
A escolha de Jair Bolsonaro pelo nome do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) para disputar a Presidência em 2026 mobilizou ala fiel ao ex-presidente e acelerou a reorganização da direita, mas expôs, ao mesmo tempo, a falta de consenso no campo conservador. Flávio oficializou a escolha nesta sexta-feira (5), afirmando ter recebido do pai a “missão” de dar continuidade ao projeto político iniciado em 2018.
Enquanto os aliados reforçam apoio imediato aos herdeiros políticos de Bolsonaro, partidos do Centrão e parte do próprio PL avaliam que o senador não tem força para unificar o bloco e insistem que os governadores Tarcísio de Freitas (SP) e Ratinho Junior (PR) obtenham mais viáveis para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições.
O anúncio ocorre em meio às discussões sobre as alianças de direita, que se intensificaram após Jair Bolsonaro ser preso e impedido de disputar eleições por conta das condenações no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Desde então, aliados disputaram o capital político do ex-presidente, que ainda exerce forte influência sobre o eleitorado conservador.
A declaração de Flávio foi rapidamente atualizada pelos parlamentares mais próximos ao ex-presidente no Congresso Nacional. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou que “Bolsonaro falou, está falado”, numa tentativa de consolidar o nome do senador como escolha oficial do partido. O deputado Mario Frias (PL-RJ) manifestou apoio imediato, enquanto o ex-ministro Fabio Wajngarten reforçou que a decisão de Bolsonaro é “soberana” e merece “lealdade incondicional”.
O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), reagiu com dureza às resistências do Centrão: “Vamos livrar o Brasil do PT! É hora do Centrão se posicionar — ou vão abandonar Jair Bolsonaro como abandonaram até agora e não ajudaram a pressão para votar a anistia?”. Já o líder da oposição na Câmara, Luciano Zucco (PL-RS), avaliou que o gesto deve unificar o campo conservador. “Nossa missão para 2026 é uma só: manter a oposição unida e devolver o Brasil ao caminho da responsabilidade, da liberdade e da prosperidade.”
O vice-líder da Minoria, Gustavo Gayer (PL-GO), afirmou: “Nosso líder maior decidiu e receber com muita alegria a notícia de que Flávio Bolsonaro é o nome de Jair Bolsonaro para nos representar em 2026. Estamos juntos, Flávio!”. O deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS) declarou: “Qualquer candidato indicado por Jair Bolsonaro já nasce no segundo turno. A direita unida vai derrotar o PT e o Lula.”
Também membro da bancada do PL, o deputado Sanderson (RS) disse que a escolha simboliza a continuidade do projeto bolsonarista. Já o deputado Coronel Tadeu (PL-SP) avaliou que a direita chega mais organizada. “A decisão vem em boa hora. A direita está madura, unida e com um nome forte para enfrentar o PT”, disse.
No Senado, o apoio foi reforçado pelo líder da oposição, Rogério Marinho (PL-RN). “O presidente Jair Bolsonaro nos orienta que o candidato será o senador Flávio Bolsonaro. Estaremos juntos na construção de um projeto que representa os valores do povo brasileiro. Flávio, conte comigo!”, defendeu.
Partidos do Centrão resistem ao nome de Flávio Bolsonaro
Apesar da mobilização da bancada próxima do ex-presidente Bolsonaro no Congresso em apoio ao nome de Flávio, os líderes do Centrão permanecem céticos sobre a previsão da candidatura. Conforme apurou a reportagem, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), já foi informado da decisão.
Flávio comunicou o movimento em duas viagens a São Paulo nesta semana — na segunda (1º) e na quinta (4) — em gesto interpretado como tentativa de evitar ruídos com o governador, considerado por muitos o nome mais competitivo da direita. Antes da confirmação, o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), afirmou ao portal Poder360 que “apenas Tarcísio e Ratinho Junior (PSD) estabelecem condições de união do campo do centro com a direita”.
Sob reserva, membros de partidos como PSD, União Brasil e Republicanos avaliam que Flávio não tem densidade eleitoral suficiente. No União Brasil, por exemplo, o presidente nacional, Antônio Rueda, divulgou nota apagando a sigla da lógica da polarização.
“Em 2026, não será uma polarização que construirá o futuro, mas a capacidade de unir forças em torno de um projeto sério e responsável”, declarou. Ele quer que o partido dialoge com diferentes setores e construa uma agenda ampla e pragmática.
A escolha de Bolsonaro também surpreendeu uma ala do PL que defendeu Michelle Bolsonaro como vice “imbatível”. O ex-presidente, porém, tem insistido que prefere o filho, reforçando Flávio como seu sucessor político mais preparado.
Governo Lula minimiza movimento da família Bolsonaro e mercado reage
Enquanto parte da direita comemorou a escolha, no governo a ocorrência foi de ironia. O líder do Executivo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou que a escolha mostra “nada de novo”. “Estamos prontos e preparados para derrotá-lo”, disse o petista.
Já o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), tomou a decisão de tentativa do “bolsonarismo de manter o protagonismo, não como ameaça ao projeto de reeleição de Lula”. “Sabemos que é praticamente impossível derrotar o Lula, mas queremos manter o protagonismo da oposição para o futuro”, disse.
Para Lindbergh, uma candidatura de Tarcísio seria mais danosa ao clã Bolsonaro. “Os marqueteiros do Tarcísio e do Centrão iriam trabalhar para derrubar Bolsonaro. Ele seria esquecido na prisão.” E concluiu: “Para nós, o nome do candidato é indiferente. O Lula vai ser reeleito presidente porque a vida do povo está mudando.”
Ainda do lado governista, o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Cappelli (PSB), ironizou a resistência do Centrão. “O Centrão vai gritar? E vai pra onde? Quantos votos possuem Rueda, Ciro Nogueira e cia.? A Faria Lima tá com dor de barriga? Não encham uma Kombi com eleitores”, disse.
Cappelli, no entanto, alertou para “possíveis vetores externos contra a candidatura de Lula”. “O presidente Lula se torna ainda mais favorito, mas é sempre bom ter atenção com dois vetores: segurança pública e Trump sentado na sala de comando das Big Techs”, disse.
Para analistas, o gesto de Bolsonaro tem menos relação com formalizar uma candidatura e mais com reafirmar sua influência no campo conservador. O cientista político Erich Decat, da Warren Investimentos, avalia que o anúncio funciona como recado direto ao Centrão. “Este gesto parece muito mais uma mensagem política do que um passo real rumo à sucessão”, disse.
Além dos líderes do Centrão, a escolha de Flávio provocou um fato negativo no mercado financeiro. A Bolsa de Valores de São Paulo, que se valorizou pela manhã, passou a cair e, por volta das 15h, registrou queda de quase 2%. A maioria dos analistas e operadores do mercado financeiro vê com bons olhos uma candidatura de direita que não seja homologada ao ex-presidente Bolsonaro.
Além da desvalorização da Bolsa, o dólar fechou na sexta com alta de 2,31%. A moeda americana estava cotada em R$ 5,43, o maior valor desde 16 de outubro.
“Flávio fez o seu teste, ganhou seus minutos e a bolsa brasileira reagiu negando seu nome. Dólar subindo, bolsa caindo. Para mim, nada muda e continua Tarcísio sendo o favorito na corrida eleitoral e, caso ele desista, Ratinho Junior”, disse Anderson Nunes, analista político e especialista em Gestão Pública.











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