garantido o seu direito de defesa — e foram julgados. Por anos exercendo a plenitude do direito constitucional de autodefesa, os acusados juraram inocência, pondo a todo o tempo em dúvida a prova trazida contra eles. Até que um dia, no ano passado, 2023, por motivos que de verdade a gente jamais vai saber, o acusado Élcio fez a colaboração premiada. Depois do acusado Ronnie também fez. Os acusados confessaram a execução e a participação no assassinato da vereadora Marielle Franco. Por isso, fica aqui para os acusados presentes e serve para os vários Ronnies e vários Élcios que existem por aí, soltos, a seguinte mensagem: A Justiça por vezes é lenta, é cega, é burra, é injusta, é errada, é torta , mas ela chega. A Justiça chega mesmo para aqueles que, como os acusados, acham que nunca serão atingidos pela Justiça. Com toda dificuldade de ser interpretada e vivida pelas vítimas, a Justiça chega aos culpados e tira deles o bem mais importante depois da vida, que é a liberdade. A Justiça chegou aos senhores Ronnie Lessa e Elcio de Queiroz. Os senhores foram condenados pelos jurados do 4º tribunal do júri da capital: a 78 anos e 9 meses de reclusão e 30 dias-multa para o acusado Ronnie; a 59 anos de prisão e 8 meses de reclusão e 10 dias-multa para o acusado Élcio. São os 2 condenados a pagar até os 24 anos do filho de Anderson, Arthur, uma pensão. Ficam os 2 condenados a pagar, juntos, R$ 706 mil de indenização por dano moral para cada uma das vítimas — Arthur, Ághata, Luyara, Mônica e Marinete. Condeno os acusados a pagarem as custas do processo e mantenho a prisão preventiva deles, negando o direito de recorrer em liberdade. agradecimento as partes, a Defensoria Pública, às defesas dos 2 acusados. agradecimento aos serventuários da Justiça, aos policiais militares. Renovo o agradecimento aos jurados. Encerro sessão de julgamento e quebro a incomunicabilidade. Tenham uma boa noite”. A juíza Lúcia Glioche comandou o júri popular de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz Felipe Cavalcanti/TJRJ Parentes e amigos de Marielle se emocionam leitura após a sentença Reprodução
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