A CPMI do INSS, instalada para investigar um esquema bilionário de fraudes em descontos indevidos aplicados a aposentados e pensionistas, tornou-se o centro de uma disputa política envolvendo o nome do filho mais velho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha. Na terça-feira (16), deputados da oposição acusaram governantes de blindar o filho do presidente mesmo diante de possíveis evidências de uma viagem a Portugal que Lulinha teria feito com Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”.
Embora ele não tenha sido investigado pela Polícia Federal e não haja provas documentais conclusivas sobre seu envolvimento, novos relatos e depoimentos à PF, planejados à CPMI, passaram a mencioná-lo como possíveis beneficiários de valores repassados por operadores do esquema. UM Gazeta do Povo tenta, há pelo menos três semanas, contato com Lulinha e sua defesa, mas sem sucesso. O espaço segue aberto às manifestações
No dia 4 de dezembro, um requerimento apresentado pelo partido Novo para convocar Lulinha à CPMI do INSS foi rejeitado por 19 votos a 12. O pedido foi fundamentado em relatos repassados ao colegiado, entre eles um depoimento à Polícia Federal de Edson Claro, ex-funcionário de Antunes, o “Careca do INSS”, apontado pela PF como o principal operador do esquema e preso desde setembro. O relato original não se tornou público.
Apesar da pressão da oposição, a base do governo classificou a iniciativa como “sem propósito” e denúncias “sem tentativas”, nas palavras do deputado Paulo Pimenta (PT-RS). A convocação, no entanto, deve continuar sendo debatida em 2026 na comissão, que tem usado informações parciais compartilhadas pela PF para embasar novos requisitos.
Os documentos são sob sigilo, mas fontes ligadas às operações afirmam que o nome de Lulinha teria aparecido como um suposto beneficiário do “Careca do INSS” em coleta de recursos monetários de acordo com denúncias de Claro, apesar de Lulinha não estar entre os alvos.
Ao Poder360, O ex-advogado de Lulinha e amigo dele, Marco Aurélio Carvalho, afirmou que as acusações são “pirotécnicas e improváveis”, e que representam mais uma tentativa de destruir sua imagem.
Nesta terça-feira (17), os deputados Luiz Lima (Novo-RJ) e Zé Trovão (PL-SC) cobraram explicação da bancada governista sobre a recusa da convocação de Lulinha para prestar depoimento na CPMI. Eles citaram uma reportagem do portal Metrópoles que afirmou que o filho do presidente e o “Careca do INSS” viajaram para Portugal num mesmo voo. Isso seria, na visão deles, um apelo que justifica a convocação de Lulinha para dar explicação.
UM Gazeta do Povo fez um pedido de entrevista com o ex-advogado de Lulinha, mas ele não respondeu. Já a defesa de Antunes afirmou não conhecer as informações e preferiu não comentar a suposta ligação do cliente com Lulinha.
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As acusações: “mesada” e viagens
Segundo relatos de Edson Claro à PF, que a segunda reportagem apurou já encontrada em cerca de mil páginas de documentos, conversas em aplicativos de trocas de mensagens entre textos e áudios, Lulinha apresentou recebimento de pagamentos mensais próximos de R$ 300 mil, descritos como uma espécie de “mesada”. A denúncia foi publicada originalmente pelo portal Poder360 com base em informações da testemunha à PF e que foram levadas aos integrantes da CPMI.
O montante total movimentado poderia alcançar R$ 25 milhões. Ainda segundo o depoimento, o filho do presidente Lula e o “Careca do INSS” realizaram viagens juntos para Portugal — uma delas, segundo o depoente, teria sido um voo de Guarulhos para Lisboa, em novembro de 2024.
Segundo as apurações, mensagens de WhatsApp reunidas pela investigação citariam Lulinha de forma recorrente, às vezes como “nosso amigo”. Em algumas conversas, interlocutores demonstraram preocupação com a associação pública entre ele e negócios de uma empresa do setor de cannabis.
Até o momento, porém, a PF não concordou com a participação do filho do presidente no núcleo central das fraudes do INSS, e parte da corporação considerou frágeis os compromissos apresentados.
Informações compartilhadas com a comissão que envolve Câmara e Senado, e confirmadas pela reportagem, indicam que existe uma divisão dentro da Polícia Federal sobre como avançar na linha que cita Lulinha. Uma ala defende aprofundar rapidamente as apurações sobre a relação de Lulinha com o Careca do INSS enquanto outra afirma que há apenas menções indiretas e que seria precipitado adotar medidas mais drásticas antes de reunir provas mais robustas.
Esse impasse tem sido usado pela base do governo para questionar pedidos de convocação e de quebra de sigilos, enquanto oposicionistas afirmam que a resistência demonstra tentativa de blindagem de Lulinha.
