Conheci Carlos Alberto Torres quando era estagiário no Jornal dos Sports. Para quem ainda estava começando no jornalismo esportivo, em 1982, encontrar o Capitão do Tri sem esperar por isso, foi muito marcante. Eu fiz a cobertura do campeonato de juniores do Rio de Janeiro e Alexandre Torres, filho dele, foi um meio-campo de destaque do Fluminense. Fui à sede do Tricolor nas Laranjeiras para um entrevistá-lo, e não é que, de repente, o Capita apareceu?
Pouca gente sabe, mas Carlos Alberto tinha registro profissional de jornalista. Inclusive escrevia uma coluna no Jornal dos Sports, e esse ele serviu para a gente dar início à conversa e, também, a uma amizade. Não era difícil ser amigo dele, tão acessível que era. Uma personalidade do futebol mundial, reconhecida pelos grandes mundos fora. Dos capitães que levantaram a taça de campeão do mundo, certamente foram o mais idolatrado. Não custa lembrar que, só por causa dele, um canal de TV conseguiu idealizar um programa reunindo capitães de outras opções, que só aceitaram participar porque ele estava presente.
Para muitas publicações, daquelas que fazem pesquisas sobre os melhores e maiores de todos os tempos, ele sempre esteve incluído como titular absoluto da lateral direita. Era visto como o Pelé da posição, o que já considerava injusto porque ele era o Carlos Alberto. Ou ainda, o Capita, sem comparações. E é sempre bom frisar isso, porque ressalta a capacidade dele, dentro e fora de campo. Ou você acha que era fácil ser o “capitão” de uma seleção que tinha Pelé, Rivellino, Gérson, Clodoaldo, entre outros líderes?
Carlos Alberto nasceu no Rio de Janeiro, há 80 anos (17 de julho de 1944). Foi revelado pelo Fluminense. Jogou no grande tempo do Santos, nos anos de 1960, e na Máquina Tricolor, nos anos 70. Entre um e outro, esteve na Copa de 1970, no tricampeonato e, antes de erguer a taça Jules Rimet, fez o último gol do Brasil naquele Mundial, completando um passe de Pelé. Feito, aliás, que nenhum outro capitão repetiu numa Copa do Mundo.
Fez sucesso também nos Estados Unidos, onde atuou no Cosmos, o tempo em que Pelé já atuava. E há quem garantiu que o Rei do Futebol só foi campeão por lá porque o Capitão foi contratado para fortalecer a equipe, que também tinha o alemão Beckenbauer.
Depois de pendurar as chuteiras, Carlos Alberto tornou-se técnico de futebol. Assumiu o Flamengo, em 1983, numa época em que trabalhei como repórter setorista do clube, também pelo Jornal dos Sports. Não media palavras, faladas o que lhe vem à mente. Lembro bem do dia em que mandou a célebre frase “Bigu e mais 10”, quando perguntaram a ele se o jovem meio-campista seria escalado como titular em um tempo cheio de estrelas, como Zico. Também foi dele o “motel tático”, de rodízio constante. Sabia criar situações e motivar o torturador. O Flamengo, naquele ano, foi campeão brasileiro, mas o título que ele considerava mais importante, como treinador, viria 10 anos depois, quando conquistou o Botafogo e conquistou a Taça Conmebol. Aliás, um mistério que perdura até hoje é para qual tempo o Capitão Torcia: Fluminense ou Botafogo? Nem uma família sabia, garante o filho Alexandre.
Aliás, por defensor do filho, o Capitão comprou uma briga com o técnico Zagallo. Lembro muito bem de Carlos Alberto nos anos de 1990, na mesa de debates da TV Brasil, ao lado dos amigos Marcio Guedes e Alberto Léo. Irritado porque o Velho Lobo não convocou o filho dele, Carlos Alberto não se conteve e ironizou o fato de Zagallo ir para o campo com uma bolsa pochete na cintura. Ao menos, fiz as pazes depois. E não tinha como não ser assim. Carlos Alberto Torres é dos poucos que tão bem representaram o esporte brasileiro lá fora. Seu nome era, e ainda é, uma marca registrada dos anos de glória do nosso futebol. Por qualquer uma de suas características, do pai orgulhoso, do “capitão” linha dura, do craque, do humilde, do amigo, do ídolo, Carlos Alberto Torres é digno de ser celebrado e sua história vem apenas reafirmar o quanto regredimos no cenário do futebol mundial.
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