O ministro Mauro Vieira, das Relações Exteriores, soube nesta terça (29) que os Estados Unidos retiraram o embargo econômico imposto a Cuba, afirmando que as avaliações dificultaram a recuperação do país após a passagem devastadora do furacão Oscar. O pedido foi feito durante uma das reuniões programadas pela Assembleia Geral da ONU, em Nova York.
Vieira disse que o Brasil vê com “grande preocupação” a crise humanitária enfrentada pelo país caribenho, em que o furacão causou ao menos seis mortes e deixou Cuba sem energia por quatro dias.
“É evidente que as diversas sanções impostas injustificadamente a Cuba, tanto pelo embargo como pela sua inclusão na lista de 'Estados patrocinadores do terrorismo', desenvolvem ainda mais para agravar a situação. Essas medidas, que já penalizam injustamente o povo cubano, agora impedem uma resposta adequada à crise humanitária gerada pelo furacão [Oscar]”, disse.
Vieira ressaltou que além das consequências do furacão, o embargo agrava as dificuldades de Cuba para impedir que empresas americanas e internacionais tenham relações comerciais com a ilha. E ainda defendeu a remoção do país da lista restritiva dos EUA, afirmando que a classificação complica ainda mais as relações com o comércio internacional e aumenta os problemas financeiros.
“Instamos os Estados Unidos a reconsiderarem sua política sobre Cuba: eliminar as avaliações, retirar Cuba da lista dos Estados patrocinadores do terrorismo e fomentar um diálogo construtivo baseado no respeito mútuo e na não interferência”, disse.
A cobrança por uma mudança de posição dos EUA ocorreu quase uma semana depois que a Cúpula do Brics discutiu a criação de uma categoria de países “parceiros” para o bloco. Cuba foi apresentada entre os candidatos iniciais.
O Itamaraty confirmou que Vieira se reuniu com o chanceler cubano Bruno Rodríguez em Nova York para tratar do embargo e de temas de segurança global, além de comentar sobre a recente reunião da cúpula do Brics em Kazan, na Rússia.
PT diz que apagão é culpa dos EUA
Na semana passada, a Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, também se manifestou sobre a crise em Cuba, atribuindo as falhas energéticas às avaliações dos EUA. A entidade afirmou que o apagão se deve, entre outros motivos, à escassez de combustível e à obsolescência de infraestrutura, causa “estes e outros sofrimentos à população cubana, com o objetivo declarado de tentar provocar uma 'mudança de regime'”.
A entidade também pediu o fim do embargo e destacou a necessidade de “solidariedade” internacional para garantir combustíveis e alimentos ao país.
O embargo norte-americano proíbe a maioria das trocas comerciais com Cuba desde os anos 1990, após a implementação das leis Torricelli (1992) e Helms-Burton (1996), que restringem o comércio, inclusive de alimentos, com a ilha, exceto em casos de ajuda humanitária.
Em 2021, o então presidente dos EUA, Donald Trump, colocou Cuba novamente na lista de países patrocinadores do terrorismo, revertendo uma decisão de seu antecessor, Barack Obama, que havia retirado a classificação do país dessa.
O governo cubano tem enfrentado protestos crescentes populares em razão da crise de energia, com manifestações e panelaços nas principais cidades. O presidente Miguel Díaz-Canel prometeu ações rigorosas contra qualquer tentativa de “perturbação da ordem pública”, em resposta ao descontentamento com os sucessivos apagões e a interferência das condições de vida na ilha.