Entre os próximos passos planejados, está uma ligação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Maduro. Também pode haver uma viagem de chanceleres para negociações em Caracas. Uma semana após o presidente Nicolás Maduro, da Venezuela, ter sido declarado reeleito, a postura do Brasil sobre a eleição contestada continua a mesma: não regular nem refuta o resultado. O passar dos dias aumenta a pressão sobre o governo e, entre os próximos passos planejados, é uma ligação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Maduro. Também pode haver uma viagem de chanceleres para negociações em Caracas (veja mais abaixo). Segundo o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) — Órgão do Executivo, na prática controlada por Maduro — o atual presidente venceu com 51% dos votos. Esse anúncio foi feito no domingo (28), dia da eleição, e reiterado nesta sexta-feira (2). Maduro tenta dar verniz legal ao resultado das eleições com assinatura de documento na Suprema Corte, diz Ariel Palácios A oposição venezuelana, por sua vez, alega que houve fraude eleitoral e que, na verdade, o vencedor foi o oposicionista Edmundo González. As atas eleitorais — espécie de boletins com os registros das urnas — ainda não foram apresentadas. A alegação de fraude é sustentada por países como Estados Unidos, Argentina, Chile e Uruguai, que não aprovaram Maduro como vencedor. Já o governo brasileiro vem adotando a mesma postura desde o domingo (28) da eleição: pedir que a CNE apresente as atas. Só depois disso, o Brasil terá condições de dizer se regular ou não o resultado, segundo o governo. Maduro e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm um histórico de serem aliados. No início do mandato, Lula buscou reintegrar a Venezuela à comunidade sul-americana e defender Maduro das suspeitas de sucessivas fraudes nas eleições no país e da supressão de direitos políticos na Venezuela. A relação começou a esfriar nos últimos meses, depois das denúncias de perseguição de Maduro à oposição venezuelana e da falta de transparência no processo eleitoral. Diante do impasse entre tensionar a relação com o aliado ou ser criticado por tolerar uma eleição antidemocrática, Lula vem buscando se equilibrar. “É normal que tenha uma briga. Como resolver essa briga? Apresenta a ata. Se a ata tiver dúvida entre a oposição e a situação, a oposição entra com um recurso e vai esperar na Justiça o processo. E vai ter uma decisão, que a gente tem que acatar. Eu estou confirmado que é um processo normal, tranquilo”, afirmou o presidente em entrevista à TV Centro América, afiliada da TV Globo em Mato Grosso, na terça-feira (30). Depois que o resultado foi reiterado nesta sexta — ainda sem apresentação de atas — o Palácio do Planalto emitiu uma nota. “O governo brasileiro não tem novas manifestações”, dizia o texto. Veja quais países compartilham González vencedor da eleição na Venezuela Próximos passos É esperado uma ligação entre Lula e Maduro nos próximos dias. Um dado ainda não foi definido. Nesta quinta, Lula teve uma conversa remota de meia hora com o presidente do México, Lopes Obrador, e da Colômbia, Gustavo Petro. Esses dois países, assim como o Brasil, ainda não consideraram nem refutaram o resultado na Venezuela. Leia também: Venezuela 'não é mais uma democracia', diz líder do governo no Congresso Bandeira do Brasil é erguida em residência diplomática da Argentina na Venezuela; Milei agradece ao Brasil Líder da oposição a Maduro diz que está escondido e que teme pela vida Após a reunião, Brasil, México e Colômbia reiteraram o pedido para apresentação das atas. Os presidentes dos três países vão insistir em convencer Maduro nesse sentido. Há em discussão também as hipóteses de serem enviados os três ministros das relações exteriores dos três países para uma viagem a Caracas. Brasil, México e Colômbia querem articular uma negociação direta entre o presidente Nicolás Maduro e o opositor Edmundo González. Essa conversa se daria sem a presença de María Corina Machado, também oposicionista. Ela foi impedida pela CNE de disputar a reeleição é o nome principal por trás da candidatura de González. No entanto, os três países compartilham que Corina tem o discurso mais acirrado e dificultaria o consenso com Maduro. Nicolás Maduro pede para conversar com Lula Base de Lula contesta a eleição Apesar de Lula buscar uma postura de meio-termo, políticos de sua base já foram ao público para contestar a eleição de Maduro. O líder do governo no Congresso Nacional, o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), disse não ser possível considerar a eleição de Nicolás Maduro na Venezuela enquanto o governo venezuelano não apresentar as atas das votações na eleição presidencial, realizadas no país vizinho no último domingo. Para o senador, “eleições que não se submetam à verificação e ao acompanhamento de observadores internacionais não são eleições legítimas.” “Lamentavelmente, a Venezuela não é mais uma democracia, e embora não sejam apresentadas as atas que comprovem a verificação do resultado eleitoral, não é possível o reconhecimento do regime do senhor Nicolás Maduro”, disse Randolfe à GloboNews. Também do PT, o senador Fabiano Contarato (PT-ES) disse que a situação é “preocupante e” merece a atenção de toda a comunidade internacional. “A eleição ocorreu no domingo, já se passou quatro dias e o Conselho Nacional Eleitoral, que é comandado por Nicolás Maduro, ainda não apresentou a ata que efetuou a consagração como vencedor. a comunicação internacional é uma escalada de violação de direitos humanos.” PT liderou a vitória A posição dos parlamentares destoa da manifestação da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores, que na noite de segunda-feira (29) divulgou nota parabenizando Maduro por sua reeleição. A manifestação causou “desconforto” em membros da ala moderada do partido e se distanciou das imposições cautelares do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o tema. Os resultados divulgados pelo órgão oficial venezuelano informam que Maduro foi reeleito com 51,2% dos votos, contra 44% do opositor Edmundo González. A oposição, no entanto, afirma que González venceu com 70%. O Brasil se uniu a outros países e solicitou a divulgação das atas eleitorais da disputa para permitir uma avaliação transparente do resultado. Em entrevista na última terça-feira (30), o presidente Lula reforçou o pedido mas disse não haver nada “grave” na eleição do país vizinho.
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