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Silvio Santos tentou concorrer à Presidência da República em 1989

Silvio Santos tentou concorrer à Presidência da República em 1989

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Foi a primeira eleição presidencial pelo voto direto após a ditadura militar; a candidatura foi barrada pelo TSE uma semana antes da votação. Empresário e comunicador morreu neste sábado, aos 93 anos. Silvio Santos apresenta o programa beneficente Teleton 2013 na sede do SBT em São Paulo, em outubro de 2013 Vanessa Carvalho/Brasil Photo Press via AFP/Arquivo O empresário e comunicador Silvio Santos tentou disputar a eleição presidencial de 1989 – a primeira pelo voto direto após quase três décadas – pelo Partido Municipalista Brasileiro (PMB), que foi extinto logo após o pleito. Silvio Santos morreu aos 93 anos neste sábado (17). Ele foi um dos maiores nomes da televisão brasileira, em especial à frente do Programa Silvio Santos, que comandava desde 1963, e do Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT, que começou no ar em 1981. A candidatura do dono do SBT foi oficializada duas semanas antes do primeiro turno, marcado para o dia 15 de novembro, mas foi contestado por partidos adversários e acabou barrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 9 de novembro. Embora não tenha sido aceita pela Justiça, a tentativa de Silvio Santos agitou o processo eleitoral naquele ano. A eleição terminou com a vitória de Fernando Collor (PRN), que derrotou o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno, realizada em 17 de dezembro. AO VIVO: acompanhe a cobertura da morte de Silvio Santos Silvio Santos: de camelô a maior apresentador da TV brasileira Relembre 10 programas que ele apresentou Dono de um rosto conhecido pelos brasileiros, o apresentador de televisão figurou bem nas pesquisas eleitorais, chegando a alcançar 30 % das intenções de voto nas sondagens, de acordo com informações do TSE. Problemas com o registro do PMB e questionamentos sobre a legalidade da candidatura de um proprietário de uma rede de televisão pesaram na decisão da Justiça Eleitoral, que indeferiu a tentativa de Silvio Santos, frustrando os planos do empresário, aliados e fãs. Veja nesta reportagem (clique no link para seguir ao conteúdo): A eleição de 1989 A entrada de Silvio Santos Nome do apresentador não constava da cédula Adversários contestaram TSE barra a candidatura Túnel do tempo relembra tentativa impugnada A eleição de 1989 O momento era de efervescência política. Depois do fim da ditadura militar e na esteira do movimento “Diretas Já” e da promulgação da Constituição Federal de 1988, a “Constituição Cidadã”, os participantes participaram animados com a possibilidade de votar diretamente para presidente da República. A última vez que isso ocorreu foi em 1960 – eleição vencida por Jânio Quadros, quatro anos antes do golpe militar que inaugurou, no Brasil, um período marcado pela cassação de direitos políticos, censura, repressão e violência do Estado. O clima quente na política se refletiu na abundância de candidaturas em 1989, mais de 20 nomes foram lançados como concorrentes ao Palácio do Planalto. A primeira virada ocorreu em 15 de novembro; o segundo, em 17 de dezembro. Entre os postulantes estavam Ulysses Guimarães (PMDB), Aureliano Chaves (PFL), Lula (PT), Collor (PRN), Leonel Brizola (PDT), Mário Covas (PSDB), Paulo Maluf (PDS), Roberto Freire (PCB) , Guilherme Afif Domingos (PL) e Ronaldo Caiado (PSD). Lançado pelo nanico PRN, Fernando Collor chamou a atenção do eleitorado com uma imagem de político independente, jovem e empreendedor. Na outra ponta, estava o petista Lula – líder sindical, fundador do PT e deputado federal. A entrada de Silvio Santos Silvio Santos visitou Lula no Palácio do Planalto em 2010 Antonio Cruz/ABr Em 31 de outubro de 1989, duas semanas antes do primeiro turno do pleito, o PMN oficializou a candidatura de Silvio Santos. A oficialização tardia foi possível graças a uma brecha na legislação eleitoral aberta com o veto do então presidente José Sarney à data-limite de 15 de maio para a filiação partidária de postulantes. Antes do acordo pelo lançamento da candidatura do comunicador pelo PMB, Silvio Santos fez tratativas com o PFL, que tinha o ex-vice-presidente Aureliano Chaves como candidato, mas com poucas