Escritor hispano-peruano é o primeiro a fazer parte da instituição sem ter escrito em francês. Ele entra para a Academia aos 86 anos, uma exceção às regras da casa, que até então admitia candidatos até 75 anos de idade. Mario Vargas Llosa assume a cadeira na Academia Francesa Emmanuel Dunand/AFP O Prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa entra na Academia Francesa nesta quinta-feira (9), tornando-se o primeiro escritor de língua estrangeira a fazer parte dessa instituição emblemática fundada em 1635 Eleito pelos “Imortais” da Academia em novembro de 2021, o escritor hispano-peruano assume sua cadeira de número 18 aos 86 anos, uma exceção às regras da casa, que, em princípio, admite candidatos de até 75 anos de idade. Mas Vargas Llosa é um francófilo declarado, autor de dois ensaios importantes sobre Victor Hugo e Gustave Flaubert, dois de seus escritores favoritos. A Academia fundada pelo cardeal Richelieu, na época de Luís XIII, acolheu escritores estrangeiros, que passaram, em um dado momento, para o francês. “Certamente, alguns expressaram a queixa de que o senhor não escreve em francês”, disse Carrère d’Encausse aos presentes, entre os quais eram familiares de Vargas Llosa e sua ex-esposa Patricia Urquidi. “Mas ignoram que, para ser recebido na Academia Francesa, é preciso que, cito: ‘agradar ao Monsenhor, o Protetor, ter bom humor, boa inteligência, inteligência… E poder servir às funções acadêmicas'”, lembrou. Mario Vargas Llosa entra para a Academia Francesa Emmanuel Dunand/AFP Vargas Llosa foi aceito quase que por unanimidade pelos acadêmicos há mais de um ano e foi recebido pelo atual “protetor” da Academia, o presidente francês, Emmanuel Macron. Já é membro da Real Academia Espanhola, assim como da peruana e da brasileira. “Quanto à sua opinião, já conhecia seu conhecido e extensão”, acrescentou Carrère d’Encausse. Entre os presentes, estava o diretor da Real Academia Espanhola, Santiago Múñoz Machado, um dos “padrinhos” da espada, feito com aço toledano. Juan Carlos I entre os convidados Localizada na margem esquerda do rio Sena, em frente ao Museu do Louvre, a Academia Francesa está carregada de zelar pela saúde da língua de Molière. Publica um dicionário e emite recomendações de estilo. Nos últimos anos, a Academia Francesa teve certa dificuldade em recrutar novos membros (conhecidos como “os Imortais”) entre a intelectualidade francesa. A “instalação” pública do autor, como é conhecida no jargão da Academia, aceitou ao meio-dia de quinta-feira e contará com um convidado excepcional: o rei emérito espanhol Juan Carlos I. Nomeado marquês por Juan Carlos I em 2011, o o escritor estava confiante o ex-monarca, que mora nos Emirados Árabes Unidos. Desde 2020, Juan Carlos I deixou os Emirados, oficialmente, em algumas poucas ocasiões. A última delas foi durante o funeral do ex-rei grego Constantino II, em 16 de janeiro. Último sobrevivente da geração do “boom” Como dita a tradição, Vargas Llosa fará um discurso de homenagem ao seu antecessor na cadeira de número 18, do filósofo Michel Serres (1930-2019). Além de sua espada de estilo medieval, usará uma sobrecasaca preta, bordada com ramos de oliveira. Redigido com a ajuda do tradutor francês do romancista, Albert Bensoussan, o discurso deve ser contestado por outro acadêmico. Escritor universal a partir da complexa realidade peruana, Vargas Llosa fez parte do chamado “boom” latino-americano junto com outros grandes como o colombiano Gabriel García Márquez, o argentino Julio Cortázar e os mexicanos Carlos Fuentes e Juan Rulfo. Admirado por sua descrição das realidades sociais, é autor de romances consagrados como “Conversa na Catedral”, “A Cidade e os Cachorros” e “A Festa do Bode”. Viveu vários anos em Paris no início dos anos 1960. Foi jornalista e tradutor. Vargas Llosa “é um escritor nascido no Peru, e esses anos são de formação. Em Paris, se descobre como latino-americano. E agora, da Espanha, tem esse aspecto europeu” que contribui para explicar sua entrada na Academia, explica Eduardo Ramos -Izquierdo, titular da Cátedra de Literatura Latino-Americana da Universidade de Sorbonne.
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