
Assista ao trailer de ‘Foi apenas um acidente’ Não é todo mundo que consegue usar de leveza e humor para retratar uma história tão dura e tão pessoal como o premiado cineasta iraniano Jafar Panahi faz em “Foi apenas um acidente”. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, em maio, o filme é provavelmente o melhor de 2025 com alguma folga, inspirado nos próprios dias de cárcere do diretor. Perseguido e censurado pelo regime de seu país por expor os absurdos do autoritarismo, Panahi foi condenado mais uma vez a um ano de prisão por “propaganda” contra o governo do Irã nesta segunda-feira (10). Pode ter sido apenas um acidente, mas a mistura de thriller angustiante com comédia quase pastelona estreia menos de quatro dias depois, nesta quinta-feira (14), nos cinemas brasileiros – como um dos principais concorrentes do nacional “O agente secreto” na categoria internacional do Oscar. Se tudo isso não for suficiente para motivar a compra do ingresso, vale um último aviso. “Foi apenas um acidente” tem um dos finais mais poderosos dos últimos anos, aqueles em que cada nova interpretação gera arrepios ainda mais profundos. Mohamad Ali Elyasmehr, Majid Panahi e Hadis Pakbaten em cena de ‘Foi apenas um acidente’ Divulgação Cavalo de Tróia No roteiro de Panahi, um grupo de antigos prisioneiros do regime iraniano se junta para descobrir se um desconhecido é, afinal, o agente que os torturou no passado – e, principalmente, o que fazer com ele. Para gravá-lo sem autorização do Estado – motivo também pelo qual “Foi apenas um acidente” é o selecionado da França para o Oscar –, o diretor armou um esquema de guerrilha, não qual acompanhava seus espectadores com uma equipe enxuta e ágil para evitar fiscalização e policiais. Já a inspiração para a trama saiu dos quase sete meses em que esteve preso – ele foi liberado em fevereiro de 2023, após o início a uma greve de fome e se tornar símbolo da repressão a artistas que criticam o poder no país, mas já falou mais de uma vez que ainda ouve como vozes de seus captores. Daria até para entender que um filme do tipo saiu sisudo ou até maçante. Mas o cineasta esconde sua suposta reflexão sob camadas pesadas dos personagens mais carismáticos do planeta. Cada novo integrante adiciona mundos inteiros escondidos dentro de si – o que, por sua vez, cria novas dinâmicas que impossibilitam qualquer tipo de previsão sobre os rumores da trama. O diretor tem muito crédito pela comédia vista pelo Ocidente no filme a diferenças culturais, mas é inegável que a humanidade de seus protagonistas e a inocência como encaram o absurdo de sua situação criam possibilidades quase infinitas de humor. Mariam Afshari, Mohamad Ali Elyasmehr, Majid Panahi, Hadis Pakbaten e Vahid Mobasseri em cena de ‘Foi apenas um acidente’ Divulgação A virada A graça da superfície, no entanto, fica sempre assombrada meio que lá no fundo por uma tensão constante. Mais do que apenas uma incerteza sobre o destino do investigado, há também uma sombra constante de uma intervenção voluntária das autoridades. Por isso, não dá para chamar o confronto final de uma grande surpresa, mas a forma como Panahi o enquadramento, sob a luz vermelha dos retratos traseiros da van (ela em si um grande personagem da trama), faz a sequência das mais perturbadoras dos últimos anos. Ela só consegue ser superada mesmo nos últimos 3 minutos do filme, que promete acompanhar o público por dias. As duas cenas, em contraste, provam o poder que as palavras podem ter nas mãos de um grande roteirista – e o efeito devastador do silêncio. Cartela revisão crítica g1 Arte/g1
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