Fernanda Chaves diz que além de ter que deixar o país com a família, não poderia participar do velório e enterro da amiga Marielle Franco e precisou explicar para a filha pequena o que foi 'assassinato'. “A gente teve que sair em um carro escoltado, abaixados, parecia que eu estava fugindo” Fernanda Chaves Reprodução Sobrevivente do atentado contra a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, e primeira testemunha a depor no júri dos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, a jornalista Fernanda Chaves contou como sua “vida mudou completamente” após o duplo assassinato. Ela também lembrou como foram os últimos momentos da vida de Marielle e Anderson e que, quando estava asilada, ainda teve que explicar para a filha o que era assassinato. “O impacto sobre a minha filha foi o mais preocupante para a gente. A minha filha, no dia que saímos do Rio de Janeiro, a gente teve que sair em um carro escoltado, abaixados, eu estava de osso. Parecia que eu estava fugindo .Ela se sentiu em fuga”, disse Fernanda. Fernanda Chaves Reprodução A jornalista pediu que os réus não estivessem presentes durante seu depoimento. O que foi acatado pela juíza Lúcia Glioche. 'Mamãe, o que é assassinato?' A jornalista lembrou que quando entrou no avião para deixar o Brasil com a família, a filha pequena começou a fazer questionamentos. “'Mamãe, o que é assassinato?' Ela desconhecia o que era isso. Em um primeiro momento evitamos falar o que tinha acontecido. O carro da vereadora Marielle Franco com marcações feitas na lateral e o vidro traseiro estourado por tiros José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo Momentos antes do assassinato Segundo Fernanda, ela mexia no celular, assim como Marielle, quando foram atacadas. “Eu ouvi uma rajada em nossa direção. Eu percebi que era uma rajada em direção ao carro. Em um reflexo, eu me abaixei. Eu estava atrás do Anderson e do lado da Marielle. Eu me enfiei atrás do banco do Anderson. Eu percebi que o carro foi atingido, mas seguiu em movimento. O Anderson esboçou dor, falou “ai”, mas foi um suspiro. Eu lembro que o carro estava andando, mas lembro dos braços dele caindo. de mim”, disse. Um jornalista disse que, no primeiro momento após o atentado, acreditou que eles haviam passado por um tiroteio. “Eu acreditava que tinha acabado de passar por um tiroteio e o carro tinha passado pelo meio do tiroteio. Então, eu achei que tinha passado por isso. Na minha cabeça, eu tinha que sair do carro e pedir ajuda, mas saí com muito medo. Abri a porta e desci engatinhando com muito cuidado, achando que poderia ter acontecido uma ocorrência atrás Eu estava ensanguentado, muito sujo de sangue E comecei a gritar por socorro, pedir ajuda, por uma ambulância. Lembranças confusas Segundo Fernanda, ela tem “lembranças confusas” e que após os tiros ela sentiu o corpo arder. “Eu olhei para dentro do corpo e esperava que a Marielle estivesse desmaiada. Eu não acreditava que ela estivesse morta. Eu tremia demais, estava em um estado pré-choque. Eu tentava me manter, de alguma forma, consciente. Essa mulher chamou a ambulância. Eu queria falar com meu marido, mas eu não lembrava de número, de nada”. Marielle, o documentário Divulgação/Globoplay Mudança de vida após as mortes Assessora de Marielle, Fernanda Chaves afirma que “sua vida mudou completamente” após a morte da vereadora. Um jornalista disse que foi orientado a sair imediatamente da casa que morava e desde então nunca mais voltou para casa na Tijuca, na Zona Norte do Rio. “Minha vida mudou completamente. Embora sejam sete anos desse atentado, não há normalidade. Eu tive que sair do país. Fui orientado a sair imediatamente da minha casa. Eu saí de casa dois dias e meio depois com meu marido e minha filha, após aguardar o tramite da Anistia Internacional, que ofereceu um acolhimento”. A ex-assessora destacou ainda que não poderia participar do velório, enterro e manifestações pedindo justiça por Marielle e Anderson. “Mamãe, o que é assassinato”, disse a filha a Fernanda Chaves Reprodução “Eu fiz parte da coordenação política dela, mas antes disso tivemos quase 15 anos de amizade. Eu não pude ir ao velório, ao enterro, à missa de sétimo dia. As pessoas acham glamuroso estar fora do país, mas eu queria estar lá. Eu zelava muito pela imagem dela, e em menos de duas horas tinha fake news em relação a ela”. Preocupações de Marielle À Justiça, Fernanda disse que Marielle era muito atuante e trabalhada nas frentes ligadas aos direitos humanos. Mas, que “em nenhum momento ela se sentiu ameaçada”. “Ela nunca teve conversa comigo nesse sentido”. “Tinha uma preocupação muito grande da Marielle em relação ao direito da moradia. A Marielle sempre esteve na luta por moradia, no escopo dos direitos humanos. Na Câmara de Vereadores, a Marielle pegou logo a presidência da Comissão da Mulher, que também era uma paixão por ela”. Ainda de acordo com Fernanda, Marielle fez um acordo com a mulher, a atual vereadora Mônica Benício, para chegar em casa cedo e ter uma vida fora do trabalho. “A Marielle tinha feito um acordo com a Mônica [Benício]. A Marielle tinha um grande volume de trabalho. E ela queria cumprir à risco um combinado dela com a Mônica de estar, no máximo, às 21h em casa”.
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