As instruções mencionadas na CPMI
Diversos documentos, em posse de membros da CPMI e da PF, mostravam que figuras investigadas na fraude que desviou bilhões de aposentados e pensionistas tinham relação direta ou indireta com pessoas próximas a Lulinha: entre elas estariam a empresária Roberta Moreira Luchsinger, que mantinha tratativas com o “Careca do INSS” sobre negócios de canabidiol. Roberta apareceria em viagens de avião realizadas com Lulinha em 2024 e 2025, algumas delas com o mesmo código localizador — o que indicava reservas feitas em conjunto. Ela negou qualquer relação com fraudes do INSS e diz que seus contatos com o Careca se limitaram a tratativas sobre regulação do setor de canabidiol — que não prosperaram.
Segundo fontes ligadas às investigações, a PF apura se recursos desviados foram enviados ao exterior para estruturar negócios internacionais relacionados à venda de canabidiol.
Apesar das coincidências temporais e das relações entre pessoas citadas na investigação, nenhuma prova direta foi apresentada que vincule Lulinha à “Farra do INSS” ou sua ligação com o “Careca do INSS”.
Quem é Lulinha e seu histórico de polêmicas
Fábio Luís é formado em Biologia, trabalhou como estagiário de zoológico e iniciou carreira no setor de tecnologia. Nos anos 2000, tornou-se sócio de uma empresa de jogos eletrônicos e tecnologia e desde então seu nome é alvo recorrente de controvérsias relacionadas a negócios privados e proximidade com grupos empresariais.
Os principais episódios incluem uma denúncia do Ministério Público Federal em 2019, que o acusou de obter vantagens de uma empresa de telefonia de 2004 a 2016. Ele sempre negou envolvimento em quaisquer irregularidades.
Seu nome voltou à cena na Lava Jato, em 2020, em uma apuração de repasses superiores a R$ 100 milhões para empresas envolvidas ligadas a ele, mas o caso foi arquivado posteriormente.
Em julho deste ano, período que coincidiu com o avanço das investigações sobre a fraude no INSS, Lulinha teria se mudado para a Espanha. UM Gazeta do Povo solicitou seus contatos à Presidência da República e à assessoria do presidente Lula, mas não obteve retorno.
A Presidência da República também não informou se procede à informação de que Lulinha só pretende regressar ao Brasil depois do fim do mandato do pai, no fim de 2026.
Para o deputado federal Paulo Pimenta, a oposição usa “acusação sem provas” para gerar fatos políticos. Já o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) convocou de vergonhosa a votação para barrar a convocação de Lulinha na CPMI do INSS e disse se tratar de mais uma tentativa de obstrução do governo. “Mais um absurdo desse governo da corrupção”, destacado.
Para o senador Sergio Moro (União-PR), é preciso apurar se essas ligações entre Lulinha e o “Careca do INSS” são verdadeiras. Ele defende a convocação de Claro e Lulinha para depor à CPMI. “É evidente que o governo, que não queria essa CPMI, vai tentar cega-lo, mas nós da oposição vamos seguir tentando convocar ambos”.
O que falta é claro
A CPMI e a PF ainda procuram responder a questões centrais. A maior parte dos documentos, principalmente os enviados pela Receita Federal e o Coaf à CPMI, estão sob sigilo. A PF não comenta investigações em curso.
Para parlamentares da oposição, é essencial que as investigações respondam qual é a natureza real da relação entre Lulinha e o “Careca do INSS”; se houve, de fato, repasses financeiros e em que montantes; se alguma de suas empresas foi usada sem esquema; se as viagens destinadas tivessem motivação profissional, pessoal ou empresarial; e há documentos que sustentam a existência de uma sociedade formal com Antunes.
“Por ora, o que existe são fingidos fragmentados, testemunhos controversos e relações pessoais e empresariais ainda pouco esclarecidas — um conjunto que mantém o tema vivo no debate público, mas sem conclusões definitivas”, afirma o criminalista Márcio Nunes.
Outro lado
Em outubro, quando ainda intregrava a defesa de Lulinha, o advogado Marco Moreira de Carvalho disse à Gazeta do Povo que o filho de Lula não tem nenhuma relação com os fatos apurados na CPMI. Confira abaixo a nota enviada à reportagem daquela época.
“O advogado Marco Moreira de Carvalho, que representa Fábio Luiz Lula Silva, afirma que seu cliente não tem nenhuma relação direta ou indireta com os fatos que estão sendo apurados na CPMI do INSS. O advogado prossegue reiterando que Fábio tem sido vítima recorrente de ódio, intolerância e de mentiras que são propagadas nas redes e que atentam contra sua dignidade e atingem sua honra.
Indagado sobre o relacionamento de seu cliente com a empresária Roberta Luchsinger, o advogado afirma que são amigos, o que é motivo de alegria para ambos, que isso é público e que até onde se sabe ela própria não tem sido objeto de nenhuma investigação.
Não há qualquer tipo de constrangimento, portanto, para esse relacionamento, muito ao contrário, são amigos e como todo e qualquer amigo, se encontra uma vez ou outra em eventos festivos, em eventos sociais, o que é absolutamente natural, inconveniente, conveniente e saudável.”
Como foi considerado, a Gazeta do Povo Tentei contato com Lulinha em dezembro, mas não foi possível localizá-lo nem seus representantes legais. O espaço segue aberto para manifestações.











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