Ano deve exigir forte esforço diplomático, em especial na organização e nas tratativas de duas cúpulas globais em solo brasileiro. Venezuela e visitas de chefes de Estado ao Brasil também devem ser pontos de atenção do Itamaraty. Lula em discurso em vídeo na cúpula dos Brics, em outubro de 2024 RU Host Photo Agency via REUTERS O Ministério das Relações Exteriores já se prepara para um forte esforço diplomático ao longo de 2025. Diplomatas brasileiros avaliarão que o próximo ano será marcado pela organização de duas cúpulas globais em território nacional — a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas e o encontro de chefes de Estado do Brics — e pelo compromisso em construir consensos no âmbito desses eventos. Para o Itamaraty, segundo fontes ouvidas pela TV Globo e pela GloboNews, o balanço das ações da política externa do Brasil em 2024 é considerado positivo. Um dos destaques foi justamente a realização de uma cúpula nas terras brasileiras, que reuniu líderes das maiores economias do mundo no Rio de Janeiro. Em 2025, os eventos globais que serão sediados no país deverão, na avaliação de diplomatas, exigir ainda mais esforços da diplomacia brasileira, especialmente com foco na postura de que grandes países emergentes deverão ter em matéria de compromisso ambiental. A política externa brasileira também deve ter olhar atento aos passos de atores e lideranças globais, que retornam, caso de Donald Trump, nos Estados Unidos, ou permanecem no poder, caso de Nicolás Maduro, na Venezuela. O acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia deverá ser outro ponto de atenção para o Itamaraty. Negociadores do governo brasileiro esperam que o acordo seja assinado até o final deste ano. Entre os componentes que devem ser alvo de discussão, estão as credenciais ambientais relevantes para o bloco europeu. Se em 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou o mundo, a diplomacia considera que, neste ano, foi a “vez do mundo para o Brasil”, em referência à cúpula dos líderes do G20. No próximo ano, a expectativa é que Lula adote uma agenda equilibrada, que alterne recepções de líderes mundiais com visitas a países. A maior parte das viagens do petista deverá ter ligação com as cúpulas que serão sediadas pelo Brasil. Serão, portanto, agendas com convites e costuras diplomáticas. Confira a seguir, nesta reportagem, os pontos de atenção da diplomacia brasileira para 2025 (clique para seguir ao conteúdo): COP 30 Brics China Viagens de Lula e visitas de Estado Relações com Estados Unidos e Venezuela COP 30 Belém se prepara para a COP30 com obras de mobilidade urbana Belém, capital do Pará, será sede da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. A COP 30 reunirá líderes globais entre os dias 10 e 21 de novembro. Apesar de celebrar a realização do evento no país, o governo brasileiro tem visto com preocupação a carga de demandas que a cúpula terá de resolver. Diplomatas ouvidos pela TV Globo e pela GloboNews destacam que tarefas escanteadas e não cumpridas pela COP 29, que aconteceu no Azerbaijão, em 2024, deverão iniciar a cúpula brasileira. “A carga sobre nós, sem dúvidas, ficou maior”, avaliou um diplomata envolvido na preparação do evento em Belém. O grande foco da conferência de Baku foi estabelecer uma meta e criar fundos para mitigar os danos causados pelas mudanças climáticas, principalmente nos países mais vulneráveis. O acordo, no entanto, ficou aquém do que se esperava. Com isso, segundo especialistas, o peso de retomar o debate e avançar em acordos para a preservação ambiental e climática será em todo o Brasil. Para o Itamaraty, a COP 30 poderá deixar como “grande legado” a renovação de compromissos com a redução das emissões de gases poluentes e o termo de debates que o Azerbaijão não concluiu. A construção desse “grande legado” deverá passar pela atuação direta do presidente Lula, de acordo com diplomatas. Ele deverá fazer viagens de campanha nos grandes países emissores, a exemplo da França, onde o petista pretende desembarcar em junho. Clique aqui para voltar ao início. Representantes de 35 países do Brics participam da reunião final da Cúpula dos BRICS Antes da COP 30, em julho, acontecerá a cúpula de líderes do Brics. O grupo é formado por cinco membros originais — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — e mais quatro países que aceitaram convites para integrar o bloco — Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos. O local do encontro ainda não foi oficializado, mas o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), anunciou que o evento acontecerá na cidade. Para analistas internacionais ligados ao governo, os principais desafios do Brasil presidindo o BRICS serão: trabalhar a imagem do bloco, muito associado à postura antiocidental; pautar o debate sobre a inteligência artificial; pautar o debate climático; e debater a questão humanitária dos palestinos. Outro tópico muito discutido pelos países que compõem o Brics é a adoção de uma moeda comum para realizar negociações sem o dólar (lembre-se da fala de Lula no vídeo abaixo). Cúpula do Brics: Lula defende nova moeda para negociações e crítica “neocolonialismo verde” Mas, segundo diplomatas, não está no horizonte da cúpula de 2025 ter como resultado a criação da moeda do bloco. “O Brics é um produto do século XXI. É muito pouco provável imaginar uma moeda do bloco comum que vá servir de alternativa ao dólar, na prática. É claro que isso não significa que não vá haver avanço no debate sobre o comércio entre países do bloco, um exemplo do que já ocorre com o Mercosul”, declarou um membro da política externa brasileira. Paralelamente ao Brics, o Brasil vai tentar uma cúpula do IBAS — realizando o Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul. 