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O Alienista | Relembre o suspense da época estrelado por Daniel Brühl e Dakota Fanning que faz 5 anos em 2023

O Alienista Relembre O Suspense Da Epoca Estrelado Por.jpg

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as histórias envolvendo assassinos em série de uma forma quase doentia sempre envolveriam qualquer espectador. Seja para o melhor ou para o pior, narrativas sanguinárias têm a capacidade de causar alguma emoção no mais cético dos seres humanos – e não é à toa que o ceticismo seja uma delas. Apesar disso, é mais comum termos repulsa a tais atos ou então um humor ácido e satírico que os acompanha através das emoções sociais. No final das contas, esse dilema do que sentir e do que é certo não importa muito: o que importa é a atenção. A entrega completa de um imaginário cotidiano a algo sombrio, obscuro e que passaria despercebido por aqueles que sabem como dar um toque único a toda essa atmosfera.

Foi a partir dessa ideia que o romancista norte-americano Caleb Carr teve a ideia de construir uma aventura épica com ares de Agatha Christie e Senhor arthur conan doyle – com o diferencial de trazer todo o misticismo e a envolvência histórica comumente britânica para os ares progressistas de Nova York no final do século XIX. Com isso surgiu ‘O Alienista‘, uma história instigante que infelizmente não teve todo o seu potencial explorador pelos apresentadores Eric Roth e Hossein Amini e seu tempo criativo – e mesmo assim não podemos tirar alguns méritos que a série trouxe consigo.

Como podemos já esperar de uma “boa” história de detetives, temos alguns protagonistas sem qualquer relação psicológica ou profissional entre si que cruzam caminhos unidos por algo trágico – no caso, pelo assassinato brutal de um garoto de rua que foi encontrado totalmente dilacerado e com membros de vários corpos faltantes. A priori, é quase impossível não traçar paralelos com a história de Jack, o Estripador, um dos assassinos em séries mais temidos e mais lendários do panteão anglo-saxônico, ainda mais porque, assim como o famoso homicida, esta figura sem nome e sem rosto também saiu à procura de “parvos da sociedade” como vítimas.

É a partir daí que temos a admiração de um trio nada convencional formado pelo ilustrador John Moore (Lucas Evans), pela primeira mulher policial da história dos Estados Unidos, Sara Howard (Dakota Fanning) e pelo alienista Laszlo Kreizler (Daniel Brühl). Logo de cara é possível notar como os três não se suportam e carregam diferenças quase paradoxais entre si, seja pela personalidade afrontosa de Sara, pelos vícios incongruentes de John ou pela egolatria disfarçada de empatia de Laszlo – e é justamente isso que nos fornece a química necessária para continuar acompanhando sua saga em meio às ruas industriais nova-iorquinas. De qualquer modo, eles passam a trabalhar juntos ao perceberem que os magnatas da cidade não se importam muito com a série de assassinatos que ocorrem, preocupando-se mais com seus bens materiais e como esse cenário violento irá afetar os negócios.

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Ainda que os primeiros episódios da série caminhem em um ritmo angustiante e lento que até mesmo seleciona os mais fortes a continuarem-na acompanhando, a narrativa dá uma brusca engatada quando os elementos clássicos das histórias de mistério e suspense são incorporados às críticas sociais tão bem delineadas pela presença de personagens fictícios e de figuras muito conhecidas – não é nenhuma surpresa que Carr tenha colocado Theodore Roosevelt em seus anos juvenis como o chefe da polícia, ou até mesmo o magnata JP Morgan como uma frequente revelação antagônica para os nossos “heróis” . Assim que um propósito é encontrado, os diretores e roteiristas são responsáveis ​​pela adaptação percebem que cada uma das iterações deve representar uma pista importante para o trio e para o público, levando a ambos a criarem suas próprias teorias a respeito de quem é este monstro.

