O debate presidencial ocorreu na noite desta quinta-feira (27) nos Estados Unidos, que colocou frente a frente o atual presidente Joe Biden, candidato à reeleição, e seu rival republicano Donald Trump, deixou o Partido Democrata em estado de alerta.
Segundo a imprensa americana, a atuação considerada assustadora de Biden, aos 81 anos, não apenas falhou em dissipar as preocupações sobre sua capacidade para um novo mandato, mas também pareceu reforçá-las.
Durante o debate, transmitido e organizado pela emissora CNNBiden apresentou certas dificuldades em alguns dos seus pontos de discussão, tropeçou em respostas e, em certos momentos, parecia perder o fio da meada.
“Neste momento, há um pânico profundo, amplo e muito agressivo no Partido Democrata. Começou minutos após o início do debate e continua até agora. Envolver estrategistas do partido, envolver cidadãos eleitos, envolver arrecadadores de fundos. E eles estão tendo conversas sobre o desempenho do presidente, que acham que foi desastroso, que acham que prejudicará outras pessoas do partido na chapa, e estão discutindo sobre o que devem fazer a respeito”, disse o comentarista da CNN, John King, durante análise.
“Algumas dessas conversas incluem, devemos ir à Casa Branca e pedir ao presidente que se aposente? Outras conversas são sobre se democratas revolucionários devem tornar esse pedido público porque sentem que este debate foi tão improvável. Eles dizem que em alguns momentos do debate o presidente melhorou e encontrou seu ritmo, mas, no final, durante sua declaração de encerramento, ele foi um pouco hesitante”, afirmou King.
A voz rouca de Biden, atribuída a uma queixa, segundo a Casa Branca, e sua pressa em passar por alguns tópicos, também foram aspectos bastante notados e discutidos.
“Dentro de minutos, os espectadores ficaram estupefatos ao ver um Biden frágil, respondendo de maneira incoerente em um debate crucial para o que ele supostamente passou dias se planejando”, citou o jornal britânico Tempos Financeiros.
“Eu só quero falar do fundo do meu coração: eu amo esse cara. Ele é um bom homem. Ele ama seu país. Ele está fazendo o melhor que pode. Mas ele tinha um teste para enfrentar esta noite para restaurar a confiança do país e de sua base. E ele falhou em fazer isso”, disse Van Jones, jornalista da CNN, durante análise sobre a atuação de Biden.
“Acho que há muitas pessoas que vão querer vê-lo considerar fazer um curso diferente agora. Ainda estamos longe da nossa convenção [Convenção do Partido Democrata]e há tempo para a partida encontrar um caminho diferente, se ele [Biden] permitir isso”, acrescentou Jones, dizendo que “[isso] não foi o que precisávamos de Joe Biden. E é pessoalmente doloroso para muitas pessoas [ver o que aconteceu]. Não é apenas pânico, é dor pelo que vimos esta noite.”
Conforme noticiou a agência Reuters, em um momento crítico do debate, um estrategista democrata que trabalhou na campanha do presidente em 2020 descreveu a situação dele como um “desastre”. Segundo a agência, este estrategista, que falou sob condição de anonimato, afirmou que a atuação de Biden no debate foi “desqualificante”.
O estrategista teria dito à agência que, após seu desempenho ruim, Biden deveria sofrer com uma queda no financiamento de sua campanha, uma vez que o eleitor pudesse começar a demonstrar desconfiança na capacidade do presidente para um segundo mandato.
Uma pesquisa feita pela CNN Durante o debate, 67% dos espectadores consideraram Trump como o grande vencedor. Apenas 33% escolheram Biden.
“Ele [Biden] foi incapaz esta noite, no maior dos palcos que ele buscou”, disse Chris Wallace, jornalista da CNNem sua análise. “Com toda aquela preparação, ele foi incapaz de fazer o seu melhor. Você não pode estar em um estado onde bolsas de milhões de americanos te assistem e acabam sem nada; e foi isso que ele [Biden] fez esta noite”, afirmou Wallace, que já moderou debates.
Nas redes sociais, diversos membros da mídia americana também comentaram sobre o desempenho ruim do presidente.
