Designar cartel como terrorista pode levar ação na Venezuela

Nesta segunda-feira (24), entrou em vigor uma medida do Departamento de Estado americano que designa o venezuelano Cartel de Los Soles como uma organização terrorista estrangeira.

Ao adiantar na semana passada que faria tal designação, a pasta da gestão Donald Trump reiterou seu argumento de que o grupo de ofensiva é liderado pelo ditador da Venezuela, Nicolás Maduro.

A dúvida é como tal denominação, confirmada com publicação no Registro Federal (o diário oficial do governo americano) nesta segunda-feira, pode mudar as ações de Washington em relação à Venezuela.

Geralmente, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos aplica avaliações econômicas contra membros de grupos designados como terroristas pelo governo, mas já tomou medidas nesse sentido contra o Cartel de Los Soles em julho.

Na ocasião, foram impostos bloqueios de todos os bens dos referenciais que estivessem nos Estados Unidos ou em posse ou controle de americanos; bloqueio de empresas ou outras organizações que tenham participação de 50% ou mais dos alvos da medida; e proibição de pessoas nos Estados Unidos ou em trânsito no território americano de fazer transações financeiras e comerciais com os envolvidos.

Desta forma, o que se especula é que agora podem estar no caminho de ações militares diretas contra Maduro e outros agentes da ditadura da Venezuela apontados como tendo ligações com o Cartel de Los Soles.

Basta lembrar que Washington iniciou uma operação militar contra o narcotráfico em águas internacionais no Mar do Caribe e no Oceano Pacífico, que já foi descoberta em 21 ataques a 22 embarcações (com 83 mortes), apenas depois que designou em fevereiro o também venezuelano Trem de Aragua como organização terrorista – nos anúncios que fez sobre os ataques, o Departamento de Guerra justificou que várias das embarcações visadas eram do TDA, como o nome é abreviado pela Casa Branca.

No fim de semana, a agência Reuters publicou uma reportagem em quais quatro autoridades americanas, que não quiseram ter seus nomes publicados na matéria, disseram que os Estados Unidos iniciarão uma nova fase de operações relacionadas à Venezuela nos próximos dias.

Duas dessas fontes disseram que as operações secretas provavelmente serão a primeira parte da nova ação. As autoridades americanas também disseram à Reuters que as opções de análise incluem o colapso de Maduro.

“O presidente Trump está preparado para usar todos os recursos do poder americano para evitar que as drogas inundem o nosso país e para levar os responsáveis ​​à Justiça”, disse uma das autoridades.

Na semana passada, o secretário de Guerra americano, Pete Hegseth, disse em entrevista à emissora One America News (OAN) que a designação do Cartel de Los Soles como organização terrorista “dá mais ferramentas ao nosso departamento para apresentar opções [a Trump] e, em última instância, afirmou que nosso hemisfério não será controlado por narcoterroristas, não será controlado por cartéis e não será controlado por regimes ilegítimos que tentam importar o povo americano”.

“Portanto, trata-se apenas de opções, e planejamos melhor do que qualquer outra organização no mundo”, disse Hegseth, que alegou que nenhuma decisão relacionada ao Cartel de Los Soles está “descartada”, mas “nada está automaticamente decidido”.

O regime chavista, que já vinha considerando a operação no Mar do Caribe e no Pacífico uma desculpa para uma intervenção na Venezuela, voltou a apresentar esse argumento em um comunicado no qual criticou a designação do Cartel de Los Soles como organização terrorista – e também alegou que o grupo criminoso não existe.

“A República Bolivariana da Venezuela rejeita categórica, firme e absolutamente a mais recente e ridícula farsa do secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, que designa o inexistente Cartel de Los Soles como organização terrorista, repetindo assim uma mentira infame e vil para explicar uma intervenção ilegítima e ilegal contra a Venezuela, sob o modelo clássico estadunidense de mudança de regime”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela nesta segunda-feira.

“Esta nova manobra terá o mesmo destino das agressões anteriores e recorrentes contra o nosso país: o fracasso”, acrescentou a pasta.