Até dias atrás, observadores do mercado financeiro se perguntavam: o que será capaz de fazer o dólar cair abaixo de R$ 6? Os acontecimentos desta semana trouxeram uma resposta. O que “aliviou” os operadores foi, primeiro, uma especulação sobre a saúde do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). E, depois, uma “pancada” do Banco Central, que promoveu uma maior alta de juros em dois anos e meio.
Coincidência ou não, o dólar subiu após a notícia de que o procedimento realizado em Lula nesta manhã foi bem sucedido. Sob influência da alta dos juros, que costuma investir investimento estrangeiro em renda fixa, a divisa norte-americana havia começado o dia abaixo de R$ 5,90. Porém, se recuperou mais para o fim da manhã e passou a oscilar entre R$ 5,99 e R$ 6 por volta das 13h.
A moeda caiu por dois dias em meio a notícias sobre saúde de Lula e expectativa pela Selic
Na segunda-feira (10), o dólar alcançou sua maior cotação nominal de fechamento, de R$ 6,08, sob influência da paralisia do pacote fiscal no Congresso. A melhoria do mercado começou no dia seguinte, quando se soube da cirurgia feita às pressões para drenar uma hemorragia dentro dos crânios do presidente. O dólar fechou em queda de 0,6%, cotado abaixo de R$ 6,05. A B3, Bolsa de Valores, subiu 0,8%.
“Fico até sem jeito de falar isso uma vez que se trata da vida de alguém, mas nitidamente a Faria Lima vê com bons olhos essa piora do quadro clínico do presidente”, escreveu o economista André Perfeito, em comentário enviado à sua lista de transmissão . “A leitura é que as chances de Lula concorrer em 2026 diminuem e assim os nomes da direita tendem a ganhar força na corrida eleitoral, o que poderia indicar configurações fiscais mais fortes lá na frente.”
Na tarde de quarta (11), o mesmo economista resumiu a seguinte forma de negociações: “Bolsa sobe 2 mil pontos e dólar cai abaixo dos R$ 6 depois de notícia sobre novo procedimento em Lula. Pronto, o comentário era esse. E todos nós sabemos o que isso quer dizer”. A Bolsa fechou o dia em alta de 1%. O câmbio, em baixa de 1,3%, é vendido a R$ 5,97. Além da saúde do presidente, a expectativa de forte alta da taxa básica de juros (Selic) também parece ter influenciado as operações.
Nesta quinta (12), o médico de Lula informou que o procedimento realizado de manhã cedo “foi um sucesso” e que o presidente deve ter alta no início da semana que vem. O que julgar pelo comportamento dos últimos dias pode abalar o humor das mesas de investimentos.
O dólar começou o dia em nova queda, chegando a cair abaixo de R$ 5,90, também sob influência de um leilão de dólares levantado pelo BC. Por volta das 11h30, porém, a moeda era vendida perto de R$ 5,95, aproximando-se da cotação da véspera. Uma hora depois, a cotação já estava em R$ 5,99. E chegou a bater em R$ 6 perto das 13h.
Ao subir Selic em 1 ponto, Copom deu aviso mais “duro” desde 2016
No início do dia, o mercado reagiu ao aumento de 1 ponto percentual da Selic e, principalmente, a um aviso dado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. Segundo o comunicado, a tendência é de que 2025 comece com duas altas do mesmo tamanho.
Segundo a consultoria LCA, o texto divulgado nesta quarta foi o mais “hawkish” (“duro”) desde 2016, ano em que Dilma Rousseff (PT) foi deposta. A Selic ficou 15 meses estacionada em 14,25% ao ano entre julho de 2015 e outubro de 2016 – e é para esse patamar que o BC pretende levar a taxa no começo do próximo ano.
O economista-chefe da G5 Partners, Luiz Otávio Leal, descreveu o movimento do BC como “agressivo” e disse entender que ele tem dois objetivos: “O primeiro seria dar um choque de repetição, mostrando que o Banco Central vai fazer de tudo para trazer a inflação para a meta, independentemente da postura fiscal do governo. O segundo seria dirimir as dúvidas com relação à postura do BC quando da mudança de sua diretoria e, principalmente, de seu presidente”.
Em janeiro, Gabriel Galípolo, indicado por Lula, passa a comandar a autoridade monetária, em substituição a Roberto Campos Neto. Com outras substituições já programadas, o Copom terá sete membros nomeados pelo atual governo e dois remanescentes da gestão de Jair Bolsonaro (PL).
A maior dúvida do mercado era sobre as primeiras decisões do BC sob o comando de Galípolo. Com a sinalização feita nesta quarta, ficaram “contratados” dois aumentos fortes na Selic já na largada, o que em esses tranquiliza investidores em relação à condução da política monetária.
Alta da Selic reduzia cotação do dólar no curto prazo, segunda previsão de economistas
Vários economistas ligados a bancos e casas de investimento afirmaram esperar a queda do dólar no curto prazo após a decisão e o comunicado do Banco Central sobre a Selic. Mas, considerando o rápido “rebote” da moeda norte-americana nesta manhã, quando as cotações retomarem os preços após começar o dia em forte baixa, a duração do intervalo no câmbio é incerta.
“A decisão ousada e a orientação futura demonstram o compromisso do Banco Central em conter a inflação e as expectativas inflacionárias, além de recuperar sua referência e a confiança dos investidores. Esperamos que o real reaja confirmado à notícia”, escreveu Eirini Tsekeridou, analista de renda fixa do banco suíço Julius Baer.
Para Claudio Pires, sócio-diretor da MAG Investimentos, com a decisão desta quarta o Banco Central se colocou “à frente do mercado” e não mais “atrás da curva”. “O BC antecipou muito mais do que o mercado acreditou, o que deve ser bem recebido pelo mercado”, apontou.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) usou palavras como “incompreensível” e “totalmente injustificada” para definir a escolha do Copom. “Não faz sentido no atual contexto econômico, marcado pela desaceleração da inflação em novembro e pelo pacote efetivo de corte de gastos apresentado pelo governo federal”, afirmou a entidade, em nota.
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