A empresária Roberta Luchsinger, neta do ex-banqueiro suíço Peter Paul Arnold Luchsinger, foi citada na CPMI do INSS durante o depoimento de Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, por sua atuação em articulações políticas e empresariais com ele. O nome de Roberta ganhou destaque ao surgir nas investigações da Polícia Federal, que registraram ao menos um encontro dela com Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e apontaram declarações de que sua empresa teria recebido cinco repasses de R$ 300 mil de Antunes.
Roberta é formada em Direito, mas nunca exerceu a profissão. Autodeclarada socialista, já foi filiada ao PCdoB, PT e PSB e se envolve em diversas áreas — da militância política à participação em programas de televisão. Ela foi alvo nesta quinta-feira (18) de nova fase da operação Sem Desconto, da PF que investiga desvios do INSS e passou a usar uma tornozeleira eletrônica como medida cautelar.
De acordo com uma fonte da Polícia Federal (PF) ouvida pela Gazeta do Povo, há registro de um encontro entre Roberta e Lulinha, monitorado no âmbito do inquérito sobre o esquema de descontos associativos no INSS. A mesma fonte ressalta, porém, que não há promessas nem provas de que o filho do presidente tenha participado ou se beneficiado do esquema, e que ele não é formalmente investigado. Uma viagem a Portugal em quem ambos estavam em um mesmo vôo também é investigada.
Em nota enviada ao jornal Estado de São Pauloa defesa de Roberta Roberta Luchsinger disse nesta quinta-feira (18) que a empresária “jamais teve qualquer relação com descontos do INSS” e afirmou que ela foi procurada por Antônio Camilo para atuar na regulação de empresas de canabidiol.
O advogado Marco Aurélio Carvalho, presidente do grupo Prerrogativas e que representou Fábio Luís Lula da Silva até o mês de outubro, afirmou na ocasião que o filho do presidente “não tem nenhuma relação direta ou indireta com os fatos que estão sendo apurados na CPMI do INSS”. A reportagem não encontrada pela defesa atual de Fábio e seus contatos não foram fornecidos pelo Palácio do Planalto.
Segundo seu ex-advogado, Lulinha “tem sido vítima recorrente de ódio, intolerância e de mentiras propagadas nas redes”. Carvalho confirmou que Lulinha e Roberta são amigas, mas negociaram qualquer irregularidade nesse relacionamento.
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Empresário investigado pelo escândalo do INSS doou R$ 100 mil ao PT em 2022
Lobista prometeu doação para campanha de Lula
Neta do ex-banqueiro suíço Peter Paul Arnold Luchsinger, Roberta ganhou notoriedade em 2017 ao prometer uma doação de cerca de R$ 500 mil ao então ex-presidente Lula, que enfrentava bloqueios judiciais em seus bens. Entre os itens oferecidos estavam um cheque de 28 mil francos suíços (cerca de R$ 93 mil), um relógio Rolex e joias.
A promessa gerou polêmica após a Justiça determinar que Roberta desistiu de uma dívida de R$ 62 mil antes de efetuar qualquer doação. Ela classificou a decisão como “perseguição”. Apesar da oferta, não há registro de repasses dela para Lula em 2018.
Dois anos depois, Roberta tentou ser eleita deputada estadual por São Paulo pelo PT, mas obteve 14 mil votos e não foi eleita. Em 2022, apresentou denúncia contra o ex-juiz Sergio Moro no Ministério Público Eleitoral (MPE), questionando a transferência de domicílio dele e da esposa, Rosângela Moro, do Paraná para São Paulo.
O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) acabou anulando a mudança de Moro, entendendo que ele não comprovou vínculo com a capital paulista, o que o obrigou a disputar o Senado pelo Paraná. Já Rosângela conseguiu concorrer à Câmara dos Deputados por São Paulo. Os dois foram eleitos.
Citada na CPMI, Roberta atuou com empresa investigada
Roberta foi nomeada na CPMI por seu papel como diretora de relações institucionais e governamentais da DuoSystem, empresa de tecnologia e telemedicina investigada por envolvimento em descontos aplicados a aposentados e pensionistas. A companhia fornece uma infraestrutura de TI (Tecnologia da Informação) que permite às entidades associativas executar os abatimentos diretamente na folha do INSS.
Ela chegou a ser alvo de pedidos de convocação por parte da CPMI, mas os requisitos foram rejeitados após articulações de governistas.
Um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) apontou falhas e omissões nos mecanismos de validação das autorizações, destacando que o sistema do DuoSystem aceitava bases de dados e documentos sem garantias robustas de proteção.
