
Uma sequência de movimentos na direita, ocorridos nos últimos dias, intensificados, no meio político, que Jair Bolsonaro (PL) já definiu o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) como seu candidato à Presidência em 2026.
As acusações apontam ainda que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) passou a ser tratada como a segunda opção ao Palácio do Planalto ou, mais provavelmente, candidata a vice na chapa. Além de atrair o eleitorado evangélico e feminino, Michelle ostenta o sobrenome do ex-presidente.
O primeiro sinal forte da articulação veio do lançamento da pré-candidatura da deputada Bia Kicis (PL-DF) ao Senado, em evento movimentado na última quarta-feira (12), com a presença de celebridades da legenda, como seu presidente, Valdemar da Costa Neto, e Michelle Bolsonaro.
A parlamentar reforça a estratégia de ampliar a presença do PL no Senado, considerada estratégica por Bolsonaro para frear o STF. Para chegar lá, Kicis aposta em larga base de apoiadores em Brasília e forte interação nas redes sociais, apresentando-se como defensora das pautas conservadoras e crítica de decisões do STF.
“Coloco o meu nome à disposição do presidente Bolsonaro e da base conservadora para defender a liberdade e os valores que consideramos”, disse.
Até então, Michelle era o único nome do PL para a disputa da vaga pelo Distrito Federal, liderando em todas as pesquisas. O acordo político local foi reservado à segunda vaga ao governador Ibaneis Rocha (MDB).
Pedido de Bolsonaro para reunião urgente com Tarcísio agitou os bastidores
Outro sinal importante que favoreceu as especulações foi o pedido apresentado por Jair Bolsonaro a Alexandre de Moraes, na última terça (11), para uma reunião com Tarcísio de Freitas “na data mais breve possível”, em sua residência, onde cumpre prisão domiciliar. O pedido mencionava a necessidade de “encontro pessoal específico”, “em razão da necessidade de diálogo direto”.
A pressão para uma reunião possível é vista como o movimento para Bolsonaro definir quem apoiará a Presidência, manterá a influência e evitará dispersão no campo conservador. Dirigentes do PL avaliam que a direção do partido não pode mais tomar decisões sem ouvir Tarcísio. O ministro despachou na quinta (13), mas autorizando a visita somente para 10 de dezembro.
A construção de uma chapa endossada por Bolsonaro parte do consenso de dirigentes de partidos de centro e direita que busca unificar o campo conservador em torno de uma aposta competitiva contra a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Com a evolução dos fatos, incluindo o início próximo do cumprimento da pena de 27 anos e três meses de Bolsonaro em regime fechado, a expectativa de parlamentares e analistas é que o anúncio da chapa seja feito até o começo de dezembro.
O mercado financeiro voltou a se animar com a volta de Tarcísio ao centro das especulações. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tenta se manter como opção e acusa as movimentações de serem apenas pressão sobre o pai para escolher Tarcísio.
Mas, assim como Bolsonaro, ele também caminha para a inelegibilidade, uma vez que o STF acelerou um processo para condená-lo por causa da atuação nos Estados Unidos para sancionar Moraes. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), nesse caso, apareceria como outra opção da família.
Tarcísio se firma como polo de convergência da direita e no Congresso
A possibilidade de uma chapa Tarcísio–Michelle ganhou atração também após um levantamento recente do Ranking dos Políticos junto a deputados e senadores, divulgado na terça-feira (11). Ele indica que o governador de São Paulo é visto como nome mais competitivo da direita em 2026.
Os parlamentares consultados destacaram sua “capacidade de diálogo”, “gestão eficiente” e baixa exclusão. “Tarcísio é hoje o único nome da direita com opções imediatas, caso Bolsonaro não possa concorrer”, resumiu um deputado ouvido pela ONG.
O governador também ampliou o protagonismo nacional ao articular a escolha de seu secretário da Segurança, o deputado Guilherme Derrite (PP-SP), como relator do projeto Antifacção na Câmara.
A indicação reforçou a imagem de Tarcísio como figura de peso no debate sobre segurança pública — tema dominante desde a megaoperação contra o Comando Vermelho no Rio de Janeiro, em 28 de outubro. “A criminalidade organizada não pode mais ditar as regras no Brasil”, disse Derrite ao assumir uma tarefa.
Tarcísio já havia demonstrado essa importante influência no Congresso em mobilização para pautar o projeto da anistia.