🔎O IBAS foi criado em 2003, mas perdeu força depois de a África do Sul entrar para o Brics em 2010. Agora, com a entrada de outros países no Brics, a percepção do Brasil é de que um retorno do IBAS faria mais sentido, até mesmo para que Brasil, Índia e África do Sul mostrem autonomia em relação à China. Para diplomatas, uma retomada do IBAS poderia significar uma espécie de contrapeso à China, já que o Brics ampliou a influência do Brasil e aumentou a avaliação de que o bloco é antiocidental, diante da agenda chinesa. Clique aqui para voltar ao início. China Lula e Xi Jinping assinam mais de 30 acordos de cooperação A avaliação dos membros do Itamaraty é de que a relação entre Brasil e China se intensifica ainda mais com a visita de Estado do presidente chinês, Xi Jinping, a Brasília (lembre no vídeo acima). O país asiático já é o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009. E, segundo diplomatas, os contatos mais recentes abriram caminhos para que os dois países ampliem a parceria também nas áreas de investimentos e de ciência e tecnologia. Clique aqui para voltar ao início. Viagens de Lula e visitas de Estado Lula embarcam em viagem para a Europa Ricardo Stuckert/PR As agendas internacionais de Lula ainda não foram definidas, mas já há uma expectativa para alguns compromissos. Em fevereiro, Lula receberá a visita do primeiro-ministro e do presidente de Portugal, que virão ao Brasil para a Cimeira Luso-Brasileira. O mesmo compromisso aconteceu em fevereiro de 2023, com a visita de Lula a Lisboa. No fim de março, o presidente Lula pretende viajar até o Japão, com a possibilidade de uma parada no Vietnã. ➕ O Vietnã está entre os países que foram convidados a integrar o Brics como Estados parceiros do bloco. A ida de Lula aos dois países deverá ser focada na agenda climática, nos convites para as duas cúpulas sediadas no Brasil e outros assuntos, como o comércio exterior. Em maio, o Brasil deverá receber a visita de um presidente de país africano, durante as celebrações do Dia da África. No mês seguinte, o Canadá sediará a cúpula dos líderes do G7 — grupo que reúne as sete maiores economias do mundo. Lula poderá ser convidado. Ainda em junho, o presidente do Brasil poderá ir à França para participar da Conferência Oceânica das Nações Unidas (UNOC 2025) e se reunir com o presidente Emmanuel Macron. Clique aqui para voltar ao início. Relações com Venezuela e Estados Unidos Montagem com as fotos de Nicolás Maduro (à esquerda), Lula (ao centro) e Donald Trump (à direita) Leonardo Fernandez Viloria/Reuters (Maduro), Ricardo Stuckert/Presidência da República (Lula) e Win Mcnamee/Getty Images via AFP (Trump) Em 10 de janeiro, Nicolás Maduro será reempossado como presidente da Venezuela, depois de um processo eleitoral questionado. O governo brasileiro não informou oficialmente o resultado, e a relação entre os países sofreu abalos. O Brasil tem cobrado a apresentação de atas eleitorais — uma espécie de boletim das urnas — para comprovar a vitória de Maduro. Os órgãos venezuelanos, no entanto, jamais apresentaram documentos que atestam a derrota do adversário de Maduro, Edmundo González, hoje exilado na Espanha. Tensão em alta: Brasil envia comunicado à Venezuela Ao longo de 2024, com o estremecimento na relação, foram registradas ofensas do governo Maduro a Lula e seus assessores, além de ameaças à diplomacia brasileira (relembre no vídeo acima). Segundo fontes ouvidas pela TV Globo e pela GloboNews, como resposta, se convidado, o Brasil só será representado na posse pela embaixadora do país em Caracas, Glivânia Maria de Oliveira. Na avaliação de diplomatas brasileiros, o Brasil tem como desafio encontrar espaço para, mesmo que com uma relação fria como aposta, manter o máximo de portas abertas para um diálogo diplomático com a Venezuela. “O resultado eleitoral não foi o que o Brasil esperava, apesar das nossas tentativas para normalizar a situação. Mas o mais importante neste processo foi ter mostrado a Maduro que há um custo político grande em não respeitar observadores externos com o Brasil”, afirmou um membro do Itamaraty. Apesar de a diplomacia de Lula apostar no multilateralismo, que passa pela integração regional da América, nos Estados Unidos, a agenda do futuro presidente norte-americano irá na direção oposta. Donald Trump retornará à Casa Branca a partir de 20 de janeiro. Não é costume, no governo dos Estados Unidos, ter na posse a presença de chefes de Estado de outros países, apesar de Trump ter feito convites a alguns presidentes alinhados com o seu pensamento. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deve ir à cerimônia, que acontece na capital americana, Washington. O Brasil espera uma relação agressiva de Trump para com a América Latina, especialmente após a nomeação do senador da Flórida Marco Rubio como secretário do Departamento de Estado. ➕ Rubio é filho de imigrantes cubanos e tem histórico de falas e posições agressivas em relação à América Latina. A cautela brasileira recai sobre a possibilidade de Trump adotar postura agressiva demais na região, tentando influenciar na derrubada de governos. Para a diplomacia brasileira, o ponto primordial para aproximar a relação entre os dois presidentes será o trabalho da embaixada brasileira em Washington. O Brasil também sabe que enfrentará divergências com o governo americano nos debates climáticos, que deverão nortear a agenda internacional brasileira em 2025. Em razão disso, o governo brasileiro está atento à escolha de quem será o embaixador dos EUA em Brasília e aos sinais que Trump irá à extrema-direita brasileira. Apesar dos atributos, diplomatas destacam que alguns pontos podem trazer uma chance de aproximação no diálogo, como a capacidade dos dois países na produção de energia renovável e fóssil, além do interesse mútuo nos biocombustíveis, o Brasil a partir do Canadá e os EUA a partir do milho. Clique aqui para voltar ao início.
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