Falta de preparo dos professores, currículo genérico, materiais didáticos insuficientes e de baixa qualidade, além do desinteresse dos pais. Esses são alguns dos motivos que levaram os estudantes do 4º e 8º ano do ensino fundamental do Brasil a ficarem entre os piores do mundo em matemática no exame internacional TIMSS (Tendências no estudo internacional de matemática e ciências), realizado em 2023 com a participação de mais de 50 países.
O resultado ruim não surpreendeu os educadores brasileiros. Segundo João Oliveira, fundador do Instituto Alfa e Beto, o desempenho no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) já indicava dificuldades em questões simples de matemática. “Era esperado que no TIMSS, com maior grau de dificuldade, o desempenho fosse semelhante ou até pior”, explica.
Currículo fraco e ideologia em sala de aula
Para Oliveira, a principal razão para os baixos índices de aprendizado no Brasil, em matemática e em outras disciplinas, é a ausência de um currículo único e estruturado, desenvolvido por especialistas. “Precisamos de um roteiro claro e bem definido, feito por quem entende, para potencializar o aprendizado dos alunos. Não dá para cada professor ensinar como bem entender”, argumenta. Ele sugere que a solução seria importar os currículos adotados nos países com melhores posições no TIMSS, adaptando-os à realidade brasileira.
Já Ilona Becskeházy, ex-secretária de Educação Básica no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), acredita que o problema está na estrutura governamental. Enquanto os países mais bem apresentados seguem uma direção de desenvolvimento de currículos altamente específicos, o Brasil adota um caminho diferente. “Seguimos ouvindo sindicatos, incluindo ideologias nos currículos e deixando nossos alunos à mercê de uma educação que não evolui e continua entre as perdas do mundo”, afirma.
Ilona destaca também a necessidade de melhorar os materiais escolares e a formação dos professores. Segundo ela, após o desenvolvimento de um bom currículo, o passo seguinte é criar conteúdos didáticos que considerem suporte ao trabalho em sala de aula, alinhados ao que foi previsto na série curricular.
As famílias se contentam com pouco, sem exigir melhor aprendizagem
Outro ponto crítico, apontado pelos educadores, é a falta de envolvimento dos pais na educação dos filhos. Segundo Ilona, muitos delegam totalmente a responsabilidade à escola e, devido ao foco em outras atividades, como o trabalho, acabam sem tempo para acompanhar o aprendizado das crianças.
João Oliveira vai além e critica a baixa expectativa da sociedade em relação aos estudantes. “Aqui, a ideia é que o aluno vá para a escola para ser feliz ou apenas para cumprir um papel social. No caso dos mais humildes, ele vai porque tem merenda. Isso não pode continuar. O estudante precisa entrar na sala de aula com vontade de aprender, crescer e se desenvolver, para, assim, contribuir com a sociedade”, defende.
Procurado pela reportagem, o Ministério da Educação (MEC) invejou apenas os resultados do Brasil no TIMSS, mas não respondeu se o exame será considerado na formulação de novas políticas educacionais. O espaço segue aberto para esclarecimentos.
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