MDB e Republicanos sinalizam acertos para a sucessão nacional e em SP
A posição dos Republicanos abalou o mesmo boato. O presidente da sigla, o deputado Marcos Pereira (SP), voltou a admitir que o governador pode disputar a Presidência. “Se ele quiser disputar, terá nosso apoio. É um dos maiores quadros do país”, declarou. A fala reforçou que a sigla já está disponível, como natural, o crescimento de Tarcísio como alternativa nacional.
A entrega pró-Tarcísio gerou reações. Após encontro em Salvador com o secretário-geral do seu partido, ACM Neto, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), afirmou na segunda-feira (10) que pode concorrer ao Planalto por outra legenda — possivelmente o Podemos — caso seu partido, o União Brasil, não banque seu projeto.
“Se o partido não quiser caminhar, caminharei eu. Sou homem de posição”, disse. Internacionalmente, os líderes das federações PP–União confirmam que a tendência majoritária é apoiar Tarcísio.
Dirigentes do MDB paulista também sinalizaram alinhamento a Tarcísio para indicar nesta semana que o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), pode ser candidato ao governo de São Paulo em 2026.
A entrega é vista como possível desistência do governador em tentativa de reeleição certa, apesar de seu discurso oficial, além da tentativa de a sigla recuperar a influência no estado, perdida, sobretudo, pelo PSD, presidido pelo secretário estadual Gilberto Kassab.
Kassab, aliás, apresenta seus presidenciáveis, os governadores Ratinho Júnior (PR) e Eduardo Leite (RS), mas a preferência de Tarcísio.
Pesquisas apontam queda de Lula e avanço da direita, que mira unificação
Analistas destacam que Tarcísio retomou articulações presidenciais discretas após o desgaste provocado pela tarifaço sobre a direita perder força. Com a segurança pública dominando o debate, áreas nas quais o governo paulista se destaca, o governador reencontrou ambiente favorável para dialogar com lideranças nacionais. A pauta da segurança recolocou Tarcísio no trilho da diretiva.
Para Ismael Almeida, cientista político, os movimentos recentes reforçam mesmo a possibilidade de uma chapa Tarcísio–Michelle. Ele aponta o evento da deputada Bia Kicis para lançar seu nome ao Senado como sinal mais evidente: “A deputada não faria esse movimento sem alinhamento prévio com lideranças locais e com o partido”, diz.
A conjuntura eleitoral também contribuiu para a movimentação conservadora. Três institutos nacionais — Genial/Quaest, Paraná Pesquisas e Futura Inteligência — registraram estagnação ou queda na aprovação de Lula na virada para novembro.
A explosão da pauta da segurança pública substituiu, nas últimas semanas, discussões econômicas e diplomáticas, reduzindo o impulso que veio ajudar o governo federal. Segundo Ismael Almeida, “a distância histórica da esquerda em relação à segurança voltou a aparecer, e a direita pôde ocupar esse espaço com rapidez”.
Eventos secundários, mas politicamente simbólicos, também desgastaram o governo — como a repercussão negativa do custo da COP30 e o acúmulo de gafes na preparação e na realização do evento. As investigações do escândalo de desvios de aposentadorias do INSS também podem produzir mais estragos sobre a popularidade de Lula.
Especialista avalia que anúncio da chapa Tarcísio-Michelle ainda será precipitado
Embora os movimentos recentes apontem para uma articulação sólida, os especialistas consideram que a definição da chapa Tarcísio-Michelle segue “incipiente”. Para Elton Gomes, professor de Ciência Política da UFPI, ainda há disputas internas relevantes, interferência judicial direta e incertezas sobre o futuro político de Bolsonaro. “Tarcísio goza de posição confortável e de horizonte de crescimento, mas a judicialização da política ainda é fator decisivo”, alerta.
Segundo ele, a escolha da vice será estratégica: “É preciso alguém que agregue voto, capilaridade e recursos. Michelle tem apelo simbólico, mas não histórico eleitoral”. Para Gomes, nomes de governadores — como Romeu Zema (Novo-MG) — poderiam oferecer maior musculatura política.
O analista ressalta, porém, que lançar o nome cedo demais seria contraproducente: “Se lançar agora, começa a ser desgastado pela imprensa, pelo governo e pelo Judiciário. O mais racional é deixar para perto do prazo final de anúncios de candidaturas”, sugere.











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