Vereadora negra Elaine do Quilombo Periférico (PSOL) foi designada relatora. A pena pode ir da simples advertência verbal até a cassação do mandato do vereador. A vereadora Elaine do Quilombo Periférico do PSOL e Camilo Cristófaro (sem partido).
Montagem/Divulgação/André Bueno/Rede Câmara
A Corregedoria da Câmara Municipal de São Paulo aceitou um parecer da vereadora Elaine Mineiro, do Quilombo Periférico (PSOL), relatora do processo contra o vereador Camilo Cristófaro (sem partido), e abriu um processo contra o parlamentar pelo uso de uma frase racista em sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Aplicativos em 3 de maio.
O relatório de Elaine, que recomendava a abertura do processo, foi lido em plenário. Posteriormente, os integrantes da Corregedoria aprovaram a abertura do processo por seis votos favoráveis.
A relatora admitiu quatro representações contra Camilo Cristófaro, sendo que uma delas pede a suspensão do parlamentar e as demais, cassação do mandato.
Agora, o parlamentar poderá apresentar defesa sobre o episódio.
No relatório, a relatora reforçou a necessidade do combate ao racismo e que trata-se de crime, citando ainda estudos acadêmicos, como o livro “Racismo Recreativo”, de Adilson Moreira, que relata a colocação das pessoas pretas em condição de inferioridade e de maneira pejorativa pelas pessoas no dia a dia.
Todos os vereadores membros da comissão criada para apurar o episódio votaram a favor do relatório, admitindo assim, inclusive, a cassação do mandato. O texto será analisado também pelo plenário da Casa ainda na próxima terça-feira (24), devendo ter até 37 votos para referendar a admissibilidade do texto pela Corregedoria.
Suspeição
A maioria dos vereadores rejeitou o pedido de suspeição da relatora, feito por parte de Chistófaro, dizendo que ela seria parcial na análise.
Única mulher negra e periférica entre os integrantes da Corregedoria da CMSP, Elaine foi designada pelo Corregedor da casa, Gilberto Nascimento (PSC).
PSB desfilia vereador Camilo Cristófaro depois de fala racista
Polícia conclui inquérito
A Polícia Civil de São Paulo concluiu o inquérito sobre o caso, apontando que o fato foi presenciado por inúmeras pessoas e que “todos os depoimentos corroboram para a ocorrência de crime de Injúria Racial” por parte de Camilo Cristófaro.
Histórico
No último dia 3 de maio, Cristófaro foi flagrado pelos microfones do plenário principal da Câmara usando termos racistas numa conversa vazada durante a CPI dos Aplicativos.
Na frase, o vereador afirma que “não lavar a calçada…é coisa de preto, né?” (veja vídeo abaixo).
No mesmo dia, o vereador reuniu funcionários do gabinete dele que são negros, gravou um vídeo nas redes sociais dizendo que não é racista e disse se tratar de uma “fala lamentável”.
No vídeo, Cristófaro voltou a dizer que a frase “é coisa de preto, né?” estava fora de contexto e foi falada durante uma conversa com um amigo negro, mas que se trata de uma “brincandeira infeliz”.
“Eu tive uma fala lamentável, muito fora de contexto no momento que eu estava conversando com outra pessoa. E essa pessoa é uma pessoa afro, que é meu amigo e meu irmão. Nós estávamos brincando. E uma brincadeira infeliz”, afirmou.
Camilo Cristófaro convoca funcionários negros e diz que não é racista
“Eu nunca fui, não sou e nem nunca serei racista. Isso aprendi com meu pai, com a minha mãe, minha família e minha origem”, completou (veja vídeo acima).
A justificativa é seguida por depoimentos dos funcionários negros da equipe do parlamentar, que narram o dia a dia de trabalho com o vereador e as ações sociais dele nas comunidades da capital paulista.
