Alepo, a segunda maior cidade da Síria, voltou a ser palco de intensos confrontos armados após uma explosão fulminante enviado pelo grupo extremista islâmico Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-ShamHTS) e facções aliadas, reforçadas pela Turquia. No sábado, 30 de novembro, o exército sírio admitiu que os insurgentes controlavam “amplas partes” da cidade, incluindo órgãos governamentais e prisões, após combates que deixaram mais de 300 mortos. Este é o maior confronto na região desde 2016, quando o regime de Bashar al-Assad, uma ditadura de vidas árabe-socialista, retomou Alepo com o apoio de aliados como a Rússia e o Irão.
Um avanço estratégico e sangrento
De acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), o ataque rebelde já resultou na morte de 311 pessoas, incluindo 183 combatentes da Organização para a Libertação do Levante e aliados, 100 soldados sírios e milicianos pró-regime, e 28 civis. Além disso, os rebeldes conquistaram cerca de 70 vilarejos na região e partes da rodovia estratégica que liga Alepo a Hama, Homs e Damasco. “Não houve combates, nem um único tiro foi disparado, pois as forças do regime se retiraram”, afirmou Rami Abdel Rahman, diretor do OSDH.
A ofensiva, chamada de “Repelindo a Agressão”, foi lançada na última quarta-feira em resposta aos bombardeios recentes do regime sírio contra áreas controladas pela Organização para a Libertação do Levante em Idlib. Aviões de guerra russos intervieram em apoio ao governo sírio, realizaram ataques aéreos em Alepo pela primeira vez desde 2016. Enquanto isso, o governador de Alepo e chefes de polícia e segurança abandonaram o centro da cidade, sinalizando o colapso das forças pró-governo na região.
Medo e insegurança entre os civis
A população civil de Alepo enfrenta uma nova onda de medo e instabilidade. “Pela primeira vez em anos, ouvimos bombardeios e aviões o tempo todo. Estamos com medo de que o cenário da guerra volte”, relatou Sarmad, um residente de 51 anos. Quatro civis morreram em um ataque a uma residência estudantil, enquanto outros escapavam das áreas afetadas.
A comunidade cristã local, já abalada por anos de guerra e pelos terremotos que devastaram a região neste ano, também está sofrendo. Conforme nota para a imprensa enviada por Portas Abertas“a Síria ocupa a 12ª posição na Lista Mundial da Perseguição 2024 e enfrenta perseguição extrema contra cristãos.” A organização destacou que vários treinamentos e projetos planejados por parceiros na cidade foram cancelados devido à insegurança. “As pessoas estão com medo. Falei com cinco cristãos que não conseguiram sair da cidade. Eles ficaram aterrorizados e não revelam o que os rebeldes dizem, mas não têm para onde ir”, afirmou uma fonte local.
Impacto humanitário e infraestrutura
A crise humanitária se agrava com o deslocamento interno de milhares de pessoas e a morte de civis. No entanto, conforme as Portas Abertas, os rebeldes, ao assumirem uma central eléctrica de Alepo, aumentaram o fornecimento de eletricidade na região. Isso representa uma melhoria momentânea, já que a população antes contava com poucas horas de energia por dia devido à crise econômica. Apesar disso, a eletricidade não compensa a insegurança. “As pessoas têm luz, mas não têm segurança nem esperança”, destacou a organização pode.
Além disso, a posição da Síria na Lista Mundial da Perseguição reforça o cenário de extrema vulnerabilidade dos cristãos na região, muitos dos quais já viviam deslocados ou sem garantias básicas de segurança antes mesmo dessa nova agressão.
O conflito sem fim
Desde 2011, a guerra civil na Síria já causou mais de meio milhão de mortes e deslocou milhões de pessoas. Embora o regime ditatorial de Bashar al-Assad tenha recuperado grande parte do território com o apoio da Rússia, do Irã e do Hezbollah, regiões estratégicas como Idlib e partes de Alepo permaneceram fora de seu controle.
De acordo com o Informaçõesos rebeldes intensificaram a pressão sobre o regime após a entrada em vigor de um frágil cessar-fogo no Líbano, mediado entre Israel e Hezbollah. Esse contexto mostra como o conflito sírio continua a ser influenciado por dinâmicas regionais e internacionais, perpetuando a fragmentação e o sofrimento no território.
Organizações humanitárias, como as Portas Abertas, pedem oração e apoio. “Interceda pela segurança dos nossos irmãos e irmãs em Cristo e pelo fim do derramamento de sangue”, apela à organização. Alepo, mais uma vez, se encontra no centro de uma tragédia humanitária que parece não ter fim.
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