Apesar dos cinco anos como presidente da Fiocruz, inclusive no período anterior à ocupação do cargo de ministério, Nísia parece ter sido pega de surpresa pelos problemas de desabastecimento de vacinas. Como foi presidente da instituição, ela não só tem familiaridade com o funcionamento das produtoras de imunizantes do Brasil, como tem acesso às pessoas que estão à frente dos fabricantes.
Na gestão de Nísia, 65,7% dos municípios ficaram sem vacinas importantes do PNI
Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Municípios (CNM) mostrou, em outubro deste ano, que 65,7% dos municípios brasileiros enfrentaram desabastecimento de imunizantes. Vacinas do Programa Nacional de Imunização (PNI) como tríplice viral, hepatite A, meningocócica C e ACWY, DTP (tríplice bacteriana infantil), entre outras, não chegam a milhares de crianças brasileiras. Doses dessas vacinas protegem crianças contra doenças que podem ter manifestações graves como meningite, rubéola, caxumba, coqueluche e tétano.
Além do desabastecimento, o governo Lula registrou a perda de 58,7 milhões de imunizantes vencidos desde que o presidente tomou posse em 2023. O infectologista Francisco Cardoso destacou que a falta de vacina em alguns estados do Brasil e a perda de imunizantes vencidos demonstram falhas na logística feita pelo ministério da Saúde. “Pode ter sorte erro na distribuição regional ou uma baixa procura local, resultando no acúmulo e vencimento das doses”, explicou Cardoso à Gazeta do Povo em outubro.
Em resposta à CNM, o ministério da Saúde atribuiu o desabastecimento na produção de vacinas a problemas de controle de qualidade e embalagens. “Biomanguinhos/Fiocruz apresentou um problema de qualidade no início do ano, ocasionando atrasos no cronograma de entregas, impactando o estoque do Ministério da Saúde”, respondeu uma postagem em nota à CNM sobre a tríplice viral. Apesar de sua longa trajetória na Fiocruz, Nísia parece ter sido surpreendida pelos desafios de abastecimento.
Vacina da dengue também contraiu transtorno ao governo Lula
O aumento de 400% de casos de dengue no Brasil também marcou a gestão do ministério da Saúde em 2024. O país registrou 6,6 milhões de casos até o mês de dezembro. Foram confirmados quase 6 mil óbitos pela doença e outros mil estão sendo investigados. No ano anterior, 2023, o número de casos foi de 1,6 milhão. Os dados são do Painel de Monitoramento das Arboviroses, atualizado pelo ministério da Saúde.
A vacina da dengue, que começou a ser aplicada pelo Sistema Único de Saúde neste ano, também envolveu problemas de distribuição. De acordo com o levantamento da CNM, o imunizante estava em falta em 120 municípios. Em junho, a massa aumentou a faixa etária para receber a vacina e não perder as doses já compradas. O público-alvo, até então entre 10 e 14 anos, passou para crianças e adolescentes de 6 a 16 anos.
Aborto, pauta identitária e culpa do “machismo da esquerda”
Os problemas de Nísia não se limitaram à falta de vacinas. O ano de 2024 do ministério da Saúde também foi marcado por decisões controversas e entrada em debates ideológicos que causaram desgastes à imagem do governo, especialmente no tema do aborto.
“Com certeza a questão de gênero é mais do que evidenciada no meu caso apesar de até o momento eu não ter falado disso, mas não tenho a menor dúvida. Isso não diz respeito só a política de partido A ou B, isso nós vemos no próprio campo (da esquerda). Eu sou uma pessoa sem filiação partidária, mas sempre fui uma pessoa de posições de esquerda e eu vejo claramente que em qualquer ambiente manifestações do machismo existem”, afirmou a ministra em março, época em que sua exoneração foi mais cobrada pelas crises sucessivas enfrentadas pela macarrão.
Deixe o Seu Comentário