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Democratas fazem autoanálise e projetam futuro após derrota

Democratas fazem autoanálise e projetam futuro após derrota

Após a segunda derrota para o republicano Donald Trump em três eleições, o Partido Democrata faz uma avaliação interna para tentar diagnosticar onde errou e traçar planos para o futuro da legenda.

A escolha do candidato de 2024 já foi um indicativo da atual bagunça dentro do partido. Em 2020, Joe Biden, eleito presidente naquele ano, disse que se via como um “candidato de transição”, indicando que novas lideranças democratas viriam substituí-lo e que ele deveria exercer apenas um mandato.

Porém, alegando que os Estados Unidos estavam muito “divididos”, Biden decidiu tentar a reeleição e praticamente impôs o seu nome nas primárias democratas. Depois do seu péssimo desempenho no debate com Trump no final de junho, sofreu pressão para desistir da corrida eleitoral e acabou substituído por sua vice, Kamala Harris, no mês seguinte.

Muitos democratas acreditam que essa demora na troca prejudicou Kamala, mas esse não teria sido o motivo principal da derrota. A desconexão com o eleitorado de baixa e média renda, ou mais prejudicada pela alta inflação durante boa parte da gestão de Biden, foi o fator decisivo.

A prova dessa insatisfação é que o voto latino em Trump aumentou bastante em relação a 2020 e o republicano cresceu eleitoralmente em redutos democratas como Nova York e Illinois.

“Este é um desastre histórico de regras bíblicas. Ó Partido Democrata, da forma que está, está morto. Este é um realinhamento histórico. Havia democratas pró-Reagan. Agora, há democratas pró-Trump”, disse Chris Kofinis, estrategista democrata e ex-chefe de gabinete do senador centrista Joe Manchin (independente, deixou o Partido Democrata este ano), em declarações publicadas pelo The Wall Street Journal.

“As elites deste país se afastaram dos candidatos em todos os lugares porque não queriam ouvir o que os membros da classe trabalhadora e média estavam gritando por quatro anos — concentrem-se em nós e nossos em problemas, não em sua agenda para destruir Trump” , acrescentou Kofinis.

O senador Bernie Sanders, ex-democrata que fez parte da ala mais à esquerda do partido, fez o mesmo diagnóstico.

“Não deveria ser nenhuma grande surpresa que um Partido Democrata que abandonou a classe trabalhadora descubra que a classe trabalhadora o abandonou”, afirmou em uma declaração na quarta-feira (6).

Analistas da imprensa americana, como Chuck Todd, da NBC News, apontaram que o foco dos democratas em pautas identitárias e de costumes, como o aborto, ao invés de se preocuparem com a economia, prejudica o partido.

Em entrevista à Gazeta do PovoFernanda Brandão, coordenadora da área de Relações Internacionais da Faculdade Mackenzie Rio, presentes com essa avaliação.

“Apesar dos apelos ideológicos, no fim do dia, o que realmente motiva o eleitor a sair de casa e votar é a sua percepção sobre a situação econômica do país e seu bem-estar. A avaliação negativa do governo Biden em torno de questões econômicas parece ser uma das principais explicações para a derrota de Kamala Harris nas urnas”, afirmou.

Nenhum grande nome desponta entre as novas lideranças

Ao contrário das eleições anteriores, nenhum grande novo nome parece despontar para o futuro dos democratas. Kamala, que já foi tratada como o “futuro do partido”, terá que lutar contra um fantasma: candidatos à Casa Branca derrotada não costumam ter segundas chances.

Na quarta-feira, num discurso aos apoiadores em Washington, ela pediu mobilização da militância democrata, mas não deu pistas sobre seus próximos passos.

Os nomes cogitados para vice de Kamala na eleição (posição que ficou com Tim Walz, governador de Minnesota) dão um indicativo de quem podem ser os próximos pré-candidatos à presidência democrata.

Entre eles, estavam Josh Shapiro, governador da Pensilvânia, Gavin Newsom, da Califórnia, e Gretchen Whitmer, de Michigan.

Porém, como apontado, nenhum deles parece ter (ao menos por hora) o alcance de grandes nomes democratas do passado, como Barack Obama, ou mesmo de republicanos do presente, como JD Vance, o vice de Trump, e Ron DeSantis, governador da Flórida.

“Tanto o futuro de Kamala como os futuros nomes predominantes no Partido Democrata vão depender se o partido vai optar por caminhar para uma vitória cada vez mais progressista ou tentar um nome considerado mais moderado que possa atender também aos republicanos que não estão satisfeitos com Trump como o principal nome do partido”, afirmou Fernanda Brandão.

“É importante lembrar que nomes importantes do Partido Republicano não compareceram nem discursaram na última conferência do partido, como George W. Bush e Mitt Romney. Além de outros nomes do Partido Republicano que apoiaram abertamente a candidatura de Kamala em detrimento de Trump”, disse o analista.

Esse processo de investigação democrata certamente será complicado, mas poderá ser facilitado por eventuais erros de gestão de Trump ou caso o republicano não consiga cumprir promessas de campanha, como recuperar o poder de compra do trabalhador americano.

“O aumento das tarifas [sobre importações, proposta de Trump] certamente vai afetar o custo final de diversos bens nos EUA, levando ao aumento do custo dos mesmos. Além disso, os países que sofrerem a imposição de tarifas certamente deverão retaliar comercialmente os EUA em alguma medida, o que pode gerar mais pressão sobre os preços dos bens no país”, alertou Brandão.

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