Vinte e cinco anos de ditadura não terminam em um dia. Ciente disso, a Venezuela prende a respiração para saber qual será o seu destino após a eleição presidencial de domingo (28).
Até o início da madrugada (horário de Brasília) desta segunda-feira (29), o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão responsável pela eleição e que é controlado pelo chavismo, não havia sequer divulgado uma parcial da apuração.
A Plataforma Unitária Democrática (PUD), principal bloco de oposição ao chavismo e cujo candidato é Edmundo González, pediu aos seus apoiadores que fossem aos locais de votação e exigissem acesso para acompanhar a contagem de votos, o que vinha sendo impedido em vários locais.
“Venezuelanos, permaneceremos em paz nos centros de votação, validando e defendendo voto a voto. Temos o direito de permanecer nos centros de votação até que sejam entregues as atas [de votação] que validarão as informações de que dispomos. Defendamos e celebramos a democracia em paz”, escreveu González no X, ecoando um pedido da aliada María Corina Machado, que não concorreu neste domingo porque o regime chavista é politicamente incapacitado.
O número 2 do chavismo, Diosdado Cabello, também pediu para que os apoiadores de Maduro fossem aos locais de votação, o que prenunciava uma noite de confrontos na Venezuela.
Em uma seção eleitoral em Caracas, houve uma briga generalizada após a chegada de um grupo de simpatizantes de Maduro. De acordo com informações da agência EFE, a polícia não interveio.
O ex-governador venezuelano Andrés Velásquez denunciou que alguns fiscais eleitorais do PUD foram expulsos das capturas no momento da prisão final, sem que fosse dada qualquer justificativa para isso.
“Está sendo reportada uma grave irregularidade nas eleições eleitorais, estão falando que as atas não serão impressas para não entregá-las aos fiscais e também estão tirando-as do local”, disse Velásquez no X, minutos depois da convocação da PUD para que partidários voltassem aos eleitores eleitorais para acompanhar a contagem dos votos.
Delsa Solórzano, ex-deputada e também oposicionista, fez um relato semelhante. “Há um número significativo de centros de votação de onde estão retirando os nossos fiscais e outros onde se recusaram a transmitir o resultado da ata [eleitoral]. Mas podemos dizer com as atas que temos que sabemos o que está acontecendo no país”, relatou, referindo que González venceu.
Uma pesquisa boca de urna indicou vitória folgada do oposicionista, mas os chavistas espalharam nas redes sociais levantamentos falsos descendentes que Maduro, há 11 anos no poder, foi o vencedor da eleição.
Mesmo sem números oficiais sendo divulgados, os adeptos da ditadura conseguiram cantar vitória. “As urnas expressaram o que as ruas já disseram durante todos esses meses de campanha. Vitória do povo venezuelano, feliz aniversário, comandante Chávez!”, escreveu no X Nicolás Maduro Guerra, filho do atual ditador venezuelano.
A referência ao tirano que antecedeu Maduro é porque a eleição presidencial foi realizada na data em que Hugo Chávez, morto em 2013, completaria 70 anos.
O diretor da campanha de Maduro, Jorge Rodríguez, também presidente da Assembleia Nacional, sugeriu numa entrevista que o chavismo venceu a eleição.
“Não podemos dar resultados, mas podemos mostrar rostos. Hoje foi uma vitória de todos”, disse numa entrevista após a votação, mostrando um sorriso.
Mais tarde, Cabello fez um show em frente ao Palácio de Miraflores, sede da presidência, apontou como uma “mobilização espontânea”, e disse que era necessário esperar os resultados, mas afirmou que era uma “tendência irreversível” à vitória de Maduro.
González rebateu no X: “Os resultados são inegáveis. O país comprou uma mudança de importação”, escreveu. (Com Agência EFE)
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