Temos duas certezas na vida: a morte e a imprevisibilidade. Fugir disso é inútil. A vida prega peças, os imprevistos mudam as rotas que estavam continuamente traçadas e em minutos a vida dá uma reviravolta. Não que o inesperado seja ruim, às vezes o novo caminho se mostra bem melhor do que o anterior, mas o imprevisível pode ser mais amedrontador ainda para uma categoria: as mães.
As idealizações são um prato cheio para as decepções e permeiam toda a maternidade. Começa na gravidez ao imaginar o tipo de mãe que será. “Não vou dar chupeta, não vou gritar, introdução alimentar só com orgânicos, criação positiva, método BLW…”. Continua quando o sexo do bebê é descoberto. “Ela será assim, ele assado” e está pronta a receita para a culpa materna porque uma coisa é certa, na maternidade e em quase tudo na vida a teoria é linda, já a prática…
As expectativas começam a ruir depois do nascimento. A rotina nem sempre será seguida, o tempo do filho não será o seu, a tela vai invadir a casa em algum momento e um infinito de adversidades vão fazer parte da nova vida.
Ainda assim as mães darão o que tem de melhor, vão educar conforme acharão ser da maneira correta, repetirão à exaustão o certo e errado na tentativa de direcionar os filhos para o lado bom da vida, mas nem sempre o resultado será o esperado. Afinal, ser humano é um bicho complicado e os filhos não fogem à regra.
Mesmo com todo o empenho, a prole cometerá diversos erros, alguns até vergonhosos. Esses dias ensinaram de um desabafo frustrante de uma mãe que acabou de saber do comportamento machista do filho com a esposa. “Que decepção!”, ela disse.
Por mais que a mãe não desejasse, as quedas na vida dos filhos são inevitáveis, existem lições que só se aprendem caindo. Não dá para proteger de tudo, aliás uma proteção exagerada gera ainda mais problemas no futuro.
Também existem fatores externos que influenciam no futuro de cada ser humano. As questões sociais, por exemplo, como acesso a boas escolas, a um sistema de saúde eficiente, à cultura, prática de esportes são determinantes no desenvolvimento das pessoas.
O que não dá mais é colocar toda a responsabilidade de educação na conta da mãe. Educar filhos não é território materno, mas de toda a sociedade. Eu gosto muito da frase “é preciso uma aldeia para se educar uma criança” porque é muito real.
Pai, tios, tias, avós, professoras, amigos, colegas de trabalho, vizinhos, todos devem se envolver e instruir essas crianças. Quanto mais envolvimentos, maiores são as chances de se tornarem cidadãos dignos, consequentemente, o mundo se tornar um lugar melhor de habitar.
Então você, mãe, que me lê agora, tira mais essa culpa materna de dentro de você e pare de imaginar o que seu filho se tornou. O controle não está nas suas mãos. E você, amigo, tia, vizinho, ajude e quando ver alguma cena perigosa ou comportamento impróprio, chame a atenção da criança de forma respeitosa, olhe nos olhos dela e ensine um outro jeito de agir.
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