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Efeito Trump? Lula perde aliado com queda de Trudeau

Efeito Trump? Lula perde aliado com queda de Trudeau

A decisão de Justin Trudeau de renunciar ao cargo do primeiro-ministro do Canadá foi comemorada pelos opositores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no Brasil. Para os analistas, a queda do primeiro-ministro canadense pode significar menos apoio internacional às bases progressistas e ao combate às mudanças climáticas que também são do interesse de Lula. O primeiro reflexo do novo cenário no Canadá sobre a política internacional de Lula deve ser na área ambiental, em um ano em que o Brasil sedia a COP-30, a conferência mundial do clima.

Ainda que Lula e Trudeau não tenham sido grandes aliados, o primeiro-ministro vinha sendo uma voz alinhada com as ideias do petista no cenário internacional. Erik Salés, analista de políticas públicas baseado no Canadá, avalia que o país era um “líder na agenda ambiental”, que também é uma apóstata da agenda internacional de Lula.

Sob a gestão de Trudeau, o Canadá alterou medidas ambientais ambiciosas, como a meta de zero emissões de carbono até 2025 – tema que gerou conflitos internos, especialmente com províncias que dependem da produção de petróleo e gás. O premiê também implementou o Imposto sobre Carbono (taxa de carbono), um imposto sobre combustíveis fósseis que tinha como intenção incentivar a transição energética, mas que acabou contribuindo para o aumento da inflação no país.

Com agendas que se assemelham às do presidente Lula, a queda do primeiro-ministro pode ser um desafio para o petista às vésperas da COP-30. A Conferência das Nações Unidas sobre o Clima, que o Brasil deve sediar em Belém, é o principal evento para discutir questões ambientais e climáticas do mundo. A cúpula tem sido a grande aposta da política externa de Lula neste terceiro mandato, ainda que cercada de desafios com a mudança do cenário político mundial.

Com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, a expectativa dos analistas é de que, assim como em seu primeiro mandato, o republicano retire os Estados Unidos do Acordo de Paris mais uma vez e esvazie eventos que discutam questões ambientais. A atitude do americano pode contribuir com outros líderes conservadores ao redor do mundo, como o argentino Javier Milei e até mesmo o futuro primeiro-ministro canadense.

Para os analistas consultados pela Gazeta do Povoas eleições para a escolha de um novo primeiro-ministro no Canadá devem ser antecipadas e Pierre Poilievre, líder do Partido Conservador, é o favorito ao cargo. Na avaliação de Erik Salés, a eleição de Poilievre pode trazer mudanças expressivas para a política canadense.

“Poilievre tende a alinhar suas políticas climáticas com uma abordagem mais econômica e menos regulatória, muito semelhante à adoção por Trump nos Estados Unidos”, avalia.

“Para o presidente Lula, vai ser um grande desafio no ano da COP-30. A saída do Trudeau realmente significa a perda de um importante aliado nessas pautas ambientais, e a eleição do Trump só vai estimular a oposição a essas medidas climáticas mais ambiciosas “, pontua Salés.

Na área do progressismo, Trudeau é um defensor de pautas que também são importantes para a base de apoio de Lula – embora o presidente brasileiro não costume encampá-las como bandeiras de sua política externa. Tanto Lula como Trudeau são progressistas na área de ideologia de gênero, descriminalização da maconha e laicidade do Estado. O canadense não caiu por causa dessas pautas, mas se tornou uma voz a menos a defendê-las no cenário internacional.

A posição no Brasil atribuiu a queda de Trudeau ao “efeito Trump”

Para membros da oposição, a notícia da renúncia de Trudeau foi recebida com entusiasmo. “Au revoir [adeus]Trudeau”, escreveu Eduardo Bolsonaro (PL-SP). “Depois de Alemanha e França, agora foi uma vez o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, anuncia sua renúncia. Todos após a eleição de Donald Trump”, publicado em sua conta no X.

Os deputados federais Gustavo Gayer (PL-GO) e Bia Kicis (PL-DF) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-SP) também comentaram a renúncia do canadense. Na rede social X, os parlamentares atribuíram o fato ao início do “efeito Trump” no mundo – ou seja, uma onda de direita deflagrada pela eleição do americano que repercute nos mais diversos assuntos – guerra, economia, liberdade de expressão, entre outros.

Trudeau afirmou nesta semana que renunciará em março. Isso ocorreu após uma onda de críticas recebidas de seus colegas de partido. Elas se tornaram incontornáveis ​​quando sua vice-primeira-ministra Chrystia Freeland renunciou ao cargo em dezembro de 2024.

Ela saiu do governo fazendo críticas a Trudeau. Para Freeland, ele não estava se preparando para lidar com a ameaça do presidente eleito Donald Trump de tarifas de importação de 25% sobre as exportações para os Estados Unidos se o Canadá não tomar medidas para reduzir o crime e a imigração ilegal na fronteira entre os dois países .

Além disso, o governo canadense enfrentou uma onda de insatisfação popular contra a política de imigração. A entrada elevada de imigrantes destina-se aos serviços públicos e ao atendimento ao cidadão canadense. Trudeau também vinha sendo criticado pelo aumento dos preços da habitação e dos alimentos.

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) comentou o cenário de crise e o comparou com a situação brasileira. “Praticamente o mesmo cenário de crise econômica é encontrado no Brasil, com viés de agravamento”, escreveu Zambelli na rede social X.

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