Quatro produtores Affiliado ao Cooxupé (cooperativa regional de produtores de café em Guaxupé), a maior cooperativa de café árabe do mundo, foi adicionada à lista suja do Brasil para o trabalho escravo, atualizado pelo Ministério do Trabalho Brasileiro (MTE) em 9 de abril. Os agricultores foram incluídos em gestão em gestão em que os trabalhadores em 9 de abril, em 9 de abril.
As inspeções nas propriedades dos membros de Cooxupé ocorreram entre junho de 2023 e julho de 2024. Nos quatro casos, o MTE descobriu que os trabalhadores não tinham contratos formais, viviam em acomodações abaixo do padrão e não tinham acesso à água potável.
Cooxupé disse que, ao saber da lista de sujas atualizadas, “bloqueou preventivamente os membros listados”, suspendeu as compras de café das fazendas envolvidas e “segregou quaisquer lotes armazenados para garantir a rastreabilidade e a integridade dos produtos entregues aos clientes”. Leia a declaração completa de Cooxupé aqui.
Em 2024, a Cooxupé registrou a maior receita em sua história: 10,7 bilhões de BRL (1,8 bilhão de dólares). Dos 6,6 milhões de sacos de café recebidos pela cooperativa naquele ano, 80% foram exportados. Somente Cooxupé representou 10% do total de exportações de café do Brasil durante o período.
A adolescente colheu café descalço
Na Córrego do Jacu e Paquera Farms em Juruaia, o estado de Minas Gerais, um adolescente de 16 anos estava colhendo café descalço quando os inspetores trabalhistas chegaram, de acordo com um relatório do MTE acessado por Repórter Brasil. Trazido por um intermediário trabalhista, ele viajou mais de 850 km de Chapada do Norte, na região do vale de Jequitinhonha.
O adolescente disse aos auditores trabalhistas que ele havia sido instruído a permanecer apenas na fazenda devido a menos de 18 anos. No entanto, ele entrou na cidade sem permissão e foi punido por ser forçado a trabalhar sozinho sem acesso a uma colheitadeira mecanizada, afirma o relatório.
As duas propriedades, de propriedade do fazendeiro Marcos Florio de Souza, foram inspecionadas em 17 de junho de 2024. Na época,, Repórter Brasil relataram que Souza era um membro do Cooxupé. Além do adolescente, outros cinco trabalhadores foram resgatados.
Os trabalhadores disseram aos inspetores que às vezes não tinham água potável, pois os suprimentos não eram reabastecidos nos locais de trabalho. Em uma ocasião, seus recipientes de água foram danificados e ficaram sem água durante todo o dia de trabalho, que durou das 7h às 17h30
Repórter Brasil Tentou entrar em contato com Marcos de Souza através de seu advogado, mas não recebeu resposta. O espaço permanece aberto para declarações futuras.
Dois meses sem salários
No mesmo dia, 11 trabalhadores foram resgatados da Fazenda Cachairinha em Nova Resende, onde estavam colhendo café para o produtor Vagner Freire da Silva, também um membro cooxupé na época.

De acordo com o relatório de inspeção trabalhista, esses trabalhadores não receberam salários completos por dois meses.
As queixas em relação aos abusos do trabalho sobre as propriedades de Silva e Souza foram submetidas ao MTE pelo Adere-MG (articulação de trabalhadores rurais no estado de Minas Gerais). “Recebemos o relatório diretamente dos próprios trabalhadores”, disse Jorge Ferreira Dos Santos Filho, coordenador da Adere-MG. “A microrregião de Guaxupé – além da área imediata de Cooxupé – é atormentada por violações de direitos, trabalho informal e recrutamento ilegal de trabalho de fora da região”.
Por meio de seu advogado, Silva disse que “discorda da conclusão de que a situação constituía trabalho de escravo, pois acredita que os elementos encontrados não atendem aos critérios legais para essa designação”, acrescentando que os trabalhadores eram sazonais. Ele confirmou que Cooxupé o suspendeu imediatamente após a inspeção. Leia a resposta completa aqui.
Os trabalhadores dormiam ao lado de bezerros
Na fazenda Barra Doce, de propriedade de Leandro Aparecido Machado em Altinópolis, cinco trabalhadores foram resgatados em 10 de junho de 2024.
