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Presentes oficiais: veja fotos, valores e a rota das joias que aliados de Bolsonaro tentaram vender ilegalmente nos EUA

Presentes oficiais: veja fotos, valores e a rota das joias que aliados de Bolsonaro tentaram vender ilegalmente nos EUA

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Lista inclui anéis, esculturas e relógios de luxo; PF ainda apura se outros itens foram ofertados em leilão e venda direta. Valor negociado pode ultrapassar R$ 1 milhão, indica inquérito. A investigação da Polícia Federal sobre o suposto esquema de negociação ilegal, no exterior, de presentes recebidos por Jair Bolsonaro (PL) no cargo de presidente da República identificou, até este sábado (12), quatro “conjuntos de bens” ofertados em leilão ou venda direta nos Estados Unidos.
Três desses quatro conjuntos identificados até aqui foram efetivamente colocados à venda. A Polícia Federal ainda investiga, no entanto, se outros presentes oficiais foram negociados e estima que as transações podem ultrapassar R$ 1 milhão.
Dos três conjuntos colocados à venda, dois tiveram de ser recuperados pelos aliados de Bolsonaro em uma “operação de resgate”, nos termos da PF.
Isso, porque o Tribunal de Contas da União (TCU) – ainda sem saber que os itens tinham sido vendidos a terceiros – determinou que os kits ficassem sob custódia da Caixa Econômica Federal.
A tentativa de vender esses itens é ilegal. Os objetos de alto valor recebidos pela Presidência da República devem compor o acervo público, ou seja, são bens do Estado.
O presidente pode usar os presentes enquanto está no cargo, mas só pode levar consigo, ao fim do mandato, itens considerados “personalíssimos” como roupas, alimentos e perfumes.
A lei também define regras para que os bens sejam colocados à venda: a União tem preferência de compra e precisa autorizar expressamente a comercialização no exterior.
Veja abaixo os principais detalhes dos quatro conjuntos de presentes oficiais cuja negociação ilegal já foi identificada pela PF:
joias masculinas e relógio da marca Chopard, recebidos em 2021;
kit com joias e relógio da marca Rolex;
escultura folheadas a ouro de um barco e de uma palmeira;
relógio da marca Patek Philippe.
As joias da Chopard
Joias da Chopard recebidas como presente oficial pelo governo Jair Bolsonaro e levadas a leilão nos EUA
Fortuna Auction/Reprodução
O que compõe o kit? Uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um rosário árabe (“masbaha”) e um relógio
Quando foi recebido? Em outubro de 2021, durante viagem do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, à Arábia Saudita
Qual foi o valor da negociação? O kit foi anunciado por uma casa de leilões sediada em Nova York com valor inicial de US$ 50 mil (R$ 245 mil) e valor estimado entre US$ 120 mil (R$ 588 mil) e US$ 140 mil (R$ 686 mil).
Segundo o relatório da PF, esse kit deixou o Brasil no mesmo voo oficial que levou Jair Bolsonaro e assessores à Flórida, nos Estados Unidos, no penúltimo dia do mandato presidencial.
As joias foram colocadas em leilão pela empresa Fortuna Auctions, de Nova York, mas não chegaram a ser arrematadas. Veja abaixo o vídeo de divulgação do “lote”:
Casa de leilões em Nova York mostra kit de joias que aliados de Bolsonaro tentavam vender
Quando o TCU mandou Bolsonaro entregar esse kit à Caixa Econômica Federal, em março, os bens foram “resgatados” na casa de leilão e devolvidos ao governo em 24 de março.
O anúncio feito pela casa de leilões indica que o relógio da Chopard foi fabricado em ouro rosé 18 quilates (o mesmo das outras peças) e faz parte de uma série limitada – apenas 25 desse modelo foram produzidos.
Além do ouro rosé, há diamantes no rosário e na caneta. Nas abotoaduras e no anel, a superfície mais destacada é lisa – “ideal para um monograma de prestígio”, sugere a empresa de leilões.
Mais joias e um Rolex
Joias e Rolex de Bolsonaro
Reprodução
O que compõe o kit? anel, abotoaduras, um rosário islâmico (“masbaha”) e um relógio da marca Rolex, de ouro branco com diamantes
Quando foi recebido? Em outubro de 2019, durante viagem oficial de Jair Bolsonaro à Arábia Saudita
Qual foi o valor da negociação? O relógio em ouro branco foi negociado junto com o relógio Patek Philippe (veja abaixo). Ao todo, os dois foram vendidos por US$ 68 mil (pouco menos de R$ 347 mil na cotação da época, segundo a PF). A investigação não aponta estimativa de valor para os outros itens.
