A crise do banco americano SVB gerou o sinal dos investidores para a possibilidade de mudanças nos rumores da política monetária
Eduardo Cucolo
São Paulo, SP
A crise do banco americano SVB gerou o sinal dos investidores para a possibilidade de mudanças nos rumores da política monetária naquele país, com reflexos também na trajetória da taxa básica de juros no Brasil.
Nesta segunda-feira (13), houve queda nas taxas de juros negociadas nos mercados americano e brasileiro. A expectativa para os juros nos EUA ao final de 2023 recuou de algo próximo de 5,5% para a casa dos 4,5% ao ano.
O Goldman Sachs, por exemplo, já está disponível a possibilidade de que o Federal Reserve, o banco central americano, faça uma pausa no processo de alta de juros neste mês, na reunião marcada para a próxima semana.
A curva de juros no Brasil já indicava a aposta em um corte na taxa básica na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) no final de junho. Ou seja, a expectativa era que o Banco Central ainda manteria a Selic nos atuais 13,75% ao ano nas duas reuniões anteriores, em 22 de março e 3 de maio. Agora, as taxas mostram que aumentaram a aposta em uma antecipação desse corte.
Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC e presidente do Conselho de Administração da Jive Investments, afirma que os estímulos da crise do SVB podem levar a um corte da taxa básica mais cedo que o planejado anteriormente.
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“Se houver um grande contágio no resto da economia [global], sem dúvida, isso pode antecipar uma queda de juros no Brasil. Não acho que é disso que estamos falando ainda, mas precisamos ver quais os aperfeiçoamentos dessa história.”
Figueiredo afirma que o banco central e o Tesouro dos EUA agiram de forma certeira, tempestiva e abrangente, ao anunciarem medidas de socorro ao sistema financeiro local. Também se destaca a reação do mercado neste primeiro momento, melhor que a esperada.
Mas disse que é preciso esperar para ver se mais instituições precisarão de ajuda e se será possível socorrê-las. “Isso tudo está em aberto.”
Matheus Pizzani, economistas da CM Capital, afirma que um aumento menor dos juros nos EUA, como precificado neste momento pelo mercado, é apenas um dos fatores que podem abrir caminho para o Banco Central do Brasil cortar a taxa básica mais cedo que o esperado.
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“Vale destacar que este processo seguiria atrelado às melhorias no campo fiscal e subsequente melhora nas expectativas [de inflação] dos agentes de mercado.”
Pizzani afirma ainda que o banco central dos EUA segue atento ao comportamento da tendência. Para ele, dados que serão divulgados ao longo desta semana também podem ser decisivos para a decisão do cumprimento de política adotada, no próximo dia 22.
Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama, diz não enxergar uma relação de causa-efeito do evento do SVB com as decisões do Banco Central do Brasil. Para ele, a política monetária da instituição é mais suscetível à nova regra fiscal, que substituirá o teto dos gastos, do que à quebra do banco americano.
Os economistas dizem que ainda é cedo para especular sobre a chance de uma crise sistêmica nos EUA, pois a primeira impressão é que não há semelhança com o que ocorreu com o banco Lehman Brothers em 2008.
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Ele lembra ainda das discussões sobre uma possível crise de crédito relacionada ao mercado brasileiro desde o início deste ano, após a crise das Lojas Americanas. “Se estamos na antessala de uma crise de crédito por aqui, como defendem alguns analistas, isso precisa ser evitado e a redução da Selic ajudaria bastante”, diz o economista.
No Brasil, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse nesta segunda-feira (13) que aparentemente o episódio não vai ter uma crise sistêmica, especialmente após a reação das autoridades americanas.
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