O relatório de inspeção afirma que quatro viviam em uma casa adjacente a um curral onde os bezerros foram mantidos. Uma janela improvisada foi aberta diretamente na área de animais. “Isso é degradante. É como ser tratado como um animal”, disse um dos trabalhadores resgatados a Repórter Brasil. “Fiquei em choque quando cheguei lá. Você nunca pensa que vai passar por algo assim. É humilhante.”
Ele explicou que, nos últimos três anos, ele viajou da Bahia para trabalhar em Minas Gerais durante a colheita, mas nunca havia experimentado condições tão terríveis. Ele gastou cerca de 2.000 BRL (340 USD) em transporte, alimento e equipamentos de proteção.
Sacos e panos eram alguns dos equipamentos utilizados na colheita que os trabalhadores tinham que pagar por seus próprios bolsos. O relatório de inspeção ressalta que o empregador, “mesmo com os benefícios que obteve como membro da cooperativa regional de produtores de café em Guaxupé”, adquiriu os “sacos e panos necessários para a colheita e os revendeu para os trabalhadores”.
Por meio de seu advogado, Leandro Machado disse que “reconhece que havia falhas contratuais, especialmente em formalizar as relações de trabalho”, mas “essas irregularidades ocorreram em um contexto em que os trabalhadores, na maioria das vezes, trabalhavam como trabalhadores sazonais, também prestando serviços a outros produtores rurais”. Ele também esclareceu que foi bloqueado por Cooxupé logo após a inspeção. Leia a resposta completa aqui.
Mulheres trabalhavam sem banheiros
Na fazenda Ouro Verde, em Carmo do Rio Claro, Lene Francisco Vilela da Silva foi multada por submeter 14 trabalhadores a condições de escravo em 28 de junho de 2023.
O grupo morava em acomodações que quebraram paredes e tentaram improvisar um quarto dividindo a sala de lonas, de acordo com a equipe de inspeção. Não havia guarda -roupas, e os pertences estavam espalhados ou pendurados em fios pregados nas paredes.
A janela da cozinha estava coberta de plástico e não havia banheiros no campo. “Foi tão ruim que eu nem gosto de lembrar”, disse uma das mulheres resgatadas Repórter Brasil. Ela disse que durante a menstruação, a falta de instalações era ainda mais humilhante. “Essa foi a pior parte.”
Ela compartilhou um quarto com outros três, incluindo um homem, e disse que se sentiu ameaçada após o resgate. “Eu estava com tanto medo. Eu só queria voltar para casa.” Ela deixara sua filha de nove anos para trás na Bahia. “Fiquei pensando nela … este ano, não vou voltar.”
Repórter Brasil Tentei entrar em contato com Lene da Silva e seu advogado, mas não recebeu resposta. O espaço permanece aberto para declarações futuras.
Cooxupé busca empréstimo “verde” do banco holandês
Cooxupé busca um empréstimo de 30 milhões de dólares da FMO, o Holandês Banco de Desenvolvimento. Ainda na fase de negociação do contrato, o empréstimo, se aprovado, deve ser usado pela cooperativa para adquirir, armazenar e trocar café certificado pelo Rainforest Alliance Standard. As negociações entre FMO e Cooxupé estão em andamento desde agosto de 2024.
Com o slogan “Banking for a Better World”, o Banco de Desenvolvimento Holandês é financiado por recursos públicos e privados e é supervisionado pelo banco central holandês. De acordo com a FMO, o financiamento para Cooxupé “possui uma etiqueta 100% verde e um rótulo de desigualdades potencialmente 100% reduzidas”.
“O primeiro item da lista de exclusão da FMO é o trabalho escravo. Esses casos mostram que o banco não está operando de acordo com sua missão de apoiar o desenvolvimento sustentável, pois está financiando grandes empresas e priorizando o lucro”, diz Merel van der Mark, coordenador da Coalizão de Florestas e Finanças, uma plataforma que analisa potencialmente vinculada ao Socio-Environmental Coalition.