O relógio Rolex negociado ilegalmente nos Estados Unidos é fabricado em ouro branco cravejado em diamantes e com mostrador em madrepérola branca, também cravejado em diamantes.
Já nos Estados Unidos, após ter sido transportado em voo oficial no fim de 2022, o kit foi desmembrado pelos assessores de Bolsonaro. O relógio foi vendido a uma empresa especializada, e as joias, entregues para venda em outra firma.
Os esforços de Mauro Cid para vender rolex avaliado em quase de 300 mil reais recebido de presente em viagem oficial
Assim como o kit de ouro rosé, esse kit de ouro branco teve de ser resgatado pelos aliados de Bolsonaro depois que o TCU determinou a devolução dos itens ao governo federal.
A operação de resgate envolveu Frederick Wassef, advogado e amigo de Jair Bolsonaro, e o ex-ajudante de ordens Mauro Barbosa Cid. Cid chegou ao Brasil em 28 de março com as joias, e Wassef, no dia seguinte, com o relógio.
O kit foi remontado e entregue em uma agência da Caixa, em Brasília, no dia 4 de abril.
Cronologia: como aliados de Bolsonaro venderam e recuperaram Rolex recebido do governo da Arábia Saudita
Kit com joias em ouro branco negociado ilegalmente por assessores de Bolsonaro nos EUA
PF/Reprodução
Esculturas folheadas a ouro
Bolsonaro recebe palmeira folheada a ouro como presente oficial em evento no Bahrein
PF/Reprodução
O que compõe o kit? Uma escultura de barco e uma escultura de palmeira, ambas folheadas a ouro.
Quando foi recebido? A palmeira foi entregue a Jair Bolsonaro em novembro de 2021, em um seminário com empresários árabes e brasileiros no Bahrein. A PF ainda não identificou a origem do barco.
Qual foi o valor da negociação? A investigação não identificou valores, mas mensagens de Mauro Cid indicam que as peças foram avaliadas com valores baixos porque eram apenas “folheadas”, e não de ouro maciço.
As duas estatuetas recebidas por Bolsonaro como presentes oficiais também foram levadas no voo oficial para Orlando, na Flórida, na véspera do fim do mandato em 2022. De lá, seguiram para Miami, no mesmo estado.
Essa viagem foi tratada entre Mauro Cid e uma ex-assessora de Michelle Bolsonaro identificada como Marcela Magalhães Braga – à época, indicada para um cargo no consulado do Brasil em Orlando.
As mensagens obtidas pela PF mostram que as duas estátuas foram levadas para avaliação em uma loja de itens de luxo em Miami – e que os assessores se desapontaram ao descobrir que as peças eram apenas folheadas a ouro e, portanto, não valiam tanto quanto esperado.
Cid chega a dizer que ainda tentava negociar com outro homem, não identificado. Mas não cita o valor apurado até aquele momento.
“(…) aquelas duas peças que eu trouxe do Brasil: aquele navio e aquela árvore; elas não são de ouro. Elas têm partes de ouro, mas não são todas de ouro (…) Então eu não estou conseguindo vender. Tem um cara aqui que pediu para dar uma olhada mais detalhada para ver o quanto pode ofertar (…) eu preciso deixar a peça lá (…) pra ele poder dar o orçamento. Então eu vou fazer isso, vou deixar a peça com ele hoje (…)’.
Veja foto em que aparece reflexo de pai de Mauro Cid
Relógio Patek Philippe
Relógio Patek Philippe negociado por assessores de Bolsonaro, ilegalmente, nos Estados Unidos
PF/Reprodução
O que compõe o kit? Um relógio da marca Patek Philippe
Quando foi recebido? Segundo a PF, possivelmente na mesma visita oficial de Bolsonaro ao Bahrein em novembro de 2021.
Qual foi o valor da negociação? O relógio Patek Philippe foi negociado junto com o relógio de ouro branco de um dos kits da Arábia Saudita (veja acima). Ao todo, os dois foram vendidos por US$ 68 mil (pouco menos de R$ 347 mil na cotação da época, segundo a PF).
O relógio da marca suíça Patek Philippe, uma das mais tradicionais grifes do setor em todo o mundo, não foi sequer registrado oficialmente no acervo do governo federal.
Segundo a Polícia Federal, o item foi extraviado do acervo oficial “diretamente para a posse do ex-presidente Jair Bolsonaro”.
A PF destacou que fotos do relógio foram enviadas por Mauro Cid para um contato cadastrado em sua agenda como “Pr Bolsonaro Ago/21” em 16/11/21, ainda durante a viagem ao Bahrein.
Também foi enviada ao mesmo contato uma fotografia do certificado do relógio, indicando que ele era original de uma loja daquele país.
Como o relógio não havia sido registrado, no entanto, não foi necessária uma “operação” para “recuperar o referido bem, pois, até o presente momento, o Estado brasileiro não tinha ciência de sua existência.”

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