
A Argentina quebrou nesta segunda-feira (30) uma atuação “imediata” do Tribunal Penal Internacional (TPI) diante da situação da situação na Venezuela, e Caracas respondeu acusando Buenos Aires de se posicionar como um “falso defensor dos direitos humanos”, em uma troca de declarações que tensionou a abertura dos membros do tribunal da Assembleia dos Estados em Haia.
O representante da Argentina, Diego Emilio Sadofschi, anunciou que as eleições fraudulentas de julho de 2024 agravaram a situação na Venezuela e lamentou a falta de avanços por parte do TPI desde que a Procuradoria abriu formalmente uma investigação, em 2021, sobre os supostos crimes contra a humanidade atribuídos ao regime de Nicolás Maduro.
“As prisões arbitrárias, os tratamentos desumanos e outros crimes de lesão-humanidade perpetrados pelo regime venezuelano exigem específicos, incluindo mandados de prisão contra os principais responsáveis”, anunciou Sadofschi.
Em uma resposta imediata, o embaixador venezuelano, Héctor Constant Rosales, acusou o governo de Javier Milei de “politizar” uma conferência para atacar “de maneira inoportuna” a legitimidade do regime chavista.
Além disso, classificou como “vergonhosa” a conduta argentina em organismos multilaterais e denunciou que Buenos Aires votou recentemente contra várias resoluções da ONU sobre direitos humanos, incluindo uma regulamentação em 20 de novembro sobre tortura e tratamentos cruéis, o que, alegou, contradiz compromissos regionais e a coloca como “um falso defensor dos direitos humanos”.
O choque entre os dois países marcou uma das intervenções mais tensas da sessão, no primeiro dia de uma semana de conferência na qual o TPI examina tanto o avanço de sua investigação sobre a Venezuela e outros países, quanto a cooperação dos países-membros com o tribunal, entre outras coisas, em matéria de execução de mandatos de prisão.
O representante argentino esclareceu segunda-feira que a decisão nesta de Buenos Aires de não bloquear o consenso na Assembleia realizada nesta semana “não deve ser interpretada como um gesto em direção à Venezuela”, mas sim como uma prova do compromisso da Argentina com o TPI e com o funcionamento da própria Assembleia, em particular nas negociações sobre os países em situação de inadimplência.
Nesse sentido, Caracas atribuiu a sua dívida com a instituição às “medidas coercitivas unilaterais ilegais” que, disse, a impedem de cumprir as suas obrigações financeiras, alegando ainda que, uma vez levantadas essas avaliações, poderá saldar os pagamentos pendentes com o tribunal.
“Conhecemos uma sensibilidade particular no caso das medidas coercitivas unilaterais, sabendo que a Corte hoje, infelizmente, é vítima também destas práticas que atentam contra o direito internacional”, disse Constant Rosales, em referência às sanções americanas emitidas pelo governo de Donald Trump contra novos funcionários do TPI por emitirem mandados de prisão contra autoridades israelenses, incluindo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Essa troca de farpas entre Venezuela e Argentina ocorreu minutos depois que a Procuradoria do TPI anunciou que fecharia seu escritório em Caracas devido à falta de “progresso real” da Venezuela em matéria de “complementaridade”, o princípio que exige que o país em questão investigue seriamente os crimes de que é acusado antes que este tribunal intervenha.
O TPI abriu uma investigação sobre a Venezuela em 2018 após o encaminhamento do caso para vários países, mas Caracas tentou repetidamente frear o processo, alegando que seu sistema judicial está realizando investigações internacionais. A Corte rejeitou essa posição em 2023 e autorizou a retomada das investigações por crimes de lesa-humanidade cometidos desde 2017.











Deixe o Seu Comentário