“Este debate foi um desastre total e completo para Biden. Ele parecia velho. Suas respostas eram repetidas, mas eram difíceis de entender. Ele parou no meio de uma frase e ficou para outra coisa. Eu nunca pensei que ele seria tão ruim. Impressionante”, escreveu no X Chris Cillizzaex-comentarista da CNN.
“Eu assisti a muitos discursos de Biden. Nunca o ouvi falar de forma tão frágil”, disse o jornalista do site Vox Zack Beauchamp, sem X.
Além dos bastidores
As preocupações não se limitaram aos repórteres. Eleitores democratas que assistiram ao debate expressaram desconforto com a atuação de Biden, enquanto os republicanos celebraram, noticiaram o O jornal New York Times. Eleitores indecisos também ficaram perplexos com a atuação do democrata, disse o jornal americano.
“Biden ainda não sabe onde está […] ele não conseguiu organizar seus pensamentos ou fazer argumentações inteligentes”, disse um eleitor democrata ao Tempos.
Segundo o Temposos democratas também destacam a fragilidade na voz de Biden e a resiliência aparente de Trump, apesar de apontarem “muitas inverdades” ditas pelo republicano. A situação causou espanto e gerou discussões sobre a capacidade de Biden e a necessidade até de substituí-lo.
“Biden é um candidato em declínio. Trump venceu este debate”, disse outro eleitora democrata ao Tempos. “Provavelmente [os democratas] vão escolher outra pessoa [como candidato]”, acrescentou.
Em editorial, o Revisão Nacional afirmou que “nenhum dos dois [Trump e Biden] explicaram o que pretendem fazer com o poder nos próximos quatro anos. Ambos ficaram perdidos quando confrontados com perguntas sobre as finanças do país. Eles foram mais animados ao comparar handicaps de golfe. Mas Trump é assim como o Trump que já conhecemos há muito tempo. […] Biden parecia fraco, ofegante, decrépito e sobrecarregado. Seus melhores momentos leves quando ele ficou indignado […] Os democratas mal conseguem esconder seu senso de pânico e pavor”.
Vídeos veiculados nas redes sociais após o debate mostram novamente um Biden que congela, algo que vem ocorrendo com certa frequência. Desta vez, o momento ocorreu enquanto a primeira-dama Jill Biden falava ao microfone.
Eventual processo de substituição seria burocrático
De acordo com o jornal Politicoo regulamento do Comitê Nacional do Partido Democrata, não possui um mecanismo direto que permita aos líderes da legenda retirar unilateralmente Biden da disputa.
Contudo, caso o partido apoiasse essa decisão, mesmo com a recusa de Biden em desistir, teria que iniciar um processo considerado pelo jornal como “aberto e imprevisível de escolha de um novo candidato”.
Este processo começaria na convenção dos democratas, programada para ocorrer em agosto. O partido precisaria que uma maioria de 3.900 delegados, dos quais Biden recebeu o apoio de 95% durante as primárias, rejeitasse sua nomeação e escolhesse outro candidato, algo que poderia causar uma “tempestade” dentro do partido. Esse processo é possível porque esses delegados não são obrigados a apoiar Biden, mas tradicionalmente seguem a escolha feita nas primárias.
O jornal citou nomes como o da atual vice-presidente Kamala Harris e do governador da Califórnia, o democrata Gavin Newsom, como fortes candidatos para uma eventual substituição do presidente nas eleições de novembro.
Houve também uma menção ao nome de JB Pritzker, governador democrata do estado de Illinois. Dentre esses, Harris é o que possui menos popularidade e apoio interno, embora, cita o Políticoem caso de desistência, Biden iria preferir endossar o nome do seu vice.
Há também a possibilidade dessa substituição ocorrer durante a campanha eleitoral, com um Biden já escolhido pela convenção.
No entanto, esse processo seria mais complexo e dependia propriamente da resistência voluntária do presidente. Com isso, o comitê democrata, de 500 membros, poderia convocar uma reunião especial, onde, por maioria simples, nomearia os novos candidatos. Neste cenário, o partido enfrentaria desafios constitucionais e discrepâncias nos boletins de voto, caso essa ideia ocorra muito próximo de novembro.
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