CPI é interrompida em SP após voz de vereador dizer frase racista
Reação da oposição
A vereadora Luana Alves (PSOL), que participava da CPI dos Aplicativos na Câmara no momento em que o áudio vazou, afirmou que Cristófaro colocou os funcionários de gabinete em “situação completamente constrangedora” no vídeo.
“É muito comum as pessoas que cometem atos racistas, para se justificarem, colocam algum tipo de salvaguarda, a relação delas com pessoas negras. A relação de trabalho, amizade e parentesco. É uma pratica muito antiga do racismo e não isenta ninguém de ter tido uma atitude racista”, declarou a vereadora.
A vereadora Luana Alves (PSOL) ao lado das colegas de bancada na Câmara Municipal de São Paulo.
Afonso Braga/CMSP
“O que acontece é que ele colocou esses funcionários dele numa situação completamente constrangedora, numa situação terrível, já que existe uma relação hierárquica. É mais lamentável ele repetir o discurso feito no Colégio de Líderes no mesmo dia que aconteceu o fato, que já foi muito, muito terrível. Porque é não admitir, não repensar. Não parar e refletir que de fato foi racista e continuar negando”, completou.
União Brasil
O diretório do partido União Brasil em São Paulo também havia registrado uma queixa-crime contra Cristófaro no MP Paulista na última quarta (4).
Na representação assinada pelo deputado Alexandre Leite, filho do presidente da Câmara Municipal, Milton Leite, o partido chamou a frase de “criminosa e repugnante”.
“É lamentável e inaceitável a ocorrência do referido episódio racista em qualquer ambiente, sobretudo na Câmara Municipal de São Paulo, Casa da democracia, que deve acolher e zelar pelo respeito a todos. Infelizmente, o parlamentar é reincidente nesse tipo de conduta inadequada. Em 2019, chamou o Vereador Fernando Holiday (NOVO) de “macaco de auditório”, no plenário da Câmara Municipal de São Paulo”, declarou Alexandre Leite na representação ao MP.
Vereador Camilo Cristófaro dá duas versões diferentes para fala racista na Câmara de SP
Saída do PSB
Por causa do escândalo, o PSB, ex-partido de Camilo Cristófaro anunciou na quarta (4) que desfiliou o vereador da legenda, atendendo pedido do próprio parlamentar.
Segundo o partido, o pedido equivale a uma expulsão e foi tomado em comum acordo com as principais lideranças da legenda.
“No primeiro momento, a ideia era abrir o processo no Conselho de Ética para garantir o direto de defesa. Mas houve uma cobrança interna muito forte de membros do partido exigindo uma solução mais rápida. O próprio Camilo mandou uma carta no dia 28 de abril em pede o afastamento, e nela ele cita um artigo da Constituição que permite o desligamento com a anuência da direção do partido. Então aceitamos essa desfiliação. E juridicamente ela equivale ao processo de expulsão, então ele não faz mais parte do quadro do partido”, disse ao g1 Jonas Donizette, presidente estadual do PSB.
PSB desfilia vereador e colegas devem pedir punições, após fala racista na Câmara de São Paulo
Corregedoria e perda de mandato
A frase dita na CPI dos Aplicativos gerou uma investigação contra Cristófaro na Corregedoria da Câmara Municipal, a pedido dos vereadores do PSOL e também do presidente da Casa, Milton Leite (União Brasil).
A investigação pode culminar com a cassação do mandato do vereador.
Milton Leite defendeu pessoalmente a perda de mandato do colega e afirmou que o clima na Casa contra Cristófaro “não está bom para ele”.
“O fato é compatível com a pena máxima. O clima não está bom para ele”, afirmou Leite ao ser questionado sobre uma possível cassação de Cristófaro em plenário.
VÍDEOS: Tudo sobre São Paulo e região metropolitana
“Eu nunca fui, não sou e nem nunca serei racista. Isso aprendi com meu pai, com a minha mãe, minha família e minha origem”, completou (veja vídeo ai.
Deixe o Seu Comentário