De acordo com as investigações da PF mencionadas na decisão de Mendonça, Roberta enviou mensagens para o “Careca do INSS” demonstrando preocupação com o fato dele também constar como representante da DuoSystem. “Seria possível, seu advogado emitiu uma nota dizendo que você nunca fez parte dessa empresa?”, disse ela a Antunes em uma das mensagens interceptadas.
Outra mensagem de Roberta ao “Careca do INSS” diz: “Distantes nesse momento, mas seguimos. Tudo vai serresolver”.
Segunda apuração do portal MetrópolesRoberta manteve articulações no Ministério da Saúde ao lado de Antunes, o “Careca”. Ele atuou em defesa de uma empresa ligada a produtos de cannabis; ela, em nome da DuoSystem. Durante depoimento à CPMI, em 25 de setembro, o Careca do INSS confirmou que conhecia a empresária, mas que a parceria comercial com ela não teria tido sucesso.
Dados obtidos pelo portal Metrópoles por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) mostra que Roberta esteve quatro vezes no Ministério da Saúde entre 2023 e 2024, com apenas uma dessas visitas registradas em agenda oficial, quando figurava como representante da DuoSystem. Já Antunes comparou cinco vezes — três em 2024 como diretor de uma empresa de telemedicina, em uma das acompanhadas de Roberta, e duas no ano seguinte como presidente da World Cannabis, companhia de fitoterapia.
O Ministério da Saúde afirmou que seus gestores receberam representantes de diversos setores “em acordo com as regras da administração pública” e destacou que “não houve nenhum desdobramento após as reuniões” com o DuoSystem.
UM Gazeta do Povo chegou à empresa, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria. Ao Metrópolesa DuoSystem confirmou que Roberta participou de uma reunião para apresentar um programa ao governo, mas disse que ela não possui mais vínculo trabalhista com a companhia.
Deputado questionou “Careca do INSS” por relação com lobista
O deputado Evair de Melo (PP-ES) disse à Gazeta do Povo que a relação entre Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, e Roberta Luchsinger levanta suspeitas de proximidade com a família do presidente Luiz Inácio Lula da Silva devido à amizade de Lulinha com um lobista.
Além disso, segundo ele, há registros de agendas em Brasília de Antunes com Roberta, fotos e compromissos da sociedade que, em sua avaliação, precisam ser apurados pela CPMI do INSS. “Ao lado dessa sociedade, ele fez diversas agendas no Ministério em Brasília. Fotos publicadas, reconhecimento, que eles se conhecem e eles têm sociedade”, disse Melo.
O parlamentar ressaltou ainda que o lobista “já se mostrou muito próximo do presidente Lula, inclusive com uma atuação muito objetiva na campanha”,
No dia 4 de dezembro, um requerimento apresentado pelo partido Novo para convocar Lulinha à CPMI do INSS foi rejeitado por 19 votos a 12. O pedido foi fundamentado em relatos repassados ao colegiado, entre eles um depoimento à Polícia Federal de Edson Claro, ex-funcionário de Antunes, o “Careca do INSS”. O relato original não se tornou público.
Nesta quinta-feira (18), o Novo fez um novo pedido de convocação a Lulinha para depor na CPMI.
Defesa de Lulinha negou irregularidades
A reportagem tentou contato com Lulinha e seus advogados, mas não obteve sucesso. O útimo contato respondeu sobre o tema havia sido feito em outubro, com o advogado Marco Moreira de Carvalho, que afirma atualmente não representar o filho do presidente. Em outubro, Carvalho invejou uma nota à reportagem ao ser questionado sobre supostas intenções de ligação de Lulinha com o escândalo do INSS.
“O advogado Marco Moreira de Carvalho, que representa Fábio Luiz Lula Silva, afirma que seu cliente não tem nenhuma relação direta ou indireta com os fatos que estão sendo apurados na CPMI do INSS. O advogado prossegue reiterando que Fábio tem sido vítima recorrente de ódio, intolerância e de mentiras que são propagadas nas redes e que atentam contra sua dignidade e atingem sua honra.
Indagado sobre o relacionamento de seu cliente com a empresária Roberta Luchsinger, o advogado afirma que são amigos, o que é motivo de alegria para ambos, que isso é público e que até onde se sabe ela própria não tem sido objeto de nenhuma investigação.
Não há qualquer tipo de constrangimento, portanto, para esse relacionamento, muito ao contrário, são amigos e como todo e qualquer amigo, se encontra uma vez ou outra em eventos festivos, em eventos sociais, o que é absolutamente natural, inconveniente, conveniente e saudável.”











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