O g1 visitou a Expedição 21 em um dia de atividades sobre liberdade sexual e questões raciais. O programa ainda conta com eventos sobre como ter uma vida independente mesmo com a condição, festas para a integração dos participantes e aulas de formação para os pais. Expedição 21 reúne jovens com síndrome de Down para imersão em SP Aline Freitas/g1 Com direito à mesma música tema do Big Brother Brasil, uma “realidade” de imersão realizada em Cotia, na Grande São Paulo, reuniu um grupo de 18 adultos com síndrome de Baixo. O objetivo do programa é, em um período de três dias, passar para os participantes lições sobre como levar uma vida independente. Esta foi a quinta edição da Expedição 21, que começou em 2018 e já ocorreu em outras cidades, como Florianópolis e Rio de Janeiro. Desta vez, uma casa de luxo alugada na Grande São Paulo foi escolhida para sediar o evento entre 14 e 16 de agosto. ✅ Clique aqui para se inscrever no canal do g1 SP no WhatsApp O g1 visitou a casa dos expedicionários no segundo dia de evento, que foi reservada para escritórios sobre autonomia, uma atividade com uma sexóloga, uma palestra sobre diversidade racial e uma festa para confraternização . Nesta matéria você confere: Cromossomo e Expedição 21 Cronograma e as regras Participantes e seleção O segundo dia de atividades Os pais A vida de quem já participou Próximos passos Cromossomo e a Expedição 21 A iniciativa de criar a Expedição 21 é de Alex Duarte. Formando, inicialmente, em comunicação social, ele teve o primeiro contato com a condição quando ainda era jornalista, na produção de uma reportagem sobre um jovem com síndrome de Down que havia passado na faculdade de nutrição. “No meio da entrevista, ela me fez uma pergunta que mudou completamente minha vida”, contornou. “Ela me perguntou: 'Alex, você tem um melhor amigo? Porque eu não tenho, ninguém me convida para sair. De vez em quando, me chamam para um aniversário e eu sei que é por obrigações. E, por isso, eu queria te perguntar se você gostaria de ser meu melhor amigo'.” A partir da amizade com Adriele, Alex decidiu mudar de área e se especializar em pedagogia para pessoas com trissomia do 21 (a síndrome de Down é causada por uma cópia extra do cromossomo 21). Anos depois, em 2010, ele fundou o Cromossomo 21, um instituto que busca oportunidades para pessoas com a condição. Da iniciativa, já saímos um documentário, uma visita à ONU e, claro, o programa Expedição 21. Alex Duarte ajuda expedicionária com tarefa da experiência Aline Freitas/g1 Cronograma e as regras Durante os tês dias de aprendizagem, as atividades dos “expedicionários” são externos para a independência em todas as esferas, como morar sozinho, liberdade sexual e oportunidades de emprego. Algumas empresas parceiras também promovem visitas a escritórios e estúdios. A Rede Globo abriu suas portas no Rio de Janeiro e, em São Paulo, foi uma vez da Microsoft. “Eles vão conhecer o complexo da Microsoft Brasil para entender como é que funciona a criação de videogames para pessoas com deficiência, videogames que são inclusivos para quem nasceu com uma deficiência intelectual”, afirmou Alex. Além disso, os participantes ainda curtem duas festas, uma de formatura, e um no segundo dia de atividades, que promove a socialização e a amizade. E só amizade mesmo, porque o namoro e as projeções de afeto mais quentes (como beijos) são proibidos na Expedição 21. “E isso é um grande desafio para eles aqui, porque eles sabem que estão em um curso de familiar e, se você descumprir essa regra, você é desclassificado da expedição. Porém, como eles criam conexões muito profundas, isso fortalece a amizade e às vezes nessas conexões há amor mesmo, né? Pensando nisso, o criador da aprendizagem começou a permitir que os casais na formação, após o fim do programa. Assim como no BBB, ex-participantes que se conheceram na casa nas edições anteriores estão casados hoje em dia (falaremos deles mais para frente). Entre as regras, também é obrigatório manter os ambientes arrumados, prestar atenção em um monitor quanto a tocar uma corneta e a participação durante as atividades. Os exploradores são divididos em equipes e, a cada regra quebrada – com exceção do namoro, que leva à expulsão -, o grupo perde pontos. No final, os participantes com mais pontos são os vencedores. A competição, contudo, não tem prêmio. “A gente faz isso para eles entenderem que também podem competir”, explicou Alex. “A gente não conta qual o prêmio e eles também não perguntam, porque para eles o importante é participar.” Os participantes e a seleção Participantes da quinta edição da Expedição 21 Divulgação Entre os “irmãos” da edição de São Paulo, estão figuras conhecidas como a modelo Maju de Araújo, que tem quase 1 milhão de seguidores no Instagram, e o inspirador João Vitor Paiva. “Vai me ajudar em muitas coisas, porque eu quero ser pai também, quero ter meus filhos, com a minha namorada, e eu queria muito que isso levasse muitas coisas para a minha autonomia”, respondeu o influenciador sobre as vantagens da Expedição. vez, os 18 participantes escolhidos têm entre 18 e 34 anos, sendo 11 mulheres e 7 homens, segundo Alex, durante o processo de seleção, a equipe se preocupa com a diversidade entre os participantes. e nível de autonomia. Nas outras vezes em que a Expedição ocorreu, os participantes não pagaram o programa Porém, com a perda do patrocínio de uma empresa