Ela argumenta que o governo holandês é responsável pela supervisão. “O estado é o acionista majoritário, portanto, deve garantir que esse dinheiro esteja sendo usado adequadamente e que as políticas estão sendo efetivamente implementadas. E isso não está acontecendo”, acrescenta ela.
Quando contatado, a FMO afirmou que ainda está em negociações com a cooperativa e que “as condições de trabalho nas fazendas cooxupé continuam sendo um tópico crítico e recorrente nas discussões”. O banco também disse que, se um contrato for alcançado, pretende “incluir assistência técnica para ajudar a fortalecer as condições de trabalho de monitoramento do programa existente entre seus fornecedores”.
Cooxupé se recusou a comentar sobre “tópicos e assuntos de negociação em andamento” e enfatizou que “possui um programa de integridade consolidado, amplamente comunicado às partes interessadas internas e externas, que define as melhores práticas trabalhistas e o respeito pelos direitos humanos”. As declarações completas podem ser lidas aqui.
De Cooxupé ao mundo
Entre as empresas que compraram café da Cooxupé entre 2024 e 2025, nos anos seguintes aos casos documentados de trabalho escravo, estão multinacionais Volcafe, Louis Dreyfus e NKG, de acordo com dados alfandegários acessados por Repórter Brasil. Essas empresas compram grãos de café verde nos países produtores e os exportam para clientes responsáveis pela assação e varejo da bebida.
Quando contatado por Repórter BrasiL, Volcafe não mencionou os casos específicos destacados no relatório e disse que iniciou uma investigação interna para “entender os detalhes do assunto e a natureza das alegações que estão sendo feitas”.
A LDC (Louis Dreyfus Company) declarou que não possui um relacionamento comercial direto com os produtores mencionados e que Cooxupé garantiu à empresa que o café fornecido à LDC não veio de fazendas que usavam trabalho escravo.
A NKG, um grupo alemão considerou o maior comerciante de café verde do mundo, também afirmou que não compra café diretamente dos quatro produtores listados no registro. Em um comunicado, a empresa disse que foi informada por Cooxupé que o café das quatro fazendas também não foi enviado para outras subsidiárias do grupo.
As respostas completas das empresas podem ser lidas aqui.
Laços com grandes marcas
Além de ser membro cooxupé, o produtor de café Lene Francisco Vilela da Silva – um dos agricultores incluído na atualização mais recente da lista suja do Brasil para o trabalho escravo – também era um fornecedor da Exportadora de Café Guaxupé. Isso é evidenciado por faturas anexadas ao relatório de inspeção do trabalho, que Repórter Brasil acessado. A empresa exporta grãos de café para clientes como Melitta, Lavazza, JDE (proprietário da L'Or Brand) e Starbucks, de acordo com os registros de exportação revisados pelo relatório.
Em resposta a Repórter Brasilo Melitta Group afirmou que não comprou café na fazenda Ouro Verde e que a Exportadora de Café Guaxupé, com a qual mantém um “relacionamento comercial confiável”, visita regularmente e audita seus fornecedores e também verifica a lista suja.
A marca italiana LaVazza disse que tem um relacionamento comercial com a Exportadora de Café Guaxupé desde a década de 1960 e que a empresa “é um dos nossos fornecedores de café mais históricos e confiáveis”. De acordo com o LaVazza, o exportador brasileiro garantiu que rastreou todo o café adquirido da Fazenda Ouro Verde e que nenhum foi enviado a LaVazza.
JDE também negou receber café da fazenda. “Para garantir nosso compromisso com as práticas adequadas, temos procedimentos de devida diligência em vigor para avaliar e monitorar nossos fornecedores, incluindo medidas para evitar trabalho forçado ou escravo”, afirmou a empresa. Leia todas as respostas aqui.
A Starbucks disse que a Fazenda Ouro Verde não tem histórico de participação em práticas de café, o programa de verificação ética de fornecimento de café da Multinacional. “O exportador de Cafe Guaxupe é um exportador regular da Starbucks, no entanto, apenas fornecemos café verde dessa entidade que foi verificada por meio de práticas de café”, acrescentou a empresa. Leia as respostas completas aqui.
Exportadora de Café Guaxupé não havia respondido Repórter BrasilAs consultas no momento em que este artigo foi publicado.