A ex-jogadora de vôlei Ana Moser, que recebeu hoje (4) o cargo de ministra do Esporte, é a primeira atleta titular da pasta, desde Edson Arantes do Nascimento. Lá se vão 25 anos desde que Pelé – que morreu há uma semana e foi sepultado ontem (3) em Santos (SP) –, deixou o cargo que ocupou por três anos e cinco meses no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso. Na função, o Rei do Futebol teve papel relevante na história do movimento paradesportivo no Brasil.
Tricampeão mundial pela seleção e maior jogador de todos os tempos, Pelé foi ministro do Esporte entre janeiro de 1995 e maio de 1998. Em 25 de março do último ano à frente do cargo, foi sancionada a Lei 9.615, que ficou notabilizada, principalmente, pelo futebol, ao possibilitar que o atleta deixasse o clube após o termo do vínculo contratual. Antes, isso só ocorria mediante pagamento, que ficou conhecido como passe. Ocorre que a norma, que ganhou o nome de Lei Pelé, também incluiu o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) no Sistema Nacional do Desporto.
“Foi um reconhecimento ao esporte de pessoas com deficiência, o que abriu as portas depois para [inclusão na] Lei Agnelo Piva, de 2001, que distribui recursos de loterias federais a entidades esportivas, e outras tantas que beneficiaram o paradesporto”, destacou o presidente do Comitê Brasileiro de Clubes Paralímpicos (CBCP), João Batista Carvalho e Silva, à Agência Brasil.
O CPB foi fundado em 9 de fevereiro de 1995 e João Batista foi justamente o presidente da entidade na ocasião em que Pelé era ministro dos Esportes. Conforme o dirigente do CBCP, o Rei do Futebol ajudou o movimento paradesportivo brasileiro a ganhar projeção nacional.
“Na primeira audiência que tive com Pelé, pedi a ele que nos emprestasse sua imagem para que se virasse uma página do esporte de pessoas com deficiência no Brasil, que existia desde 1958 e poucas pessoas sabiam o que era. Ele disse que nos ajudaria de todas as maneiras que pudemos. Foi o que fez. Pelé nos aproximou de patrocinadores, artistas, meios de comunicação. Não foi à Olimpíada de Atlanta [Estados Unidos]em 1996, mas esteve conosco naquela Paralimpíada”, registrou.
Uma das integrantes da derrota em Atlanta foi Ádria Santos, dona de 13 medalhas paralímpicas na carreira, sendo quatro de ouro. Naquela edição, a velocista da classe T11 (cego total) foi ao pódio nos 100, 200 e 400 metros, sendo prata nas três disputas. Ela guarda, com carinho, a foto justamente desta última prova, em que está ao lado do guia Gérson Knittel e tem o braço erguido por Pelé.
“Ele pulou o alambrado para me cumprir. Foi incrível, não só por conhecer pessoalmente o Pelé, mas por ser um momento tão especial para mim, competindo [em uma Paralimpíada], saber que ele estava me assistindo, admirando meu resultado, recebendo esse abraço carinhoso. Quando ele nos cumpriu e viramos para o público, todos o reconheceram e aplaudiram”, conto Ádria.
Pelé foi velado no gramado da Vila Belmiro, estádio do Santos. Durante 24 horas, mais de 230 mil pessoas de todos os cantos do Brasil e do mundo estiveram no funeral, que foram acompanhados por cerca de 1,1 mil jornalistas, de 32 países. Números que deram um pouco da dimensão do Atleta do Século, cujo legado vai além do esporte no qual ele é Rei.
“A gente perde essa figura humana excepcional. Tive oportunidade de estar com o Pelé no Brasil e no exterior. Ele tinha uma força de atração, um negócio que poucas pessoas têm. E humildade. O esporte das pessoas com deficiência deve muito ao Pelé” , afirmou João Batista.
“Perdemos um grande ídolo. Meu pai o assista muito. A gente fica sabendo da história dele pelos pais e avós e passa a admirá-lo pelo trabalho que fez e pela paixão que tinha, de vestir a camisa, levar o nome do país. A gente, às vezes, transmite essa paixão às pessoas quando faz algo que a gente ama”, completou Ádria.
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