chances de vitória. No PFL, o empresário teria uma estrutura partidária maior do que a do PMB para concorrer na eleição presidencial. Embora tenha contado com o apoio de uma ala do PFL, Silvio Santos não conseguiu avançar nas negociações com o partido, que manteve a candidatura de Chaves. Restou ao dono do SBT, portanto, tente vencer a disputa em um partido de pouca expressão. O arranjo passou pela resistência do pastor Armando Corrêa, que, até então, era a cabeça da chapa do PMB. Com a entrega, Silvio Santos passou a ser o candidato da sigla à Presidência, tendo Marcondes Gadelha, depois senador pela Paraíba, como candidato a vice. Nome do apresentador não constava da cédula Com a entrada tardia na disputa eleitoral, o proprietário do SBT teve um pouco de tempo para fazer campanha. Foram apenas 10 dias de propagandas até a Justiça Eleitoral indeferir sua candidatura. Nas poucas inserções partidárias na televisão, Silvio Santos apresentou seu programa de governo, que tinha, como “prioridades básicas”, ações nas áreas de alimentação, saúde, habitação e educação. Ele também disse que, se o eleito fosse, atacaria “imediatamente” a inflação alta e a falta de correção no salário mínimo. Em outra propaganda, os empresários apresentaram o jingle de sua campanha, cujo refrão era “É o 26! É o 26! Com o Silvio Santos, chegou a nossa vez”. A melodia era a mesma da canção que marcou os seus programas de auditório. Em uma terceira presidência no horário eleitoral, o comunicador reclamou o fato de seu nome não aparecer na cédula de votação – uma consequência da mudança feita às pressas na chapa do PMB. “A maior dificuldade para mim é que meu nome não aparece na cédula. Vocês que desejam votar em mim não vão encontrar o nome de Silvio Santos na cédula”, afirmava na propaganda. Na sequência, o candidato explicou aos telespectadores que, para o voto ser computado para ele, o eleitor desviou, na cédula, marcando o X no número 26, que era seguido do sobrenome Corrêa, de Armando Corrêa, que renunciou à candidatura para dar lugar apresentador do SBT. A eleição de 1989 foi realizada pelo voto impresso. A urna eletrônica só foi utilizada a partir das eleições municipais de 1996. Adversários contestaram Segundo o portal do TSE, pesquisas realizadas na época apontaram que a candidatura de Silvio Santos foi preferida por cerca de 30% do eleitorado. A popularidade do apresentador de TV incomodou adversários, o que gerou a apresentação de 18 contestações – juridicamente chamadas de impugnações. Uma dessas impugnações foi apresentada pelo PRN, partido a que Collor era filiado naquele ano. A peça foi articulada por Eduardo Cunha, que depois viria a ser deputado e presidente da Câmara. O PRN apontou que o PMB, de Silvio Santos, estava com o registro irregular por não ter realizado convenções regionais em pelo menos 9 estados e convenções municipais em um número mínimo de cidades – critério disposições na legislação partidária que vigorava à época. Outras agremiações políticas apontaram que Silvio Santos não havia, de fato, se desvinculado do comando do SBT, uma empresa de entrega de um serviço público, seis meses antes das eleições – regra exigida na legislação eleitoral. TSE barra candidatura Foi com base nesta última regra que a Procuradoria-Geral Eleitoral elaborou parecer pela inviabilidade da chapa de Silvio Santos e Marcondes Gadelha. Para o Ministério Público, os critérios de inelegibilidade atingiam o fundador do SBT, devendo sua candidatura ser indeferida pela Justiça. No julgamento do dia 9 de novembro de 1989, o TSE declarou extintos os efeitos do registro provisório do PMB, o que impedia que a sigla indicasse candidatos. A Corte Eleitoral também recentemente, na decisão, o parecer do Ministério Público Eleitoral, confirmando a inelegibilidade de Silvio Santos, uma vez que, embora ele não constasse formalmente como diretor do SBT, exercendo poder sobre a empresa de comunicação. A decisão do TSE foi unânime: 7 votos a zero pela derrubada da candidatura de Silvio Santos. Depois disso, o comunicador evitou fazer comentários públicos sobre a campanha relâmpago à Presidência da República e decidiu dedicar o seu tempo à profissão de apresentador e às atividades empresariais. Túnel do tempo relembra candidatura impugnada de Silvio Santos em 1989

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