que era a mantenedora do projeto, a inclusão foi deixada de ser gratuita. outro grande patrocinador, a solução encontrada foi fornecer quatro vagas para “bolsistas”. “Essa é a primeira edição paga, mas que a gente tem quatro pessoas que participam de forma gratuita. social”, explicou Alex. O segundo dia de atividades O g1 visitou a Expedição 21 no segundo dia de atividades, quando a psicóloga e sexóloga, Nancy Costa abordou a sexualidade entre pessoas com a síndrome. Em uma conversa sem infantilização, os participantes eram encorajados a comentar sobre seus desejos e se referirem às suas partes íntimas pelo nome, nada de “larissinha” ou “pipi”. Nancy também abordou métodos contraceptivos e a vida de casado. Como um dos objetivos da Expedição era ter uma diversidade de autonomia na participação, as ações durante uma conversa foram variadas. Muitos se sentiram à vontade para compartilhar suas experiências e vontades, mas algumas pessoas se sentiram incomodadas com o tema e chegaram a pedir para deixar a sala. “O que eu percebi é que essa mentoria está muito ligada à questão do desejo, que, de certa forma, é tolhido o tempo todo”, relatou Nancy. “Tem pais que ainda lavam o filho que tem 18, 20 anos.” A sexóloga e psicóloga Nancy Costa dá aula de educação sexual para expedicionários Aline Freitas/g1 Além de Nancy, a especialista em diversidade racial Luciana Viegas também conversou com os expedicionários. Ela abordou o racismo estrutural e como o percebeu no dia a dia. “Eu estou muito encantada porque eles são muito acolhedores e é um momento importante pra gente pode debater deficiência, raça e a importância disso dentro da comunidade”, relatou ontem. Luciana dá palestra sobre racismo para a quinta turma da expedição 21 Aline Freitas/g1 No final do dia, houve ainda um desafio de localização, em que primeiro eu andaria pelo condomínio e depois encontraria o caminho para a casa. No final do dia, o programa ofereceu uma festa tipo balada. Os pais Para quem já está envolvido na expedição há algum tempo, como Alex e Nancy, já há uma percepção importante sobre algo que, mesmo não tendo esse objetivo, acaba atrapalhando o desenvolvimento da autonomia de pessoas com síndrome de Down: a superproteção dos pais . Algo que também funciona durante o processo de herança. “Enquanto os jovens estão aqui, os pais estão em outro espaço também sendo trabalhos não para proteger os filhos, mas para que eles possam receber os filhos na forma como eles vão chegar empoderados, mais independentes”, conta Alex. Durante uma conversa com uma sexóloga, alguns participantes justificaram que não poderiam falar sobre o assunto porque “os pais não deixaram”. Ela, Alex e funcionários comentaram que, muitas vezes, é difícil convencer os pais de que os filhos com trissomia do 21 podem levar uma vida independente, podem ter uma vida sexual ativa e, até mesmo, morar sozinhos. A vida de quem já participou Como exemplo de vida autônoma, um casal de ex-participantes conversou com os expedicionários da quinta edição. Manuel e Isabela se conheceram na primeira turma da Expedição 21, não namoraram em casa – por serem proibidos – mas mantiveram contato aqui fora, até resolverem se tornarem um casal. Entre os assuntos interessados, os dois contaram que moraram juntos, no mesmo prédio dos pais de Manuel, em Santos. Na vida profissional, Manuel dá palestras e faz faculdade de design, já Isabela é modelo. Os dois também têm um perfil juntos no Instagram em que compartilham sua rotina. Apesar de manterem os empregos, os dois presumiram, durante a conversa, que ainda precisam de ajuda financeira dos pais de Manuel. “Ainda não dá para a gente se sustentar sozinha”, disse Isabela. Ainda assim, os dois levam uma vida de casados, uma rotina que exige independência e dedicam essa conquista ao programa do Cromossomo 21. “É uma experiência muito incrível como casal, a dois. E, antes disso, éramos iguais a eles, aí aprendendo autonomia”, explicou Isabela. “[A Expedição é] uma inspiração para os outros jovens, porque a gente pode aprender mais independência, autonomia e responsabilidade”, disse Manuel. Manuel e Isabela em conversa com participantes da Expedição 21 Aline Freitas/g1 Próximos passos Os novos objetivos do programa, segundo Alex, incluem trazer mais visibilidade para a Expedição e o Cromossomo 21. O intuito é voltar a ter uma imersão gratuita para todos os participantes e não só os bolsistas. O foco, agora, é ter mais participantes negros na tradição, algo que, segundo Alex, ainda é uma dificuldade. “Poucas pessoas negras se inscrevem, às vezes nenhuma”, explicou. “Já houve participantes negros, mas é cada vez mais difícil.” Ele e Luciana pretendem realizar uma parceria para que encontrem uma família com um filho negro e portadora da condição disposta a participar do programa. Além dos objetivos, a Expedição 21 também já tem seu próximo destino definido. Os novos participantes e Alex irão para Orlando, nos Estados Unidos, desta vez por seis dias e com direito a visita aos parques de diversão. O número de participantes também vai mudar, serão 10, no lugar de 18, que ficarão na tradição de 23 a 29 de outubro. O planejamento do programa também conta com uma reunião de veteranos, realizada no Rio de Janeiro, no final do ano. Turma da Expedição 21 em São Paulo Aline Freitas/g1 *Sob supervisão de Paula Lago
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