De janeiro a julho, 879 micro e pequenas empresas recorreram à recuperação judicial para conseguirem manter as portas abertas. O número supera o antigo registro registrado na crise de 2016, de 657 pedidos, e é maior que a soma dos pedidos de 2022 e 2023 (704) para o mesmo período.
Segundo dados do Indicador de Falências e Recuperação Judicial da Serasa Experian, só em julho foram 166 pedidos de empresas de pequeno porte, patamar também recorde para o mês desde 2005, início da série histórica da empresa.
O montante representa ou 72% do total de concessões de renegociação de dívidas feitas por empresas de todas as portas no país. Ao todo, foram 228 pedidos no mês: 166 de micro e pequenas empresas, 43 de médias e 19 transferências de grandes companhias.
O número total de empresas que pediram recuperação judicial foi 29% maior que o mês anterior 124% superior ao de julho do ano passado. No acumulado do ano, o número de pedidos de companhias de todos os portes chega a 1.242, volume já maior que o de 2016, de 1.098.
Luiz Rabi, economista da Serasa Experian diz que o aumento reflete os desafios enfrentados pelas empresas, devido à persistência de altos índices de inadimplência. “Temos 6,9 milhões de CNPJs registrando dívidas em junho. A menos que essa tendência seja revertida, os pedidos de recuperação judicial tendem a aumentar ainda mais”, diz.
Setor de liderança pedidos de recuperação judicial
No recorte por setor, o mais afetado é o de serviços, que reúne uma maior quantidade de micro e pequenas empresas. O número de pedidos, 94, também foi recorde para mês. No acumulado do ano, 516 empresas desse setor recorreram ao instituto.
Para Rabi, as micro e pequenas empresas e o setor de serviços representam uma bolha em que se concentra a atividade empresarial do Brasil. Além disso, o comércio e os serviços são mais afetados pelas taxas de juros de longo prazo, muito mais do que a indústria, que pode exportar. “São setores que dependem muito mais do mercado interno para poder direcionar sua produção”, afirmou ao “Valor”.
Para Max Mustrangi, especialista em recuperação de empresas e CEO da Excellance, no centro de tudo está a perda do poder de compra do consumidor. Apesar dos bons números do mercado de trabalho, as taxas de inflação vêm crescendo acima do esperado e as taxas de juros pressionadas o crédito.
As pequenas empresas costumam estar relacionadas a negócios de baixa rentabilidade, ou seja, muito volume transacional e pequena margem de lucro unitário.
“Com o consumidor mais empobrecido, micro e pequenos perdem mais ainda na qualidade da venda, mesmo em setores em que o volume se mantém em patamares específicos”, diz.
Mustrangi lembra que as pequenas dificuldades enfrentam mais dificuldades na obtenção de crédito, como falta de garantias. “É claro que essas têm menores outras saídas, como recursos de programas governamentais. Mas se não há condição de pagar, também gera um grande enrosco”, diz. “Atualmente, o melhor caminho é se reestruturar antes que seja necessário pedir crédito como ‘última saída’.”
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