Não podemos negar os esforços de criar uma linha detetivesca crível o suficiente para não ser questionada por aqueles que assistem, mas essas tentativas não têm um respaldo muito palpável, por assim dizer. O que digo é que, por mais que os personagens e o roteiro acreditem em uma ordem lógica para os acontecimentos, os furos são bem perceptíveis e tiram crédito, mesmo que depois encontrem um resultado convincente; levando em conta o título da série e a profissão de Laszlo, é quase óbvio que um alienista irá desvendar os mistérios da mente humana chega, mas as chegaram às quais simplesmente não fazem sentido até metade do show – e é a partir de miados de uma base duvidável que o pano de fundo começa a fazer sentido.

Esses deslizes conseguem ser ofuscados pela atuação dos protagonistas, em especial por Evans e por Fanning. Os dois saem de uma zona de conforto há muito engessada em suas carreiras, permitindo explorar em novas águas e até mesmo desvencilhar-se de algumas barreiras erguidas no passado – não é à toa que participaram nos relacionar com a calculista mente de Sara durante toda a temporada ao mesmo tempo em que compreendemos as aflições paternais e familiares de John acerca dos meninos pobres de rua que são assassinados. E isso também abre espaço para uma performance incrível dos “garotos de programa” que não fazem apenas bom uso de sua idade, como se transformam em personagens complexos através de uma dura realidade esquecida por máscaras sociais.

A recriação de Nova York em sua Era de Ouro entra em constante conflito com as cenas nos cortiços e nos bordéis das regiões mais pobres – um conflito nasci, por assim dizer. A fotografia cuidadosamente projetada opta por tons mais brilhantes quando dentro de restaurantes, óperas ou mansões, reafirmando a ostentação exacerbada da classe mais alta, enquanto luta para buscar um pouco de vida dentro de um cenário desbotado e marcado por cores neutras – o marrom, o preto e cinza. Não é à toa que a caracterização das crianças-prostitutas seja tão exagerada, justamente para encontrar uma perspectiva diferente do que confronta todos os dias.

O desenvolvimento dos personagens também é outro aspecto a ser aplaudido, não apenas em relação aos protagonistas, mas aos coadjuvantes também: todos possuem arcos bem delineados e perscrutados por profusas crises de identidades, enfrentamentos de obstáculos ou até mesmo sombras de um passado remoto que insistem em assombrá-los. Logo, espere ver uma relação assustadora entre Laszlo eo assassino em sérieou então entre John e Joseph (Jackson Gann), um dos garotos de programa, em uma relação paterna que não progrediu em nenhum momento. Tais criações conversam com escolhas estéticas que vão para além de uma mera técnica; a utilização de planos abertos em plongée e contraplongée refletem as tentativas frustradas de pequenos membros da sociedade em mudar uma realidade imutável, dolorosa e que sempre vai existir.

Além dos questionamentos menos óbvios trazidos pela série, os elementos próprios do gênero aparecem inúmeras vezes. Seja nas questões infiltradas em bordéis, nos planos arquitetados ou nas perseguições mortais, cada um dos membros ativos da equipe funciona como uma engrenagem ao mesmo tempo arquetípica e convencional para a trama em questão – temos até mesmo a presença do escape cômico com a dupla de irmãos anatomistas que quebram a tensão das cenas. E é claro que a presença do jogo de luz e sombra e da névoa inebriante não ficaria de fora para aumentar a atmosfera atmosférica de uma obra de suspense.

Infelizmente, a série volta a pecar à medida em que se aproxima do desfecho. Após reencontrar seu ritmo, a história parece se perder nos momentos finais, valendo-se de infinitas tentativas pensadas e sem qualquer sentido almejando um final feliz que não necessariamente precisaria existir – ou, se realmente precisasse, poderia ser encontrado de outra forma. Não é à toa que, com o final da temporadauma parcela significativa do público solte um suspiro de insatisfação por desejar algo muito melhor.

Mesmo que ‘O Alienista‘ seja uma série com altos e baixos, ela é satisfatória em grande parte – e seus deslizes também podem ser deixados de lado se focarmos nas coisas boas. De qualquer modo, a produção fez considerável sucesso, ainda mais levando em conta que a TNT passou com mais uma temporada em 2020, e merece ser apreciada.

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