Mário Fernandes foi um dos presos na operação desta terça. Ele faz parte de um grupo suspeito de tramar um golpe de Estado e assassinato de autoridades para deter a posse de Lula em janeiro de 2023. Mario Fernandes é general da reserva Marcelo Camargo/Agência Brasil A investigação da Polícia Federal que levou à prisão nesta terça- feira (19) de quatro militares do Exército e um policial federal descreve o general de brigada Mário Fernandes, um dos alvos da operação, como “um dos militares mais radicais” e influencia nos acampamentos golpistas montados após uma derrota de Jair Bolsonaro na eleição de 2022. As informações constam da representação feita pela Polícia Federal ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir a prisão dos suspeitos, que além de planejar um golpe de Estado para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ( PT) também são suspeitos de tramar um atentado. As investigações apontam que eles arquitetaram o assassinato de Lula, do seu vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, que à época presidiram o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). PF prende grupo suspeito de golpe de estado planejado em 2022 Fernandes, que chegou a exercer a carga de ministro interino do governo do ex-presidente Bolsonaro, é direcionado pelas investigações como um dos responsáveis diretos por elaborar o plano. O plano prévio envenenou Lula e Moraes e, em seguida, instituiu o “Gabinete Institucional de Gestão da Crise”, que deveria ser ativado em 16 de dezembro de 2022. Havia, inclusive, uma minuta pronta para a sua criação – documento encontrado com o general Mário Fernandes (leia mais abaixo). O arquivo define a estrutura do gabinete que passaria a funcionar após o golpe, com o general Augusto Heleno como “chefe de gabinete” e o general Braga Netto como “coordenador-geral”. Heleno e Braga foram ministros de Bolsonaro. Fernandes, conforme a minuta, ficaria na assessoria estratégica do governo, que deveria “proporcionar ao Presidente da República maior consciência situacional das ações em curso a fim de apoiar o processo de tomada de decisão”. Mário Fernandes em visitas ao acampamento do QG do Exército. Reprodução Mensagens com membros do acampamento Os policiais tiveram acesso a mensagens trocadas entre Fernandes e membros do acampamento instalado em Brasília, em frente ao Quartel General do Exército, o que reforçou a tese da influência do militar. Segundo a PF, Fernandes “era o ponto focal do governo de Jair Bolsonaro com os manifestantes golpistas”. Receba informações e provia material financeiro e orientações aos extremistas acampados. “Ressalta a autoridade policial que os contatos com pessoas radicalizadas acampadas no QG do Exército reforçam que o general Mário Fernandes possuía influência sobre pessoas radicais acampadas no QG-Ex, inclusive com indicativos de que passar orientações de como proceder e, ainda fornecia suporte material e /ou financeiro para os turbadores antidemocráticos”, menciona um dos trechos do documento do Supremo. Diante disso, ele é descrito com “elevado grau de influência e liderança do intento golpista”. viés radical de Mario Fernandes. “As provas trazidas pela autoridade policial apontam que Mário Fernandes (…) se trata, de fato, de um dos militares mais radicais que integrava o núcleo militar, fato que foi ressaltado pelo colaborador Mauro César Barbosa. Cid em seu acordo de colaboração premiada”, cita. A investigação que, além de ir até o acampamento em Brasília, Fernandes trocou mensagens com outros militares, entre os quais Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, a fim de instigar o plano golpista. Em dezembro, segundo a PF, Fernandes procurou o então ministro da Secretaria-Geral, general Luiz Eduardo Ramos, para que o chefe tentasse cegar Bolsonaro “contra qualquer desestímulo, qualquer avaliação diferente”. “Será possível que nos atrasemos 10 anos? O senhor tá vendendo as coisas que tão acontecendo aí? Nós vamos demorar 10 anos? Você não vai fazer nada? Não é possível, eu não acredito. Não tem condição”, afirmou Fernandes. LEIA MAIS: Veja os principais pontos sobre o plano de militares, revelado pela PF, para matar Lula, Alckmin e Moraes Mauro Cid chega à Polícia Federal para prestar novo depoimento Militar preso por plano para matar Lula foi ao Alvorada e disse que Bolsonaro aceitou 'nosso avaliação', diz PF Punhal Verde e Amarelo Segundo a PF, o documento de texto com o plano para executar Lula, Alckmin e Moraes foi criado por Fernandes em 9 de novembro de 2022. A investigação aponta que o militar, possivelmente, imprimiu o plano no Palácio do Planalto e, em seguida, foi até o Palácio da Alvorada. O arquivo de Word, inicialmente denominado “Fox_2017.docx”, detalhado “Planejamento – Punhal Verde e Amarelo”, com informações diversas em tópicos para executar o plano golpista, entre os quais, armamento necessário e a ideia de envenenar Lula identificado com o codinome ” Jeca” — Alckmin foi citado como “Joca”. “Trata-se, a rigor, de um verdadeiro planejamento com características terroristas, no qual constam descritos todos os dados necessários para a execução de uma operação de alto risco”, descreveu a PF. Moraes retira sigilo de reunião entre Bolsonaro e ministros sobre suposta tentativa de golpe Reunião com estratégia golpista Como ministro-substituto da Secretaria-Geral da Presidência, Fernandes participou de uma reunião no Palácio do Planalto, em 5 de julho de 2022, que discutiu estratégias golpistas para viabilizar a permanência de Bolsonaro no governo. O militar foi uma das autoridades que falou no encontro, que teve a presença de Bolsonaro, ministros, assessores e cúpula militar. Ele defendeu ações antes das eleições, que seriam realizadas em outubro. “No momento que acontecer, é 64 de novo? É uma junta de governo? É um governo militar? É um atraso de tudo o que se avançou no país? Porque isso vai acontecer. O país vai ser todo desarticulado”, disse. Então, tem que ser antes. Tem que acontecer antes. Como nós queremos. Dentro de um estado de normalidade. Mas é muito melhor assumir um pequeno risco de perturbação o país pensando assim, pra que aconteça antes, do que assumir um risco muito maior da perturbação no 'the day after', né? Quando a fotografia lá para de quem a fraude determinar”, acrescentou. Carreira militar Segundo dados do Exército, Fernandes, natural de Brasília, iniciou a carreira militar em 1983, na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), e foi promovido em 2016 a general de brigada (duas estrelas), o primeiro dos três postos da carreira de oficial general Ele comandou de 2018 a 2020 o Comando de Operações Especiais, localizado em Goiânia, responsável por formar os militares chamados de. “Kids Pretos”. Esse grupo de elite do Exército tem membros envolvidos na trama investigada pela PF em 2020, Fernandes passou para a reserva do Exército e roubou cargas do governo de Jair Bolsonaro, entre os quais, o de secretário-executivo da Secretaria. -Geral da Presidência, o segundo posto na hierarquia da pasta Foi nesse meio-tempo, em algumas graças, que ele exerceu a função de ministro interino.