Pesquisadores anunciaram uma descoberta que pode transformar o futuro da odontologia: a identificação de dois tipos de células-tronco capazes de regenerar naturalmente dentes e ossos. O trabalho, publicado na revista científica Comunicações da Naturezamostra como essas células se desenvolvem e se comunicam para reconstruir tanto as raízes dentárias quanto o osso que sustenta a mandíbula – o chamado osso alveolar.
A pesquisa foi liderada pela professora Wanida Ono, da Universidade da Califórnia em San Francisco (UCSF), e por Mizuki Nagata, do Institute of Science Tokyo, com a colaboração de equipes da Universidade do Texas, da Universidade de Michigan, da Kyushu University, no Japão, e da Universidade de Gotemburgo, na Suécia. O grupo é especializado em biologia dentária e regeneração óssea e vem estudando, há mais de uma década, os genes e mecanismos que controlam a formação e o reparo dos tecidos da boca.
Nos experimentos realizados com camundongos geneticamente modificados, os cientistas conseguiram acompanhar o comportamento das células-tronco durante o crescimento das raízes dos dentes e do osso ao redor deles. O estudo compara duas linhagens principais de células: as células CXCL12+, localizadas na extremidade da raiz, e as células do folículo dental, que formam o osso alveolar.
As células CXCL12+, também chamadas de células da papila apical, mostraram-se essenciais para produzir a dentina – o tecido duro que forma o interior do dente – e o cimento, que reveste a raiz. Segundo os pesquisadores, essas células são ativadas por uma molécula chamada Wnt, que funciona como um “interruptor biológico” capaz de estimular o crescimento e a regeneração natural. Quando o dente sofre uma lesão, esse mesmo grupo de células demonstra a capacidade de auxiliar na manutenção do osso alveolar, o que indica um alto potencial para o desenvolvimento de terapias regenerativas no futuro.
O segundo conjunto de células observadas, localizadas no folículo dentário, atua diretamente na formação do osso que sustenta os dentes. O estudo revelou que esse processo é controlado por um mecanismo genético chamado eixo Hedgehog–Foxf, que precisa ser temporariamente desativado para que as células se transformem em osteoblastos, responsáveis pela criação do tecido ósseo. Quando o sinal Hedgehog permanece ativo por muito tempo, o processo de regeneração é bloqueado e o osso não se forma corretamente.
Os autores explicaram que o segredo para a regeneração não há equilíbrio entre ativar e silenciar certos sinais genéticos dentro das células.
“Descobrimos que o controle preciso dessas vias é essencial para que o osso ao redor dos dentes se forme e se mantenha de forma saudável”, afirmaram na pesquisa. “É um mecanismo biológico único, específico dos dentes, que depende de uma sequência exata de ligações e desligamentos moleculares”, acrescenta.
O osso alveolar é uma estrutura vital: mantém os dentes fixos e absorve a pressão da mastigação. No entanto, esse tecido é um dos mais afetados por doenças bucais, especialmente a periodontite, que causa perdas ósseas e afeta, segundo a pesquisa, cerca de 3,5 bilhões de pessoas em todo o mundo. Até hoje, não existe um tratamento que consiga regenerar completamente esse osso.
Com as descobertas do grupo liderado por Ono e Nagata, os cientistas acreditam que será possível desenvolver tratamentos capazes de ativar as próprias células-tronco do paciente para restaurar dentes e ossos danificados. A longo prazo, a meta é criar terapias que dispensem o uso de próteses ou implantes de titânio, atualizando-os por métodos biológicos baseados na regeneração natural.
“Essas células funcionam como pequenas fábricas de residência dentro do corpo”, explicam os pesquisadores. “Agora que sabemos quais sinais controlam seu funcionamento, podemos pensar em maneiras de usá-las para restaurar dentes perdidos e reparar ossos danificados.”
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