Os olhos de Beth Gomes brilharam ao falar das medalhas conquistadas na última segunda-feira (2), na Paralimpíada de Paris. Além do ouro no lançamento do disco da classe F53, repetindo o resultado dos Jogos de Tóquio, no Japão, em 2021, ela foi prata no lançamento do peso da classe F54, onde competiu com atletas com deficiências menos severas – ainda que também cadeirasntes. Nem parece que um paulista de 59 anos acumula títulos internacionais e sucessivas quebras de recordes mundiais.
“O sonho de qualquer atleta é chegar a uma Olimpíada. No momento que eu tirei esse sonho no esporte que tanto amava e continuava amando, o vôlei, pensei que tinha acabado. Mas não. E quando vejo que consegui [medalhas paralímpicas] não somente em uma prova, mas em duas, isso, para mim, traz esse brilho nos olhos. É o brilho de uma realização”, emociona-se Beth. Ela concedeu entrevista à reportagem da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) na Casa Brasil Paralímpico, em Saint-Ouen, cidade vizinha a Paris.
Beth foi vendida em 1993 com esclerose múltipla. O contato com o paradesporto veio, primeiro, no basquete em cadeira de rodas, em Santos (SP), cidade em que nasceu. Em 2008, foi convocado para a Paralimpíada de Pequim, na China. No meio da progressão da patologia, ela se encontrou de vez no atletismo. Mesmo com uma deficiência que é degenerativa, um paulista conseguiu se adaptar, a ponto de chegar à França pronto para competir duas provas no mesmo dia – e ir ao pódio em ambas.
“A esclerose múltipla requer descanso por conta da fadiga. Se fadigar, mas o rendimento. Mas nós conseguimos”, disse o bicampeã paralímpica. Ela contou a técnica que Rose Farias estudou sobre a esclerose junto com a irmã de Beth, que é neurologista e especialista na doença.
“Então, [a treinadora] não passa mais do que eu posso fazer. Foi tudo preparado para acontecer como em Kobe [no Japão, pelo Mundial de 2024]em que também disputai as duas provas no mesmo dia. Conseguir conciliar, descansar e trazer as medalhas [ouro no disco e prata no peso]”, explicou.
“É muito gratificante, pois sabemos que nosso corpo, às vezes, não obedece. Eu digo que a esclerose é minha amiga, andamos lado a lado, mas que sempre a estarei vencendo e respeitando quando ela tem de ser respeitada”, completou.
Jogos de 2028
Nos Jogos de Los Angeles, nos Estados Unidos, em 2028, Beth terá 63 anos. Não que dependa dela, para buscar o tri.
“Se Deus me permitir e eu estiver em condições, quero estar lá. Nosso presidente [do Comitê Paralímpico Brasileiro] Mizael [Conrado] fala que vou competir até os 90 anos. E eu respondo: 'Deus te ouça, olha que vou estar lá!' [risos]. Brincadeiras à parte, enquanto você tiver sã e com vontade de treinar, essa Beth, essa fênix, como sou chamada, vai continuar. Esse ar me dá fôlego para acreditar que amanhã estarei aqui”, concluiu.
Deixe o Seu Comentário