Cineasta Martin McDonagh reencontra Colin Farrell e Brendan Gleeson em história sobre amizade desfeita na ilha da Irlanda no começo do século 20. Filme premiado com estreia nesta quinta-feira (2). Aos 52 anos, o cineasta Martin McDonagh é um dos melhores de sua geração. “Os banshees de Inisherin”, ele consegue talvez sua obra mais madura com a união da experiência, o elenco de seu primeiro (e melhor) filme e ar bucólico e humor ácido de uma ilha na Irlanda do início do século 20. A comédia dramática e ácida, que estreia nesta quinta-feira (2) nos cinemas brasileiros com nove indicações ao Oscar, é o reencontro do diretor com Colin Farrell (“Batman”) e Brendan Gleeson (o Olho-Tonto Moody, da franquia “Harry Potter” ). O trio recria grande parte da magia do injustiçado e subvalorizado “Na mira do chefe” (2008), que recebeu apenas uma indicação do melhor roteiro original, em uma história mais palatável para os membros da Academia organizadora da premiação. Só é difícil saber se o mesmo pode ser dito em relação ao público em geral. Escrito pelo próprio McDonagh, “Os banshees de Inisherin” abre mão da ação e da tensão mafiosa da estreia do cineasta para abraçar uma mensagem mais aberta e misteriosa – um olhar sobre passagem do tempo e amizade. ‘Os Banshees de Inisherin’: veja o trailer do filme Amizade cheia de dedos “Os banshees de Inisherin” conta a história de dois moradores da pequena e pacata ilha rural do título, um local onde os poucos moradores passam grande parte de seu extenso tempo livre nenhum pub. Os dois formam uma dupla de amigos improváveis, como o próprio dono do bar classifica, que se encontra quase todos os dias no mesmo horário para jogar conversa fora e beber algumas cervejas. Pelo menos isso é o que os personagens contam ao público, que encontra uma trama no momento em que um deles, um violinista turrão (Gleeson), decide repentinamente que não quer mais nem ouvir a voz do outro. A decisão é tão definitiva que, por mais que o modesto criador de gado interpretado por Farrell insista em tomar a decisão, o músico ameaça cortar um dos próprios dedos e entregá-lo para o antigo parceiro caso seja incomodado novamente. Brendan Gleeson e Colin Farrell em cena de ‘Os banshees de Inisherin’ Divulgação A paciência de McDonagh As paisagens locais filmadas por McDonagh, assim como os arquétipos apresentados pelo roteiro, não deixam dúvidas de que se trata de um enredo muito irlandês. Do outro lado do mar, os moradores podem ouvir tiros de canhões da guerra civil sem dar muita importância. Mesmo assim, é fácil perceber como o cenário bucólico em que nada de muito emocionante acontece serve mesmo para receber uma discussão bem universal. Enquanto o violinista se preocupa com a marca que deixará no mundo e quer se dedicar a terminar pelo menos uma última música, o agora ex-amigo não consegue superar sua indiferença – mesmo quando os resultados de sua obstinação parecem ser catastróficos. À primeira vista, os dois comportamentos parecem exagerados e dramáticos demais. Afinal, um músico interessado em compor não pode abrir a mão dos dedos que toca seu instrumento. Do outro lado, é inevitável não pensar que existem outros amigos por aí. Mas McDonagh tece uma teia paciente e constante que lentamente mostra que, com tempo livre em abundância e opções limitadas de contatos e locais, qualquer um poderia chegar a tais extremos. Colin Farrell em cena de ‘Os banshees de Inisherin’ Divulgação Os Oscars de Inisherin Até por isso, de todas as suas indicações “Os banshees de Inisherin” tem em roteiro original suas maiores chances, por mais que o mistério por trás das motivações ea aparência a falta de objetividade da trama pode alienar parte do público. Mesmo assim, o filme corre sério risco de levar a estatueta apenas nessa categoria. Farrell e Gleeson já mostraram sua bebida química perfeita no filme de 2008 e quase a repetem em seu reencontro. Uma pena que o próprio roteiro seja fundamentado na separação crescente entre os personagens. Isso diminui a probabilidade da dupla. Farrell ainda corre por fora, com sua atuação meio abobada e inocente de um personagem que ganha força perto da conclusão da história. Já o veterano certamente leva apenas o prêmio de participação, já que a categoria de ator coadjuvante não escapa mais das mãos adoráveis de Ke Huy Quan, de “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”. O mesmo pode ser dito do cada vez mais vivido Barry Keoghan, também lembrado por seu idiota do povoado, afetado e sombrio. A excelente Kerry Condon, no entanto, ainda pode surpreender entre as atrizes coadjuvantes por seu trabalho notável como a irmã protetora do protagonista, que também sonha em deixar um legado maior para o mundo. Kerry Condon e Barry Keoghan em cena de ‘Os banshees de Inisherin’ Divulgação
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