Entre as principais mudanças estão os repasses da União ao Fundeb e as regras que resistiram ao BPC. Também há uma brecha para permitir aos supersalários no funcionalismo público. Câmara aprova em dois turnos PEC do Ajuste Fiscal Os projetos que compõem o pacote de corte de gastos enviados pelo governo ao Congresso foram desidratados para agradar aos parlamentares e obter votos suficientes para serem aprovados na Câmara. As principais mudanças foram feitas nos repasses da União ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e nas regras que suportaram o BPC (leia mais abaixo). Também há uma brecha para permitir aos supersalários no funcionalismo público. Agora, três dos quatro textos precisam ser analisados pelo Senado. Dois deles seguem para a sanção de Lula (um projeto de lei e um projeto de lei complementar) e um terceiro será promulgado (PEC) pelo Congresso. A quarta proposta trata da retirada das forças armadas e só chegou à Câmara nesta semana. A votação aprovada para 2025. Fundeb O texto aprovado pelos deputados cria uma nova categoria para contabilizar a contribuição da União ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). O trecho foi o que mais sofreu mudanças do relator Moses Rodrigues, a pedido de lideranças e do setor educacional. Originalmente, o governo estimou que as alterações no Fundeb tiveram o segundo maior impacto no pacote em 2025: R$ 4,8 bilhões. Com as mudanças do parlamentar ao texto do Planalto, a economia deverá ser menor e limitada somente ao próximo ano. As regras atuais estabelecem que, até 2026, a União passará a contribuir com, no mínimo, 23% do total de recursos dos fundos estaduais de fomento à educação. Os repasses são feitos com base em três critérios e percentuais diferentes — dois que determinam a complementação a estados nos quais o valor por aluno está abaixo do mínimo nacional; e um, que beneficia localidades com evolução em indicadores educacionais. A PEC cria uma categoria de distribuição, que poderá abocanhar até 10% do total de recursos injetados pela União no Fundeb em 2025. Na prática, a mudança reduz a complementação nos critérios já existentes. O novo sorteio, que poderá ser criado com a eventual promulgação da PEC, será direcionado ao incentivo ao tempo integral na educação básica pública. Nesse ponto, o governo propôs que a categoria poderia ter até 20% do total de repasses, por tempo indeterminado. O texto aprovado pela Câmara reduz, portanto, o alcance da medida. Mudanças no BPC A proposta enviada pelo governo suportou as regras de acesso ao BPC, mas foi amenizada pelo relator. Mesmo deputados governamentais se mostraram resistentes ao texto, que foram alterados para preservar parte das regras previstas para o benefício atual. O BPC é um direito da pessoa com deficiência e do idoso com 65 anos ou mais de receber um salário mínimo por mês se não tiver condição de se sustentar ou ser sustentado pela sua família. O texto do governo restringia, por exemplo, a definição de pessoa com deficiência moderadamente incapacitada para a vida independente e para o trabalho para a concessão do benefício. Este trecho foi excluído. A nova redação diz que a concessão do BPC fica sujeita à avaliação que conclui que o beneficiário tem deficiência de grau moderado ou grave e mantém a definição, mais ampla, prevista hoje na legislação para pessoa com deficiência: “aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”. Um trecho retirado do texto era o que impedia que pessoas ou idosos com posse ou propriedades de bens, inclusive de terra nua, que superassem o limite de autorizado referente ao seu patrimônio, não poderiam receber o BPC. O relator também retirou outras amarras da proposta em busca de votos para a aprovação. A renda do parceiro e “companheiro não coabitante” – aquele que não mora junto – deixa de entrar no cálculo de renda familiar para ter acesso ao benefício, como na proposta do governo. Na prática, o relator limitou o conceito de família, antes ampliado pelo governo, o que tornaria menos pessoas elegíveis ao benefício. Supersalários A proposta reforça que o Congresso deverá aprovar uma lei para combater os supersalários no funcionalismo público. A regra tem a meta de barrar dribles ao teto de vencimentos no serviço público — fixada em R$ 44 mil neste ano e em R$ 46,3 mil para 2025. O texto estabelece que verbas indenizatórias terão de ser contabilizadas dentro do limite de vencimento . Também determina que eventuais possibilidades somente poderão ser definidas por meio de uma lei comum, aprovada pelo Congresso, com escopo nacional, e aplicada a todos os Poderes e órgãos independentes. A proposta enviada pelo governo, no entanto, propôs que as propostas deveriam ser propostas por meio de uma lei complementar — de mais difícil aprovação pelo Congresso. Para atender a muitos servidores, que fizeram campanha contra a medida proposta pelo governo, Moisés Rodrigues propôs uma medida para garantir que os beneficiários dos supersalários sigam recebendo os penduricalhos enquanto não forem sancionados uma lei com as propostas. Os parlamentares avaliam que, na prática, enquanto não existir uma norma sobre o que deve ficar fora do teto, tudo continuará igual. Congelamento de emendas A proposta também amplia o poder do governo para congelar o pagamento de emendas parlamentares, quando houver resultado negativo na economia. O texto original prevê que essa medida seria aplicada a todas as emendas. Na noite desta quarta, por acordo, o governo apresentou uma sugestão de mudança — aprovada pelos deputados — para limitar o congelamento de emendas não impositivas, que o governo não tem obrigação de pagar amenizando o texto. Pelo texto, o Executivo poderá bloquear ou contingenciar essa categoria de recursos, observando a disposição de congelamento de outras despesas discricionárias e prioridades elencadas pelo próprio Congresso.
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