Ex-BBB fez vídeo citando que relação entre Mavi e Iberê, em ‘Mania de Você’, é ‘broderagem’. Entenda o que é o termo e quando ele é usado. Já ouviu falar de broderagem? Especialista explica que é o termo Gil do Vigor que usou seu Instagram para comentar algumas cenas da novela “Mania de Você”. Entre elas, estão alguns diálogos dos vilões Mavi e Iberê. Na cena que eles conversam no banheiro, Gil comenta que aquela relação entre eles “na minha terra, se chama broderagem”. Alguns fãs endossaram o comentário de Gil e torcem para uma relação amorosa entre eles. O termo broderagem é uma gíria brasileira, que vem da palavra “irmão” em inglês (brother) e é “utilizado tanto para comentar um laço afetivo entre homens como também, em parte graças, um relacionamento sexual entre eles, mesmo eles se dizendo heterossexuais “, explica a psiquiatra Carmita Abdo, que coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da Faculdade de Medicina da USP e autora do livro “Sexo no Cotidiano”. * Vale também dizer aqui que, apesar do termo ter ganho força com Mavi e Iberê, não significa que os dois tenham relações sexuais. Ao menos por enquanto, a relação entre eles não passa de afeto mútuo e parceria. E, claro, tudo sempre pode mudar nas cenas dos próximos capítulos. Relação de Mavi e Iberê, em 'Mania de Você', é apontada como broderagem por internautas Reprodução/Globo Broderagem não configura homossexualidade O psicólogo e sexólogo Caio Graneiro explica que, por não ser um termo acadêmico, não existe um conceito muito claro sobre o comportamento. “Mas, de maneira geral, a gente usa ele para falar de dois homens que não são assumidamente gays e que trocam afeto.” Esse afeto pode ter uma conotação de amizade ou sexual. E Caio explica que essa troca, na conotação sexual, não configura homossexualidade. Isso porque, para pensar sobre a sexualidade de alguém, existem três pilares importantes: o comportamento, o desejo do indivíduo. O comportamento é sobre o que a pessoa faz — se ela beija ou transa com pessoas do mesmo sexo, por exemplo. Já o campo do desejo é a orientação dessa pessoa — mas ela pode ter o desejo e não dar vazão para ele. Assim, ela não tem o comportamento. E o terceiro campo é o da identidade, que é como uma pessoa se vê naquela sexualidade. Caio destaca que, sozinhos, nenhum desses comportamentos definem o que uma pessoa é ou não é. Pode ser que uma pessoa tenha o desejo, já tenha transado identidade com outro homem, mas sua não seja homossexual. “A autodeterminação nesse sentido é a coisa mais importante, porque só uma pessoa pode dizer a respeito da própria sexualidade.” Carmita Abdo aponta que desde os tempos de Alfred Kinsey — sexólogo e biólogo americano fundador do Instituto Kinsey para Pesquisa do Sexo, Gênero e Reprodução – “ficou bem claro que boa parcela da população tem, esporadicamente, relacionamento com pessoas do mesmo sexo e do sexo oposto”. “Existe entre o absolutamente heterossexual e o absolutamente homossexual uma gradação que Kinsey dividiu em seis possibilidades”, explica Carmila. A Escala de Kinsey varia de 0 a 6 e descreve as pessoas como: Exclusivamente heterossexual Predominantemente heterossexual, apenas eventualmente homossexual Predominantemente heterossexual, embora homossexual com frequência Bissexual Predominantemente homossexual, embora heterossexual com frequência Predominantemente homossexual, apenas eventualmente heterossexual Exclusivamente homossexual Assexual “Então as Existem possibilidades, e isso não significa que uma pessoa se tenha casado como homo ou como hétero. Apenas que ela se permita viver experiências ao longo da vida, e antes ou até durante enquanto está decidindo qual das preferências ou se tornará mais frequente. ” Livre, consensual e sem autopreconceito Cena do filme “Rivais” Reprodução Carmita ainda destaca a importância de uma relação livre, consensual e sem autopreconceitos. “As pessoas devem ser livres para desenvolver umas com as outras, desde que consensualmente, relacionamentos que possam ir desde amizade até sexo, independentemente de terem que prestar contas à sociedade. Então é muito importante que o autopreconceito não exista.” “Porque por vezes não é a sociedade que não aceita. É a própria pessoa que não se aceita daquela forma”, destaca. “Então ela pode, sim, ser alguém que tem uma tendência homossexual, mas que não está aceitando. E acaba tendo necessidade de um relacionamento mais íntimo, mais estreito, e de caráter erótico com outra pessoa do mesmo sexo, embora, ela não esteja percebendo que está satisfeito dessa forma e, no seu entendimento, esteja negando sistematicamente ser alguém que tenha uma preferência homossexual.” O machismo e a ausência de afeto entre homens Um ponto importante que o Caio destaca é o quanto a ideia de broderagem pode impedir o afeto entre dois homens. “Por medo de parecerem gays ou por medo de serem considerados homossexuais ou de achar que um carinho entre dois homens é sempre sexual, homens, de modo geral, sofrem com o machismo que os impede de demonstrarem afeto”, diz o psicólogo. Tanto é que ainda não existe um termo semelhante para mulheres, já que é bastante comum que elas demonstrem afeto desde criança, com mãos dadas, abraços e outras formas de carinho. “O olhar que se tem sobre os homens e o afeto é muito diferente entre as mulheres e o afeto. E justamente porque para as mulheres o afeto é mais permitido desde a infância, não se tem essa necessidade de produzir um rótulo para quando duas mulheres estão mais próximo”, diz. Ele ainda aponta que “dois homens demonstrando afeto não deveriam ser sexualizados”. “A gente só vive isso porque o homem foi tão instigado a nunca demonstrar afeto, que a gente estranha dois homens trocando afeto como se isso fosse próprio da sexualidade.” “Broderagem” nas telas? Cena de “Deadpool & Wolverine” mostra heróis brigando em carro. Alguns fãs apontam que a sequência é uma cena de sexo entre eles. Reprodução Em 2024, o termo broderagem já foi usado para comentar a relação de personagens em ao menos dois filmes. Um deles, foi “Deadpool & Wolverine”. Os atores Ryan Reynolds e Hugh Jackman, que dão vida aos personagens, são amigos há quase 20 anos. E a atmosfera de bromance entre eles acabou rendendo brincadeiras na divulgação do longa. (Originada da combinação das palavras em inglês “brother” e “romance”, a expressão bromance é utilizada para falar sobre a relação de grande proximidade afetiva, sem contexto sexual, entre dois amigos). Até julho, quando o longa foi lançado, teve muito fã garantindo que uma das principais sequências de luta do filme, que acontece dentro de um carro, é uma cena de sexo entre os heróis. Sintonia semelhante também foi vista no filme “Rivais”, com os personagens Art e Patrick. Os tenistas fictícios, que são ex-melhores amigos e interpretados por Mike Faist e Josh O'Connor, disputam o amor do personagem de Zendaya. Além de mostrar uma dinâmica entre sexo e poder, o filme traz uma tensão sexual em todas as pontas desse triângulo amoroso.
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